Inflação

Com queda do dólar, especialistas apostam em recuo da inflação

IPCA avançou 0,89% em novembro, de acordo com IBGE, e deve terminar o ano acima da meta central definida pelo Comitê Monetário Nacional

Israel Medeiros*
postado em 08/12/2020 21:52 / atualizado em 08/12/2020 22:35
 (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
(crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A inflação deve terminar o ano acima da meta prevista pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4%. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, teve alta de 0,89% e já acumula um avanço de 4,31% nos últimos 12 meses. Entre janeiro e novembro deste ano, a alta foi de 3,13%. Enquanto isso, o dólar está no seu menor patamar desde julho: fechou esta terça-feira (8/12) vendido a R$ 5,12, chegando a ser negociado a R$ 5,06 no dia.

A queda da moeda americana frente ao real tem sido observada há semanas e não é uma exclusividade do Brasil. É o que explica Ivo Chermont, economista-chefe do Quantitas. Ele afirma que a depreciação do dólar é um movimento generalizado. "É um movimento global. Moedas emergentes e também de países desenvolvidos se valorizaram frente ao dólar. O real tem performado bem em relação aos emergentes, mas o grande movimento é contra o dólar", afirma.

Chermont também destaca a melhora nas notícias fiscais do governo e o "sumiço" de falas sobre um novo programa de renda ou um furo no teto de gastos para lidar com as contas públicas — severamente afetadas pela pandemia. Além disso, pontua o fim das incertezas com a eleição presidencial americana, vencida por Joe Biden (Democratas), e o horizonte promissor de vacinas na contribuição para a valorização do real.

Ele afirma que, com a alta do dólar vista na pandemia, é natural que vários produtos fiquem mais caros, especialmente os bens importados, e mesmo os que têm produção nacional dependem de insumos vindos do exterior. A inflação, no entanto, é puxada pelos alimentos, que ficaram mais caros porque os produtores brasileiros optaram por exportar seus produtos e aproveitar a pressão cambial.

"O dólar mais caro proporciona o incentivo à exportação. Isso aconteceu com o arroz. No mercado brasileiro de arroz, oferta e demanda são muito próximas e nós consumimos quase tudo o que se produz aqui. Quando o câmbio está pressionado, o produtor quer exportar. Há vários canais nos quais o dólar pode impactar a inflação aqui. Essas coisas impactam a inflação a curto prazo", disse.

A tendência de valorização do real só deve se manter, na avaliação de Chermont, caso o país seja capaz de demonstrar austeridade e for capaz de colocar em pauta uma agenda de reformas, além de promover questões como a autonomia do Banco Central (BC). "Se mostrar que não vai ter tentativa de dribles do teto de gastos, se tivermos um ambiente mais reformista, autonomia do Banco Central, e os obstáculos para a alocação de capital forem superados, como tem ocorrido com o Pix — que tem facilitado a vida de muita gente e é uma revolução nas transações financeiras —, aí o real vai se fortalecer", aposta o economista.

Auxílio emergencial

Na divulgação dos dados da inflação de novembro pelo IBGE, o gerente do levantamento, Pedro Kislanov, apontou o auxílio emergencial como um dos fatores que impulsionaram a inflação de alimentos. Para o economista e pesquisador da Unicamp Felipe Queiroz, contudo, não faz sentido falar em aumento no consumo de alimentos atrelado ao aumento de renda.

"Pedro Kislanov e alguns economistas falam que o auxílio aumentou muito a inflação dos alimentos, que houve demanda excessiva por alimentos e isso pressionou a inflação. Mas isso é falso, porque só há elasticidade de alimentos até determinado ponto. Não é porque o salário dobrou, por exemplo, que você vai comer o dobro. O que piorou foi a instabilidade política, os pronunciamentos bombásticos, incentivo à posturas irresponsáveis durante a pandemia por parte do governo. Tudo isso elevou o câmbio. E consequentemente o produtor preferiu exportar para lucrar e elevou os preços no mercado doméstico", defende Queiroz.

A próxima reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) está marcada para esta quarta-feira (9). Há um consenso no mercado de que a taxa básica de juros será mantida mesmo com a alta da inflação. Para Queiroz, não há motivo que justifique uma alta de juros a curto prazo.

"A demanda interna está fraca, e se o auxílio emergencial for cortado, ela fica ainda mais afetada. Mesmo com a inflação, que agora está acima do teto da meta, a atividade interna está fraca. Temos uma taxa de desemprego elevada, consumo interno reprimido e não há motivo para aumentar juros porque não temos uma inflação de demanda. Se o câmbio contribuir para o ano que vem, a inflação deve voltar para o centro da meta", completa.

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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