INFLAÇÃO

Ipea eleva de 2,3% para 3,5% projeção de inflação para 2020

Alta reflete o aumento de preço dos alimentos, mas também o início da dispersão da inflação em bens de consumo e serviços livres

Marina Barbosa
postado em 19/11/2020 11:19 / atualizado em 19/11/2020 11:21

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) elevou de 2,3% para 3,5% a expectativa para a inflação deste ano. A revisão se explica pela alta dos alimentos, que devem ficar 16,2% mais caros em 2020, mas também pela dispersão da inflação entre bens de consumo e serviços livres.

"No último bimestre, a inflação brasileira, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), intensificou a sua trajetória de alta, impulsionada não apenas pela aceleração dos preços dos alimentos, mas também pela recuperação dos preços dos demais bens de consumo e dos serviços livres", pontuou o Ipea em nota publicada nesta quinta-feira (19/11).

Segundo o Ipea, o ambiente de aceleração inflacionária se mostra "um pouco menos restrito aos alimentos" porque o início da retomada econômica e o aumento de demanda, provocado pelo auxílio emergencial, tem permitido a recomposição de preços e o repasse dos custos de produção em alguns bens de consumo e serviços livres. O aumento é sentido, por exemplo, nos serviços de transporte e alimentação no domicílio, que haviam ficado mais baratos no início da pandemia.

"O relaxamento das medidas de isolamento social e, por conseguinte, a retomada mais forte da atividade econômica e a melhora, ainda que modesta, da ocupação vêm gerando uma expansão do consumo das famílias, abrindo espaço para uma recomposição mais rápida dos preços livres", explicou o Ipea.

A nota acrescenta que "o efeito renda, gerado pelo auxílio emergencial, e o retorno mais rápido de diversas atividades a certo grau de 'normalidade' vêm contribuindo para a melhora no ritmo de recuperação da economia brasileira, possibilitando a retomada da demanda por bens e serviços".

Bens de consumo e serviços livres

Por conta disso, ao elevar a projeção de inflação de 2020 de 2,3% para 3,5%, o Ipea também subiu de 1% para 2,5% a projeção para a inflação dos bens de consumo e de 0,7% para 1,5% a projeção para a inflação dos serviços livres. A projeção da inflação dos alimentos, contudo, continua subindo acima da média e foi revisada de 11% para 16,2%. O Ipea acredita que a alta dos alimentos será responsável por 60% de toda a inflação de 2020 e já mostrou que a inflação dos alimentos pesa mais no bolso das famílias mais pobres.

A projeção de 11% da inflação dos alimentos havia sido apresentada há apenas dois meses e subiu de forma acentuada agora porque o Ipea acredita que os alimentos continuam sendo pressionados pela alta do dólar e pelo aumento dos preços internacionais das commodities. O Ipea também acredita que os alimentos devem continuar em alta nesta reta final do ano.

"Os preços dos alimentos no varejo se mantêm abaixo dos observados no atacado, sinalizando que, diante de uma demanda aquecida, ainda há alguma margem para novos reajustes nos próximos meses", explicou. O Ipea explicou que a inflação dos alimentos acumulada nos últimos 12 meses está em 18,4%, já o Índice de Preços por Atacado (IPA) aponta uma alta de 29,6%.

Fim de ano pessimista

O Ipea acredita, então, que a inflação vai continuar pesando no bolso dos brasileiros neste fim de ano. A expectativa é que, depois de ter marcado 0,86% em outubro, o maior resultado para o mês desde 2002, o IPCA marque 0,61% em novembro 0,67% em dezembro, puxada pela alta dos alimentos, mas também dos bens de consumo e dos serviços livres.

O Ipea explicou ainda que apenas os preços administrados devem desacelerar neste ano, já que reajustes como o dos remédios, dos planos de saúde e do transporte urbano foram adiados para 2021 por conta da pandemia do novo coronavírus. Neste caso, a perspectiva de inflação do Ipea foi revisada de 1% para 0,8%.

A projeção de uma inflação de 3,5% em 2020 está um pouco acima da projeção do mercado, que tem elevado a perspectiva de inflação há 14 semanas seguidas e hoje projeta uma alta de preços de 3,25% neste ano, segundo o Boletim Focus. O Ipea frisou, por sua vez, que, "apesar dessa alta, o cenário inflacionário segue benigno". Isso porque a taxa projetada ainda se encontra abaixo da meta de inflação estipulada para 2020, que é de 4% ano.

O Banco Central (BC) também tem dito que está tranquilo em relação à inflação, pois vê esse movimento inflacionário como algo temporário. Por isso, o mercado acredita que a inflação não deve afetar a taxa básica de juros (Selic), que está na mínima de 2% ao ano, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de dezembro.

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