O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) avançou 1,29% em setembro, indicando aceleração em comparação à alta de 1,06% de agosto. O resultado ficou acima da mediana das expectativas do mercado, de 1%, sinalizando que a recessão provocada pela pandemia de covid-19 não foi tão profunda como inicialmente esperado por consultorias e organismos multilaterais em abril, no auge da crise global do coronavírus.
Conhecido como prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o IBC-Br de setembro apresentou alta de 9,47% no terceiro trimestre de 2020, marcando a saída da recessão técnica, que consiste em dois trimestres seguidos de queda. No entanto, na comparação com setembro de 2019, o indicador ficou no vermelho, registrando queda de 0,77%. E, no acumulado do ano, mostrou retração de 4,97%. Em 12 meses até setembro, o recuo foi de 3,32%, abaixo da mediana do Boletim Focus, de -4,8%.
O resultado trimestral do IBC-Br animou o ministro da Economia, Paulo Guedes, que afirmou que o país saiu “oficialmente” da recessão. Analistas do mercado estão fazendo revisões das estimativas para o ano e apontam para uma queda mais próxima de 4% do que acima de 7% ou 8%, como ocorria nas projeções de abril.
“No auge da pandemia, as projeções eram mais pessimistas, e, agora, é possível ver que a atividade econômica está se recuperando. Mas, a retomada ao patamar pré-crise ainda não está totalmente garantida”, avaliou Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust. Ele lembrou o caso do setor de serviços, que cresceu 1,8% em setembro, e, ao contrário da indústria e do varejo, não voltou aos níveis de antes da pandemia.
Segundo Velho, a alta de 9,47% do IBC-Br no terceiro trimestre era esperada e indica que o resultado desse mesmo período, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará em 3 de dezembro, está se convergindo para uma taxa mais próxima de 10% do que de 8%. “A base de comparação anterior foi muito baixa, e isso mostra que o país não vai entrar em recessão do segundo para o terceiro trimestre”, explicou.
Auxílio
Velho reconheceu que o auxílio emergencial do governo foi fundamental para a retomada da economia acima das projeções iniciais, porque gerou demanda para o consumo das famílias, principalmente, de alimentos. Ele observou que essa demanda pressionou os preços, que, entretanto, devem recuar com a redução no valor do benefício de R$ 600 para R$ 300, o que contribuirá para a desaceleração do ritmo da atividade do último trimestre do ano. O economista prevê queda de 4,17% no PIB deste ano, mas destacou que, “se o PIB do terceiro trimestre crescer 10%, a queda no ano poderá ser de 4%, ou menos”.
Após os dados do IBC-Br, o Itaú Unibanco melhorou as projeções para o PIB. Os analistas do banco consideram que “há sinais de desaceleração na propagação do vírus, e os riscos de segunda onda parecem contidos, pelo menos, por ora”. Pelas novas projeções do Itaú, a queda do PIB deste ano passou de 4,5% para 4,1%. Em 2021, a expectativa de crescimento foi de 3,5% para 4%. “O risco fiscal, no entanto, permanece elevado, e deve seguir assim especialmente até a aprovação do Orçamento de 2021”, destacou. O banco espera deficits primários de 11,7% do PIB, em 2020, e de 2,5% do PIB, em 2021.
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Vírus em carne brasileira
A cidade chinesa de Wuhan anunciou ter detectado a presença do novo coronavírus na parte externa de embalagens de carne bovina de um lote de 27 toneladas de origem brasileira. Segundo o comunicado, o lote era procedente do Porto de Santos (SP).
Wuhan, capital da província de Hubei, é a cidade onde foi detectado pela primeira vez o novo coronavírus, em dezembro do ano passado. As autoridades pediram aos moradores que “não comprem alimentos importados congelados pela internet e examinem com cuidado os relatórios de testes de ácido nucleico dos produtos antes de comprá-los”.
O registro do exportador de embarque da carne bovina indicou que o produto é procedente da unidade de Várzea Grande (MT), da Marfrig Global Foods. A Marfrig informou ao Correio que não comentaria o assunto. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) disse que não foi notificado pelas autoridades sanitárias da China.
