O setor de serviços, que representa quase 70% da economia brasileira, avançou 1,8% em setembro, em relação a agosto. Foi a quarta alta seguida, acumulando um ganho de 13,4% no período. A retomada, contudo, ainda não foi suficiente para reverter as perdas de 19,8% provocadas pela pandemia do novo coronavírus. Ou seja, o setor de serviços, que costuma ser o último a se recuperar numa crise econômica, ainda não conseguiu voltar ao patamar pré-covid-19.
De acordo com os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o indicador de setembro foi 7,2% menor do que o de setembro de 2019, registrando a sétima queda consecutiva na comparação interanual. Nos nove primeiros meses de 2020, foi registrada redução de 8,8%, frente ao mesmo período do ano passado.
No acumulado em 12 meses até setembro, os serviços recuaram 6% “mantendo a trajetória descendente iniciada em janeiro de 2020 e chegando ao resultado negativo mais intenso da série deste indicador, iniciada em dezembro de 2012”, aponta o levantamento do IBGE.
Estimativas
Os dados levaram a Confederação Nacional do Comércio (CNC) a aumentar a estimativa de queda do setor neste ano. “Está descartada a recuperação em V no setor de serviços”, afirmou o economista da CNC Fabio Bentes. Segundo ele, a previsão passou de queda de 5,9% para 6,9%.
O resultado de setembro ficou levemente acima das estimativas do mercado, de alta de 1,6%, mas confirmou a expectativa de desaceleração, como ocorreu com a indústria e o comércio, diante da redução do estímulo fiscal do auxílio emergencial, que passou de R$ 600 para R$ 300 mensais no mês passado.
“O setor serviços continua avançando e, em setembro, registramos a quarta alta consecutiva. Contudo, tal qual os dados de varejo divulgados recentemente, vemos uma perda de dinamismo”, comentou o economista-chefe da Necton, André Perfeito. Segundo ele, de maneira geral, os dados do terceiro trimestre como um todo vieram “muito bons”. “No entanto, com os dados desacelerando na margem, teremos fatalmente um quarto trimestre de 2020 mais fraco, o que pode contrabalançar a atividade deste ano”, destacou.
De acordo o IBGE, foram registrados avanços nos serviços prestados às famílias (9%), em outros serviços (4,8%) e nos transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (1,1%). O primeiro setor registrou a segunda taxa positiva seguida e já acumula ganho de 71,0%, entre maio e setembro. Mas ainda precisa crescer 55,9% para retornar ao patamar de fevereiro, mês que antecedeu a pandemia.
Os transportes tiveram o quinto resultado positivo seguido e acumularam ganho de 20,3%, entre maio e setembro — mas ainda precisam avançar 11,1% para atingir o nível de fevereiro. Segundo o IBGE, o único resultado negativo do mês ficou com os serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,6%), que eliminaram pequena parte do ganho de 5,8% observado no período de junho a agosto.
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BC quer facilitar remessas ao exterior
O Banco Central (BC) quer facilitar a transferência de recursos para o exterior. Por isso, colocou em consulta pública, até 29 de janeiro próximo, uma regulamentação que propõe a simplificação dessas operações e a entrada de novas instituições no mercado de câmbio. O BC estima que as regras podem entrar em vigor no próximo ano.
Hoje, para transferir dinheiro para o exterior, é preciso fazer um contrato de câmbio em um banco ou corretora, o que custa caro, sobretudo, em transações de pequeno valor. Por isso, o BC propôs que as instituições financeiras possam fazer essas operações de forma agregada, reunindo as transferências de vários clientes em um único contrato. Dessa forma, o custo será menor e o cliente poderá fazer a transferência de forma digital, pelo site ou aplicativo do banco.
O chefe do Departamento de Regulação Prudencial e Cambial do Banco Central, Lúcio Hellery, disse que as transferências poderão ser endereçadas a contas de residentes e não residentes e também para contas mantidas por brasileiros no exterior. Porém, cada transação será limitada a US$ 10 mil.
O BC ainda propôs a entrada de instituições de pagamento, como as fintechs, no mercado de câmbio. Só neste ano, brasileiros já transferiram US$ 1,6 bilhão para o exterior e o país ainda recebeu US$ 2,4 bilhões de remessas. A ideia é de que as instituições de pagamento só façam transações digitais.
Para analistas, a ideia de simplificar e aumentar a competição no mercado de câmbio é positiva, pois pode reduzir o custo dessas transferências. Porém, também é preciso ter cuidado para garantir que o sistema não facilite a lavagem de dinheiro ou o financiamento ao terrorismo. “O BC está correto em querer gerar mais concorrência no setor, porque, hoje, 80% de todas as operações cambiais estão nos cinco grandes bancos. Porém, tem que ter equilíbrio para garantir que o sistema seja seguro”, frisou o sócio da BMJ Consultoria e ex-secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.
Contas em dólar
O BC também espera aprovar projeto de lei que moderniza a legislação cambial brasileira. O projeto prevê, entre outros pontos, a abertura de contas em dólares no país, e está na Câmara dos Deputados. O deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), apresentou requerimento de urgência. Um dos cotados para assumir a relatoria, o deputado Luís Miranda (DEM-DF) afirmou que há acordo para votar o projeto, direto no plenário, se possível ainda neste ano.
“É preciso modernizar nosso sistema de câmbio, que é retrógrado e, às vezes, um impeditivo para muitas empresas. Quando puder abrir uma conta em dólares aqui, a empresa ou o investidor terá mais segurança de trazer seu recurso para o Brasil, pois não estará sujeita ao risco cambial”, observou Miranda.
“O BC está correto em querer gerar mais concorrência no setor. Porém, tem que ter equilíbrio para garantir que o sistema seja seguro”
Welber Barral, Sócio da BMJ Consultoria e ex-secretário de Comércio Exterior