ECONOMIA

Prévia da inflação sinaliza que alta dos preços vai além dos alimentos

IPCA-15 fecha com o maior percentual para o mês de novembro, desde 2015. E mostra que aumentos atingem outros artigos que fazem parte do dia a dia

Marina Barbosa
postado em 25/11/2020 06:00
 (crédito: Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)
(crédito: Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press)

A prévia da inflação brasileira subiu 0,81% neste mês, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). O resultado é o maior para o mês de novembro desde 2015 e reflete não apenas a alta dos alimentos, mas a presença da inflação por outros itens do dia a dia dos brasileiros. Por isso, fez o mercado elevar novamente as expectativas de inflação em 2020, o que deve aumentar a cautela do Banco Central (BC) nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

O IPCA-15 de novembro, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veio acima das estimativas de mercado, que projetava um resultado de 0,72%. Mostra que a inflação desacelerou menos do que o esperado após o pico registrado em outubro, quando o IPCA-15 alcançou 0,94%, mas também que a carestia está cada vez menos restrita aos alimentos. Segundo o IBGE, comida continua respondendo pela maior parte do custo e subiu mais 2,16% no início deste mês. Porém, todos os outros grupos de produtos analisados no cálculo do IPCA também registraram aumento de preços em novembro, com destaque para transportes (1%), artigos de residência (1,4%) e vestuários (0,96%).

Coordenador do índice de preços da Fundação Getulio Vargas, o economista André Braz explicou que os alimentos continuam subindo por conta da alta do dólar e das exportações brasileiras, que aumentam o preço e reduzem a oferta de itens como soja, milho e arroz no mercado doméstico. Segundo ele, com a moeda norte-americana em alta, também tem encarecido os insumos da indústria, que já começa a repassar os custos a produtos como móveis (2,40%), eletrodomésticos e equipamentos (2,23%) e roupas (0,84%).

Recomposições

Além disso, a retomada de atividades que haviam sido reduzidas na quarentena também enseja uma recomposição de preços, como ocorreu nas passagens aéreas (3,46%) e na alimentação fora do domicílio (0,87%). “A alimentação não para de surpreender e houve um espalhamento maior da inflação”, observou Braz.

Com isso, a inflação acumulada neste ano chegou a 3,13% pelo IPCA-15. No acumulado nos últimos 12 meses, o índice avançou de 3,52% para 4,22%, em novembro, ficando um pouco acima da meta de inflação deste ano, que é de 4%.

O resultado fez o mercado rever novamente as projeções. A XP Investimentos, por exemplo, elevou de 3,6% para 3,9% a expectativa para o IPCA de 2020, pois acredita que a inflação oficial deve repetir os 0,86% de outubro em novembro e desacelerar somente para 0,80% em dezembro.
Braz também reviu suas projeções de 3,5% para 3,7%, pois não vê uma redução da pressão cambial no curto prazo e lembra que o fim de ano costuma ter aumentos nos preços de alimentos in natura. “O cenário piorou um pouco. Agora, o risco de ter um desafio maior com a inflação no ano que vem é maior”, observou.

O economista acredita que, se essa pressão inflacionária persistir no início de 2021, o BC pode ser forçado a elevar a taxa básica de juros (Selic) antes do que imaginava. Hoje, o mercado acredita que a Selic vai continuar na mínima histórica de 2% até o início do segundo semestre de 2021.

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