Pela sétima semana consecutiva, o Ibovespa terminou a sexta-feira com ganhos para os investidores. O índice subiu boa parte do dia, mas caiu no final da tarde em meio à pressão externa e à realização de lucros. O índice terminou a sessão aos 118.023,67 pontos, uma desvalorização de 0,32%. Nada disso, porém, que impedisse o avanço de 2,52% ante a sexta-feira passada — uma semana em que zerou as perdas do ano e flertou com os maiores níveis nominais da história.
Os destaques de alta do dia, mesmo com o índice indo ao vermelho ao final, foram os papéis de Vale (+0,69%) e das siderúrgicas CSN (+3,33%), Gerdau (+1,76%) e Usiminas (+4,96%). Mas a pressão externa acabou fazendo o índice reverter, com destaque à queda de 4,04% da Gol.
O dólar, por sua vez, encerrou a última semana cheia de 2020 acumulando alta de 0,73%. A valorização interrompeu uma sequências de quatro semanas consecutivas de queda da moeda americana ante o real, movimento que repetiu no mercado doméstico o enfraquecimento da divisa dos Estados Unidos no exterior, para as mínimas em dois anos e meio. O fluxo externo ao Brasil não deu mostras de perder fôlego e fez o dólar cair para R$ 5,01 mínima dos últimos dias, mas o risco fiscal, ruídos políticos e a maior demanda por dólares à vista, comuns nos últimos dias de cada ano, acabaram limitando a melhora do real. Em dezembro, o dólar acumula baixa de 5%.
Ontem, o Banco Central precisou fazer dois leilões para atender à demanda extra, aportando US$ 2,8 bilhões, em linha (venda de dólar à vista com compromisso de recompra) e swap (venda de dólar no mercado futuro). Com isso, conseguiu fazer o dólar sair das máximas do dia, a R$ 5,11, e voltar a operar na tarde de hoje abaixo dos R$ 5,10. No fechamento, o dólar à vista encerrou em leve alta de 0,08%, a R$ 5,0829. No mercado futuro, o dólar para janeiro fechou em alta de 0,86%, a R$ 5,1005.
O economista da Capital Economics, Jonas Goltermann, destaca que em uma cesta de 22 moedas emergentes, o real foi a que teve o melhor desempenho ante o dólar, considerando o período com início em 27 de novembro. A única divisa a registrar perdas foi o peso argentino. Para ele, as moedas emergentes, mesmo com a boa recuperação recente, ainda têm espaço para mais valorização, mas o Brasil tem uma série de problemas domésticos a serem resolvidos.
A Capital Economics projeta o dólar a R$ 5,00 ao final de 2021 e é o avanço do ajuste fiscal um dos principais fatores a sinalizar se a divisa cai abaixo desse nível. Como ressaltam os estrategistas da BlueLine Asset Management, “as iniciativas na direção de reformas estruturais foram definitivamente empurradas para 2021”.
Para o presidente (CEO) da BGC Liquidez, Erminio Lucci, o dólar caiu muito rapidamente nas últimas semanas, com notícias positivas da vacinas, diminuição do ruído político aqui e os leilões do Banco Central. Assumindo que o teto é preservado, o governo mostrar responsabilidade fiscal e as reformas estruturais andando, o dólar pode até ficar abaixo de R$ 5,00, mas o cenário está muito fluido e com diversas variáveis influenciando os ativos. Sem reformas e com o teto fiscal em risco, aí o real volta a se depreciar e pode superar os R$ 5,50.
Após cair ontem ao menor nível desde abril de 2018, o dólar hoje se recuperou no exterior e subiu ante divisas fortes e emergente Mas o movimento é encarado apenas como um ajuste pontual, enquanto os investidores aguardam por estímulos fiscais em Washington. A consultoria Gavekal Research acredita que o dólar pode ter iniciado um período de queda estrutural. O sócio fundador e presidente executivo da consultoria, Louis-Vincent Gave, destaca que juros reais negativos nos EUA, desequilíbrios fiscais e na balança comercial americana, que já são altos e devem piorar, vão fazer a moeda americana seguir perdendo valor ante divisas fortes e emergentes. “Os Estados Unidos estão começando a parecer um mercado emergente doente”, afirma, em relatório a investidores.
Ruído político
Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos, ressalta que a alta do dólar evidenciada nesta sexta-feira pode ser explicada pelas tensões em relação à vacinação no país. “Aqui dentro a gente tem um pouco de ruído político atrapalhando o cenário nacional", conta Davi, que lembra que a moeda funciona como um “porto seguro” dos mercados.
Segundo o especialista, a sétima consecutiva de alta do Ibovespa, é atribuída a três principais pontos: fluxo monetário estrangeiro muito forte para países emergentes; estímulos de crescimento, como oferecidos pelo Banco Central dos EUA (Fed) e pela União Europeia (UE); e, principalmente, autorização da aplicação emergencial da vacina Pfizer nos Estados Unidos e aprovação da vacina da Moderna pelo Comitê da FDA, agência sanitária dos EUA.
O clima de incerteza toma conta, também, do cenário nacional, segundo o economista da Universidade de Toronto Henrique Mecabô. “Mais e mais, a possibilidade de irresponsabilidade fiscal assombra o parlamento brasileiro”, conta. Ele cita que discussões como o pagamento de 13° do Bolsa Família aumentam a desconfiança e a cautela dos investidores. “Os últimos dias do cenário político ditam o que se discute no mercado”. (Com Agência Estado)
*Estagiários sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
2,52%
foi o avanço do Ibovespa esta semana, na comparação com os resultados do período anterior
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Odebrecht, agora, é Novonor
A Odebrecht mudou de nome. A empresa, de 76 anos, anunciou que, a partir de agora, passa a se chamar Novonor. O anúncio foi feito pelo representante do acionista majoritário do grupo, Maurício Odebrecht, durante reunião anual, com transmissão online para todos os funcionários. Em nota, a companhia afirmou que a mudança do nome e da marca é o ponto culminante da transformação empreendida nos últimos cinco anos. “Nesse período, à medida em que ia mudando os seus processos internos e os seus métodos de atuação, a empresa implantou um sistema de conformidade no padrão das grandes corporações internacionais, e que foi certificado há dois meses por um monitor independente do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.”
Desde que virou um dos pivôs do maior escândalo de corrupção do Brasil, foco da Operação Lava Jato, o conglomerado vem sofrendo fortes reveses. Os contratos minguaram por causa da crise econômica, e a dívida tornou-se impagável para o novo porte do grupo baiano.
Com dívidas de quase R$ 100 bilhões, incluindo os empréstimos intercompanhias, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial em junho de 2019. O plano foi aprovado neste ano, em plena pandemia. “Não estamos apagando o passado. Passado não se apaga. Passado é exatamente o que ele é – passado. Depois de tudo o que promovemos de mudanças e de correção de rumos, estamos agora olhando para o que queremos ser: uma empresa inspirada no futuro. Este é o nosso novo norte”, disse Maurício Odebrecht, em nota.
A Novonor nasce como uma holding de um grupo empresarial com 25 mil empregados e seis empresas nas áreas de engenharia e construção, mobilidade urbana e rodovias, petróleo e gás, mercado imobiliário, petroquímica e indústria naval. Até o início da Lava Jato, a Odebrecht era a maior empreiteira do Brasil, com sua marca impressa na maioria das grandes obras levantadas de Norte a Sul do país.