Atividade econômica

Economista do Ibre FGV não vê retomada em V na economia

Claudio Considera faz ponderações sobre os dados do terceiro trimestre de 2020 e lembra que o V que está sendo visto é "meio maroto", porque o país ainda não deve recuperar a trajetória de antes da pandemia

Rosana Hessel
postado em 25/11/2020 12:38 / atualizado em 25/11/2020 12:39
 (crédito: Danilson Carvalho/CB/D.A Press)
(crédito: Danilson Carvalho/CB/D.A Press)

A economia brasileira não está se recuperando em V, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, e seus auxiliares costumam afirmar, defendendo uma retomada robusta da atividade no meio da pandemia. A avaliação é do economista Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), que faz ponderações sobre a baixa capacidade de crescimento do país mesmo antes da chegada da pandemia de covid-19. Segundo, ele, apesar de os dados de atividade estarem mais positivos no terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores, a indicação é de "V meio maroto".

“Com a pandemia, todos entramos em uma nova recessão e estamos saindo dela aos poucos. Parece que é um V na saída, não é isso. Houve uma queda muito funda, mas estamos bem negativos no resultado do terceiro trimestre em relação ao do ano anterior e vamos continuar no ano de 2020 com uma variação negativa do PIB brasileiro”, explicou Considera, nesta quarta-feira (25/11), durante o webinar “Reduzindo as incertezas: radiografia da atividade econômica”, realizado pela FGV.

Pelas projeções do Monitor do PIB da instituição, que costuma reproduzir bem o desempenho do PIB medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia do terceiro trimestre deve registrar alta de 7,5% na comparação com o segundo trimestre. Já o Indicador de Atividade Econômica (IAE) da FGV, que aponta a variação mensal, a alta estimada do PIB do terceiro trimestre está em 8%. Contudo, ele lembra que a economia ainda deverá girar, no acumulado do ano, em torno de 5% abaixo do nível de 2019. Os dados do terceiro trimestre do PIB serão divulgados pelo IBGE no próximo dia 3.

“Parece que o crescimento foi em V, porque caiu muito e cresceu mais no terceiro trimestre, mas, na verdade, é um V meio maroto, porque tem uma recuperação abrupta, mas ainda não chegou ao ponto de antes da pandemia e não recuperou a trajetória de crescimento anterior, que não era satisfatória”, explicou.

Economia estagnada

O especialista lembrou que as análises que ele faz estão baseadas nos desempenhos da atividade econômica e reforçou que a economia brasileira estava estagnada antes mesmo da pandemia, com desempenho muito ruim desde a recessão de 2014 e 2016, quando o país encolheu 8% no acumulado de 11 trimestres, “uma das mais severas e longas recessões que o país já teve”, conforme os dados levantados pelo FGV Ibre.

“Chamamos de economia estagnada porque a renda per capita está parada em uma taxa de crescimento média de 0,9% ao ano entre 2016 e 2019”, afirmou. “Em termos de renda per capita é uma taxa muito ruim para o Brasil”, lamentou.

Ele lembrou que abril foi o momento mais crítico da recessão e destaca que o consumo das famílias ainda não tem se recuperando totalmente. E, pelo lado da demanda, a economia brasileira vem impactando muito pelo setor de serviços, que vem apresentando uma fraca recuperação. O setor de outros serviços chegou a ter uma taxa de queda de 25% e, agora está em uma taxa de recuo de 20% ainda, e tem um peso de 15% no PIB.

Investimentos

Na avaliação do economista da FGV, não será possível que a economia volte a crescer de forma mais robusta do que as taxas médias dos últimos anos se não houver aumento dos investimentos. Do ponto de vista produtivo, isso não deve acontecer tão cedo, porque a capacidade ociosa ainda é elevada. “O hiato do produto (a diferença entre o crescimento real e o potencial do PIB) mostra que ainda temos uma defasagem bastante grande”, sinalizou. "Sem investimento, a economia do BC não tem vitalidade para crescer", destacou ele, acrescentando que educação é uma área em que o país precisa "investir sempre".

Considera acrescentou que o aumento recente do risco país diante das incertezas na área fiscal é ruim e está relacionado com a falta de reformas que o Brasil precisa fazer para recuperar a confiança para que o investimento externo volte a crescer no país. “A reforma da Previdência foi importante, mas tem várias outras coisas que precisam ser resolvidas, como a reforma tributária séria, com uma tributação mais equânime, e, da mesma maneira, uma reforma administrativa que permita o estado economizar mais do que está fazendo gastando com deficits primários”, disse. Ele ainda defendeu a aprovação de uma reforma tributária o quanto antes, nesse sentido.

“É importante que essa reforma seja realizada de uma vez. O investidor não virá para o Brasil sem saber qual é o lucro líquido dos impostos que vai ter que pagar. A proposta tem várias informações sobre isso e o Congresso vai aprovar diferente do que o governo propor. Mas o importante é que ela seja feita. Ela não deve continuar em suspenso, caso contrário o investimento não ocorrerá”, frisou.

Confiança

Para o analista do FGV Ibre, o teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior — não é um empecilho para os investimentos, mas uma razão para a confiança do investidor. “É importante que ele continue valendo para dar confiança para que a poupança que vier do exterior não será gasto em consumo do governo desnecessário”, afirmou.

Em relação à questão ambiental e as críticas internacionais que o governo vem sofrendo nesse segmento, Considera lembrou que o meio ambiente se tornou um problema geral e poderá afetar o desenvolvimento do comércio no país e também os investimentos. "A parte ambiental certamente terá peso no nosso futuro", apostou.

Pelas projeções da mediana do mercado medida pelo boletim Focus, do Banco Central, a mediana das estimativas para o PIB de 2020 prevê retração de 4,55%. Já a equipe econômica revisou, recentemente, de 4,7% para 4,5% a previsão de queda no PIB deste ano.

 

 

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