Entrevista

BID: covid-19 provoca queda das exportações na AL e recuperação é incerta

Um estudo do BID indica que após uma década de crescimento comercial baixo e instável na América Latina e Caribe, o colapso foi menor que o esperado

Agência France-Presse
postado em 18/11/2020 08:59 / atualizado em 18/11/2020 09:16
 (crédito: AFP / CLEMENT MAHOUDEAU)
(crédito: AFP / CLEMENT MAHOUDEAU)

A pandemia de covid-19 provocou uma forte queda das exportações da América Latina e Caribe - aponta um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que destaca que a recuperação é incerta.

No primeiro semestre de 2020, o valor da negociação de produtos na região teve uma variação de -16% em ritmo anual, enquanto a de serviços foi de -29,5%, indica o relatório anual Monitor de Comércio e Integração do BID.

Os fluxos intrarregionais retrocederam em todos os blocos: -30,3%, na Comunidade Andina; -24,6%, no Mercosul; -24,0%, na Aliança do Pacífico; e -8,8%, na América Central e República Dominicana.

Após uma década de crescimento comercial baixo e instável na América Latina e Caribe, o colapso foi menor que o esperado. Mas os novos focos do vírus e as medidas de confinamento para evitar contágios, adicionadas à incerteza sobre a resolução das atuais tensões comerciais, podem afetar a recuperação e os fluxos de investimentos, conclui o relatório.

Entrevistado pela AFP, Pablo Giordano, principal economista do Setor de Integração e Comércio do BID e coordenador do estudo, destacou os desafios e as oportunidades para a América Latina e o Caribe:

P: Na região, as quedas comerciais mais significativas aconteceram para Estados Unidos e União Europeia, enquanto para a China foi "consideravelmente menor". A pandemia consolidará ainda mais o vínculo comercial da América Latina com a China em detrimento do resto do mundo?

R: Não necessariamente. No curto prazo, o maior crescimento da China, a única grande economia mundial que evitará uma recessão este ano, favorecerá indubitavelmente a recuperação dos países sul-americanos que exportam para este destino uma cota maior de suas exportações. Porém, à medida que a pandemia estimule uma reorganização regional das cadeias de valor, um fenômeno conhecido como "nearshoring", no futuro se observará um maior dinamismo dos fluxos comerciais para os Estados Unidos e entre os países da América Latina e Caribe.

P: A contração comercial foi menos intensa até agora em comparação com as previsões iniciais e com o Grande Colapso comercial de 2008–2009. Mas, de acordo com o estudo, "os traços qualitativos têm potencial para provocar mudanças estruturais mais profundas". Quais seriam?

R: As mudanças estruturais para as quais precisamos ficar atentos estão relacionadas com a organização tanto da produção como do comércio. As estratégias empresariais orientadas a potencializar a robustez e a resiliência das cadeias de valor poderiam trazer novos investimentos para América Latina e Caribe, fomentar novos fluxos comerciais para os Estados Unidos e impulsionar o comércio entre fornecedores e compradores de insumos intermediários na região. Também não há dúvida de que o acesso aos canais de comércio eletrônico favorecerá os vendedores organizados para aproveitá-los. Nos serviços, setores mais dinâmicos serão aqueles "digitalizáveis", que não precisam de contato pessoal direto, como, por exemplo, a educação virtual e a telemedicina.

P: Quem são os grandes perdedores e vencedores da retração comercial pela pandemia?

R: O choque foi tão rápido, intenso e complexo que provocou vencedores e perdedores em múltiplas dimensões. Os mais afetados foram os países especializados em serviços turísticos, os exportadores de petróleo e as economias mais expostas à recessão econômica provocada pela pandemia. Os que se beneficiaram, embora apenas relativamente, foram os exportadores de produtos médicos, de serviços digitais e, em certa medida, os exportadores de produtos agrícolas, cujos preços continuaram substancialmente estáveis.

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