Conjuntura

Prévia do PIB para o terceiro trimestre indica otimismo moderado

Mercado aguarda alta de 7,4% e 9,2% no terceiro trimestre, mas resultados não repõem as perdas de 2020. Especialistas veem uma recuperação heterogênea

Rosana Hessel
postado em 29/11/2020 06:00 / atualizado em 10/12/2020 10:52
 (crédito: Danilson Carvalho/CB/D.A Press)
(crédito: Danilson Carvalho/CB/D.A Press)

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará, na próxima quinta-feira, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre. No mercado, há um consenso quanto a uma forte recuperação da atividade entre julho e setembro. Mas especialistas ouvidos pelo Correio reconhecem que a alta não será suficiente para reverter o tombo de 11% na produção de riquezas do país na primeira metade de 2020.

As projeções de analistas indicam expansão na margem (na comparação com o trimestre anterior) entre 7,4% e 9,2%. Os destaques, segundo eles, devem ficar por conta do consumo das famílias, impulsionado pelo auxílio emergencial. O dinheiro liberado pelo governo federal contribuiu para turbinar o processo de retomada e melhorar as projeções pessimistas feitas durante o pico da pandemia de covid-19.

ilustração
ilustração (foto: Editoria de ilustração)

No auge da pandemia, as previsões mais pessimistas estimaram um tombo de até 9,1% no PIB deste ano. Foi o caso do Fundo Monetário Internacional (FMI), sempre mais otimista do que o mercado. Todavia, as estimativas foram revistas após os sinais de retomada em alguns setores, como indicam dados preliminares de julho a setembro. As principais expectativas de retração da economia brasileira variam entre 3,8% e 5,8%. Pelos cálculos da economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a retração do PIB seria de, pelo menos, dois pontos percentuais — mais profunda do que as atuais previsões.

lembram que, na comparação com o terceiro trimestre de 2019, o PIB ainda vai sofrer no quarto trimestre e, portanto, a economia vai ter desempenho negativo, apesar de interromper o processo de recessão técnica, quando o PIB cai por dois trimestres seguidos.

As projeções do Ibre apontam alta de 7,4% no PIB do terceiro trimestre, na margem, e queda de 4,9% na comparação com o mesmo período de 2019. As projeções do instituto mostram que o consumo das famílias deverá crescer 7,3% no terceiro trimestre, na margem. Contudo, encolherá 7,7% na comparação com o mesmo intervalo de 2019. Outro destaque ficará por conta dos investimentos, que deverão saltar 15,6% na margem, apresentando recuo de 3,9% na comparação anual.

Apesar de o ministro da Economia, Paulo Guedes, apostar em retomada em V da economia, analistas reconhecem que ainda não é possível afirmar que isso vai ocorrer para o conjunto da atividade econômica que integra o PIB. A recuperação mais forte em alguns setores, aproximando-se do patamar pré-crise, não assegura uma mudança definitiva de cenário. Isso porque um dos principais componentes do PIB, o setor de serviços, deve demorar a voltar aos níveis antes da pandemia. Além disso, como a economia vinha apresentando um crescimento médio baixo antes da pandemia — de 0,9% na renda per capita entre 2016 e 2019, conforme projeções do FGV Ibre — retornar aos níveis pré-covid não chega a ser recuperação de tendência animadora.

Otimista com a retomada, Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, considera a baixa capacidade de crescimento do país um dos principais desafios para o país. “Mesmo se a responsabilidade fiscal for mantida, será preciso enfrentar a baixa capacidade de o país crescer, a dívida elevada e a desconfiança dos investidores externo. Esses são desafios reais do país”, afirma.

Serviços fragilizados

Para Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da a RPS Capital, a recuperação dos investimentos é um ponto a ser observado. “O investimento deve vir forte, puxado pela construção civil, mas continuará baixo se olharmos para o histórico. Acredito que o componente de máquinas e equipamentos deve crescer bem”, avalia. Ele prevê alta de 9% no PIB do terceiro trimestre na margem. Essa é a mesma previsão do economista do Itaú Unibanco Luka Barbosa, que reconhece que a retomada homogênea da atividade ainda não é uma realidade. “Antes, havia uma expectativa de recuperação mais rápida mas, para isso acontecer, de fato, é importante uma recuperação em todos os segmentos”, afirma Barbosa.

Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, também projeta desaceleração na atividade após alta de 9% no terceiro trimestre, mas admite otimismo com a redução dos estoques da indústria. “A capacidade instalada voltou ao nível de 2015, e a produção está se recuperando de forma mais forte”, destaca.

Silvia Matos, do FGV Ibre, no entanto, chama a atenção para dados preocupantes que devem aparecer no PIB. “Os serviços públicos continuam negativos, assim como uma parcela importante de outros serviços prestados às famílias e que têm um peso forte no PIB, de 15%, e que não devem se recuperar tão fácil. É preciso incluir nessa conta antes de fazer as estimativas. Pela nossa metodologia, não é possível ver uma recuperação em V, porque o processo de retomada ainda é muito heterogêneo”, explica.

De acordo com ela, o PIB dos Estados Unidos não está se recuperando em V, nem mesmo o da China. “Não dá para sermos muito otimistas, especialmente, com a segunda onda chegando lá fora. O Brasil ainda está em um platô elevado de casos, e não temos uma previsão clara de quando a vacina vai realmente chegar ao país”, afirma.

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