O comunicado não cita nenhuma medida contra o exportador brasileiro, ou uma suspensão das importações. A China, que encontra com frequência rastros do vírus em produtos importados, já anunciou, em vários momentos, suspensões temporárias de fornecedores, após detectar amostras com resultado positivo para o vírus. Em agosto, o mesmo problema ocorreu em embalagens de um lote de carne de frango brasileira.
Para o economista Ciro Almeida, da G2W Investimentos, o Brasil precisa intensificar as medidas sanitárias. “As medidas mais corretas e urgentes a serem tomadas pelos exportadores para não sofrerem embargos duradouros é intensificar as ações sanitárias de maneira preventiva, para não serem pegos de surpresa e para que isso não se torne corriqueiro, o que pode prejudicar o Brasil no mercado internacional”, disse.
“Além disso, tem que se intensificar as relações diplomáticas e comerciais com o governo chinês”, explicou Ciro. “Caso não ocorra nenhum tipo de embargo, entendemos que não deve haver nenhum prejuízo nessa relação comercial”, disse.
*Estagiários sob a supervisão de Odail Figueiredo
Biden e vacina animam mercados
Dentro e fora do Brasil, os investidores ficaram mais tranquilos após dias de estresse com a chegada de uma segunda onda de contaminação pela covid-19 nos Estados Unidos e na Europa. Na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), o Ibovespa, índice que mede o desempenho das principais ações, encerrou a sexta-feira em alta de 2,16%, aos 104.723 pontos. Na semana, o Ibovespa acumulou ganho de 3,76%. O dólar, após altas e baixas, fechou o pregão em estabilidade, com leve queda de 0,05%, cotado a R$ 5,476 para venda. No desempenho semanal, a moeda avançou 1,57%
A possibilidade de distribuição de novas vacinas amenizou as preocupações dos mercados, que ficaram ainda menores com a confirmação da vitória do candidato democrata à Presidência dos EUA, Joe Biden, no estado do Arizona, o que deve enfraquecer, segundo especialistas, a contestação do republicano Donald Trump, atual ocupante da Casa Branca, ao resultado do pleito. A notícia levantou as Bolsas norte-americanas. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, subiu 1,37% e a Bolsa tecnológica Nasdaq avançou 1,02%.
“Houve uma pequena melhora na confiança, embora a conjuntura de desafios se mantenha, até porque não chega a ser novidade que as vacinas desenvolvidas pela Pfizer e BioNTech têm alta eficácia. A notícia foi boa, mas o aumento dos números de contaminação e de mortes continua preocupante”, assinalou Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.
No mercado interno, também repercutiram favoravelmente as novas declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes. Depois de ter dito, na quinta-feira, que o pagamento do auxílio emergencial (antes de R$ 600 e atualmente de R$ 300) e a decretação do estado de calamidade, provocado pela crise sanitária, poderiam ser prorrogados, ele recuou.
As contradições do ministro são comuns, mas seu discurso em videoconferência no 39º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex) era aguardado. “O aparente compromisso de Guedes com o ajuste fiscal foi importante. Pelo menos é um sinal de que ele não tomará, digamos, medidas mais heterodoxas”, afirma Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
Quanto ao comportamento do dólar, que acumulou alta de 1,57% em relação ao real, na semana, o movimento de estabilidade ou queda pode não se sustentar, aponta Vieira. “Foi um movimento de overhead (proteção adicional dos bancos em moeda estrangeira) das instituições financeiras, apenas com resultado contábil”, avalia o economista-chefe da Infinity Asset. O que significa que o real pode continuar se desvalorizando. A próxima semana será de observação, diz. “É difícil prever o que vem por aí. Temos que aguardar para ver o que acontece, já que a agenda está fraca, com poucos indicadores e dados escassos”, ponderou Vieira.
“Houve uma pequena melhora na confiança, embora a conjuntura de desafios se mantenha. O aumento dos números de contaminação e de mortes continua preocupante”
Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos