Em meio ao otimismo que tomou conta dos mercados nos últimos dias, investidores estrangeiros começam a dar sinais de retorno à Bolsa de Valores brasileira. De acordo com dados da B3, em novembro, até o último dia 9, a compra de papéis por operadores do exterior superou as vendas, resultando em um saldo positivo de R$ 7,8 bilhões. Se a tendência for mantida, será alterado o cenário que prevaleceu durante todo o ano, marcado pela debandada dos estrangeiros em busca de opções consideradas mais seguras.
Entre janeiro e outubro, investidores do exterior haviam retirado R$ 64,2 bilhões do mercado brasileiro de ações. Mesmo assim, mantinham alta participação na Bolsa, com 47,7% do volume de negócios. Entre 3 de e 10 de novembro, no entanto, o risco-país do Brasil caiu cerca de 22%, apontando maior segurança para investimentos feitos aqui.
Segundo especialistas, por se tratar de uma economia emergente e com bom upside — termo utilizado quando há propensão de valorização —, o Brasil, normalmente, é alvo de investidores que buscam obter ganhos em um curto espaço de tempo, explica Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.
Para Franchini, o país tem dificuldades de se mostrar um lugar rentável com riscos razoáveis. “Em mercados desenvolvidos, o upside não é tão grande, e os preços são justos. O problema é que o país tem de se mostrar capaz de receber esses investimentos a médio e longo prazo. Normalmente, os investidores vão embora tão logo alcançam as metas de rentabilidade”, disse.
Ele também afirma que os problemas fiscais do país sempre pesam nas decisões de quem decide vir para cá. Mas, em um cenário de crise, com ações mais baratas, há oportunidades. “É um grande problema, não dá pra ignorar isso. Mas o investidor vê que comprar ações aqui está saindo barato. Em 2015, por exemplo, tínhamos um cenário de crise bem problemático e o investidor enxergou chances de crescimento. No atual momento, o mundo está otimista. É natural que isso reflita aqui”, explica.
Lucas Feitosa, especialista de renda variável da XP Investimentos, concorda com a análise e também acredita que o movimento é pontual. “Não acredito que seja uma tendência. A gente vive em um clima de incerteza com os gastos públicos, essa questão fiscal. Muita coisa precisa acontecer até que haja, de fato, uma tendência de reentrada”, afirmou.
Feitosa destacou ainda os conflitos políticos envolvendo o governo e explicou que isso é visto com maus olhos por estrangeiros. “Paulo Guedes falou, esta semana, sobre privatizações de estatais até o fim do ano que vem, mas deixou claro que é algo que tem sido difícil de concretizar. Ao mesmo tempo, há discussões sobre o teto de gastos e o mercado precisa saber que o governo é capaz de lidar com isso. Falta também uma posição conciliadora por parte do governo em questões políticas, isso facilitaria a entrada de mais investidores, pois tornaria o clima mais ameno”, avalia.
*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi e Odail Figueiredo
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