CONJUNTURA

Apesar de manter Selic em 2%, BC já indica subida da taxa de juros em 2021

Comitê de Política Monetária mantém a taxa básica de juros no mais baixo patamar da história, só que se mostra preparado para algum soluço mais forte da inflação. Governo monitora de perto e considera que a alta seja ocasional

Israel Medeiros*
postado em 10/12/2020 06:00
 (crédito: Raphael Ribeiro/BCB)
(crédito: Raphael Ribeiro/BCB)

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter, novamente, a taxa básica de juros (Selic) no patamar histórico de 2%. A decisão foi tomada por unanimidade, na última reunião do ano, que terminou no início da noite de ontem. Porém, a autoridade sinaliza que há a possibilidade de mudar as diretrizes de política monetária. Significa que a manutenção de juros baixos pode estar com os dias contados e a porta para que voltem a subir está aberta para o próximo ano.

Mas, antes que isso aconteça, segundo o comunicado divulgado pelo BC, é preciso continuar com os estímulos monetários por causa do cenário da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus — que não se dissipou. A política monetária deverá seguir a receita recomendada pelo regime de metas para a inflação, pois o Comitê acredita que a alta recente no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, deve ser temporária. A autoridade monetária deixa claro que segue monitorando a evolução da carestia com atenção.

De acordo com o Boletim Focus — levantamento produzido pelo Banco Central com especialistas do mercado financeiro —, as expectativas de inflação para 2020, 2021 e 2022 estão em torno de 4,2% (acima do centro da meta de 4%), 3,3% e 3,5%, respectivamente. Vale lembrar que, em novembro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA avançou 0,89%. Nos últimos 12 meses, há um acúmulo de 4,31%.

Mas, isso em um cenário no qual o auxílio emergencial está garantido apenas até o dia 31 de dezembro, sem previsão de extensão — algo que também é citado pelo Comitê como relevante na tomada da decisão pela manutenção dos juros. Além disso, o Copom acredita que a nova onda de contágio de covid-19, que afeta algumas das principais economias globais, deverá atingir a atividade econômica a curto prazo. Porém, salienta que aposta nos resultados dos testes de vacinas, o que tenderia a melhorar a confiança e normalizar a atividade no médio prazo — também ontem, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, admitiu que a vacinação para grupos específicos pode começar ainda este mês, desde que a Pfizer tenha vacinas para entregar e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorize a aplicação do fármaco como uso emergencial, tal como ocorre em outros países.

Resultado esperado

Julio César Barros, economista da MAG Investimentos, explica que a manutenção da Selic já era esperada. A novidade, segundo ele, foi a sinalização de mudança no forward guidance — que projeta os rumos a serem tomados pelo BC.

“O Comitê indicou que ele não deve sobreviver para os próximos meses, uma vez que o Copom deixou de olhar tanto para 2021 como meta e passou a olhar para 2022”, avaliou. Ele acredita, no entanto, que é prematuro por parte da autoridade monetária tratar 2022 como prioridade já nos próximos meses.

Para Barros, fica claro que o BC tem visto os resultados da inflação de forma tranquila, ao apostar em um recuo para o próximo ano — avaliação com a qual concorda.

“Quando fala de inflação, mantém a ideia de que é um choque temporário. Admite que veio mais forte no curto prazo, acima do esperado. Na minha avaliação, esta visão está correta. Houve descasamento de oferta e demanda, mas isso não eliminou a capacidade produtiva. Assim que isso se normalizar, volta ao que era antes. Houve uma alta expressiva nos alimentos, mas acredito que isso deve ter um arrefecimento para o ano que vem”, observou.

A manutenção da taxa de juros foi vista de forma positiva pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em comunicado, a entidade avalia que a condução da política monetária, no Brasil e no mundo, durante este ano, teve como principal objetivo “atender à necessidade de financiamento do setor produtivo privado diante dos efeitos negativos da crise pandêmica sobre a atividade, além de reforçar o papel do crédito como canal de impulso ao crescimento econômico”.

Manter a Selic em 2%, conforme defendeu a CNI, é importante para a recuperação da atividade econômica e dos empregos, em 2021. “Uma vez que o Copom leva em consideração as perspectivas para a política fiscal nas suas decisões, a manutenção da regra de teto dos gastos públicos e o avanço nas discussões em torno da reforma administrativa são imprescindíveis para permitir a manutenção dos juros baixos por um período mais prolongado de tempo”, salientou o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

Guedes promete sinal de compromisso com equilíbrio

Em vídeo divulgado ontem, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que planeja transmitir um “forte sinal”, ainda em 2020, sobre o compromisso com as contas públicas. Segundo ele, o intuito é reduzir subsídios e gastos tributários. “Acho que antes do fim do ano vamos dar um forte sinal de que estamos promovendo uma agenda fiscal. Estamos enviando um forte sinal para reduzir subsídios e gastos tributários”, afirmou. A intenção é transmitir uma mensagem ao mercado financeiro de que o governo quer medidas de equilíbrio fiscal, uma vez que analistas vêm colocando em dúvida o real avanço da agenda de reformas e o cenário econômico que se desenha.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

 


https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2020/12/4893914-reuniao-de-ministro-com-governadores-mostra-que-vacina-continua-politizada.html

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