Selic

Mercado aguarda ata do Copom para reforçar previsões sobre juros

Para Clemens Nunes, professor da FGV, Banco Central deve abandonar o forward guidance já em janeiro e concretizar uma alta nos juros ainda no primeiro semestre de 2021. Questão fiscal pesaria mais do que a inflação na elevação da Selic

Israel Medeiros*
postado em 14/12/2020 22:39
 (crédito: Leonardo Sá/Agência Senado)
(crédito: Leonardo Sá/Agência Senado)

Antes mesmo da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na semana passada, indicar a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 2% ao ano pelo menos até o início de 2021, o Boletim Focus já adiantava uma possível alta da taxa no segundo semestre, para 3%. Isso não foi explicitamente confirmado pelo Comitê, mas o comunicado deixou claro que as diretrizes de política monetária, ou seja, o forward guidance, poderão cair em breve.

Isso significa que os juros podem voltar a subir, e já há instituições financeiras apostando nessa possibilidade. É o caso do Itaú Unibanco, que ontem (14), revisou a projeção para a Selic em 2021 de 3% para 3,5%. Até o momento, tudo o que se tem oficialmente por parte do BC sobre uma mudança de postura em relação aos juros é o que foi dito no comunicado divulgado após a reunião do Copom.

A ata deve ser divulgada nesta terça-feira (15), quando o mercado saberá, então, os detalhes discutidos e poderá entender claramente quais serão os rumos tomados pelo BC nos próximos meses pensando no calendário 2021/2022. Para Clemens Nunes, professor da FGV EESP, a mensagem passada pela autoridade monetária é a de que o BC está pronto a mudar a estratégia.

"Acredito que em janeiro o BC deve abandonar o forward guidance e mandar um recado. A partir do momento em que a meta de inflação começar a ser ameaçada, ele vai abandonar. Isso significa que ele já estaria pronto para fazer uma normalização dos juros", comenta.

Nunes explica que, para o mercado financeiro, essa normalização deve ocorrer entre junho e julho de 2021. Mas ele aposta em um aumento entre abril e maio. "Acredito que esse aumento deve vir antes porque a gente vai entrar em 2021 com uma série de aumentos em insumos na cadeia produtiva que não foram repassados ainda para os preços do consumidor final. Existem várias empresas com muito poder de mercado e que poderão repassar esses aumentos, mesmo que isso signifique um volume menor de vendas", avalia Nunes.

Inflação em alta

Ele acredita também que a inflação registrada nos últimos meses deve permanecer no ano que vem, ao contrário do que aposta o próprio Banco Central. Isso porque o choque em ofertas e preços de alimentos está ligada ao aumento do preço das commodities. "Esse não é um efeito que vai e volta. Enquanto o cenário permanecer, o efeito deve permanecer também. O choque do efeito mais duradouro é que isso começa a ser transmitido para outros preços na economia. Não acredito que o choque da inflação vai passar rapidamente", afirma.

O professor também comenta que, no câmbio, o dólar — com uma tendência de depreciação global — não deverá refletir em uma inflação menor necessariamente, a menos que a queda seja duradoura. "As empresas não utilizam o preço do dólar hoje, tomam como base um horizonte mais longo. Essa queda não é repassada imediatamente para os preços. O dólar ajuda a reduzir essa pressão inflacionária, mas também não vejo muito espaço para quedas significativas abaixo de R$ 5", pontua.

Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, destaca que o mercado está interessado em conhecer o teor da ata da reunião do Copom realizada na última semana. Ele afirma que, com base no comunicado, é possível dizer que a queda do forward guidance deverá ocorrer mais por causa das expectativas envolvendo política monetária do que necessariamente pela inflação.

"Não se reconheceu a inflação como sendo motivadora de elevação de juros. Ela continua sendo considerada temporária. A queda do forward guidance que pode ocorrer no início de 2021 se dá mais por expectativas de política monetária do que pela inflação, se dará mais pelo ano-calendário", comenta.

No cenário analisado por Sanchez, no entanto, a expectativa é de manutenção da taxa de juros em 2% para 2021, diferente do que prevê o Boletim Focus. "Apesar de falarmos de uma inflação que acelerou, avalio que a conjuntura econômica vai se impor de tal maneira que a gente falará de manter a taxa de juros por muito tempo. O desemprego vai aumentar, a renda vai cair. Não teremos sustentação de programas sociais, o poder monetário deve cair e consequentemente os preços cederão, não tem para onde fugir".

O economista destaca ainda que a meta de inflação para 2021 está longe de ser atingida e que "não tem por que falar de juros ainda", uma vez que, na sua avaliação, no começo de 2021, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, deverá estar menor. "Se ele (BC) inicia um ciclo de juros de uma maneira antecipada, a gente tem um flattering (achatamento) de curva. Com a retirada dos estímulos de forma antecipada, isso pode ter inflação no ciclo de crédito, uma apreciação cambial por expectativa de fluxo e possivelmente você pode ver a bolsa perdendo um pouco de ímpeto", finaliza.

*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza 

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