Alimentos ainda não dão trégua

Correio Braziliense
postado em 02/12/2020 01:10 / atualizado em 07/12/2020 12:56
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Os alimentos também devem continuar pesando no bolso dos brasileiros, apesar de o agronegócio garantir que a inflação desses produtos vai desacelerar no próximo ano. É que, mesmo subindo menos, muitos preços não devem voltar para o patamar pré-pandemia em 2021.

A expectativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) é que a inflação dos alimentos desacelere em 2021 por conta do aumento da produção, já que a safra de grãos deve bater um novo recorde, mesmo com os efeitos climáticos do La Nina; do ajuste da demanda doméstica, que neste ano subiu por conta da quarentena e do auxílio emergencial; e da estabilização do câmbio.

A CNA admite, porém, que o câmbio deve se estabilizar na casa dos R$ 5,20 a R$ 5,30 — um patamar que ainda é elevado em relação à taxa do período pré-pandemia (R$ 4,20) e que, por isso, ainda pressiona o preço dos alimentos. “Tira um pouco a pressão de alta, mas mantém patamares elevados”, reconheceu o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, ao apresentar, ontem, as expectativas do setor para 2021.

Ele disse que “no ano que vem, os preços vão continuar de certa forma elevados, mas não vai ter tanto aumento, porque a produção vai crescer e a intensidade dos fatores que elevaram o preço neste ano vai diminuir, o que reduz a pressão”. “A inflação não vai ser tão alta”, concluiu.

Segundo analistas, apesar de a taxa de câmbio continuar dependendo de uma definição sobre o rumo das contas públicas brasileiras, de fato é possível esperar uma inflação menor dos alimentos em 2021. Afinal, esse indicador já subiu 11,97% neste ano. “Dificilmente sustenta esse nível. Isso ainda vai aparecer na inflação no início de 2021, mas, ao longo do ano, é possível que vejamos reajustes menos pesados, o que, no entanto, não chega a ser uma deflação”, observou o economista da LCA Consultoria, Fábio Romão.

Isso não significa, portanto, que os alimentos vão ficar baratos ou eliminar os ganhos sofridos na pandemia de covid-19. O Banco ABC, por exemplo, calcula que a inflação dos alimentos deve encerrar esse ano a 16% e cair para 5,5% em 2021. Porém, diz que “o cenário ainda é de preços relativos altos”. “Ainda é um dólar alto e os preços das commodities devem continuar pressionados, porque a recuperação da economia global vai manter a demanda por commodities robusta. Por isso, a inflação desacelera, mas ainda deve ser superior à inflação total”,frisou o economista sênior do ABC, Daniel Xavier.

Além disso, a CNA admitiu preocupação com o preço do milho, usado como ração na pecuária, que afeta o preço da carne, do leite e dos ovos. Lucchi explicou que a produção brasileira de milho deve ser afetada pelo La Niña e, por isso, ficar ajustada à demanda nacional. Porém, adiantou que também pode haver incentivo à exportação do produto em 2021, já que a demanda da China deve aumentar, o que pode reduzir a oferta e, consequentemente, elevar o preço do milho e das proteínas no Brasil. (MB)


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