ECONOMIA

Retomada econômica será lenta e irregular, prevê Ipea

Ipea prevê recuperação mais robusta no agronegócio, mas alerta que o setor de serviços e o mercado de trabalho serão os últimos a se reerguer do impacto da pandemia. Desafios logísticos da vacinação e condição fiscal são fatores críticos para 2021

Rosana Hessel
postado em 22/12/2020 06:00
 (crédito: editoria de ilustração)
(crédito: editoria de ilustração)

Irregular e gradual. Assim é a recuperação da economia brasileira, atingida pela recessão provocada pela pandemia da covid-19. Uma retomada mais robusta, daqui para frente, dependerá da vacinação em massa e de medidas para alcançar o equilíbrio fiscal, de acordo com o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldo Souza Júnior.
“Estamos projetando retomada da atividade, mas ainda há incertezas, como a própria dinâmica da epidemia, como essa nova disseminação do vírus e dos programas de vacinação, e o risco econômico interno, que é a questão fiscal, ainda bastante preocupante”, alertou Souza Júnior, em entrevista ao Correio para comentar as novas projeções macroeconômicas do Ipea. Ele reconheceu que a descoberta de uma nova cepa do novo coronavírus na Inglaterra pode prejudicar o processo de retomada global, pois ainda não há uma estimativa sobre o verdadeiro impacto e da duração da nova onda de lockdown. “Há um risco do recrudescimento da pandemia. As notícias recentes vindo da Europa geram um ambiente de incerteza, e isso pode pressionar o funcionamento de vários setores, obviamente”, alertou.

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Na avaliação de Souza Jr., o processo de vacinação no Brasil deverá ser lento, pois muitos fatores ainda estão incertos em relação à logística. O governo federal vai enfrentar obstáculos para conseguir imunizar mais da metade da população, medida necessária para uma volta à normalidade. “É uma dificuldade natural, diferentemente da Inglaterra e da Alemanha, que são países pequenos e não possuem áreas isoladas”, explicou.

Souza Jr. ressaltou que as contas públicas já apresentavam desequilíbrio e estavam no vermelho desde 2014. Esses problemas constituem um fator determinante para que a economia brasileira tenha fôlego curto para crescer em ritmo mais forte. Conforme os dados levantados pelo Ipea, o governo desembolsou, até 15 de dezembro, R$ 508,4 bilhões dos R$ 574,9 bilhões gastos emergenciais previstos no enfrentamento da pandemia. Não poderá, entretanto, gastar da mesma forma no ano que vem, pois não já há espaço para novas despesas no Orçamento sem que o teto de gastos seja rompido.

“A crise da pandemia fez com que os gastos públicos aumentassem em patamares muito elevados, e, daqui para frente, será muito importante para o país tomar medidas para conter o aumento do endividamento público em vez de realizar mais gastos”, destacou o diretor do Ipea. Ele lembrou que a dívida pública bruta do Brasil, perto de 100% do PIB, está muito acima da média de países emergentes, de 61,4%, pelas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI). “O único aumento de gasto que precisa ser feito é em investimentos”, defendeu.

Novas projeções

O Ipea divulgou ontem um estudo revisando de 5% para 4,3% a previsão de retração do Produto Interno Bruto (PIB), deste ano, e elevou de 3,6% para 4% a perspectiva de crescimento do PIB de 2021. Conforme as novas estimativas do órgão, a produção industrial e o varejo devem apresentar uma recuperação mais forte neste último trimestre do ano, quando a economia deverá avançar 2,1% na comparação com os três meses anteriores, mas encolher 2,1% em relação ao mesmo período de 2019.

O setor de serviços, principalmente os prestados às famílias (como lazer, cultura e turismo), e o mercado de trabalho, por sua vez, devem ser os últimos segmentos a apresentar recuperação, de acordo com Souza Jr.. A agricultura, por exemplo, que será o único setor a apresentar crescimento neste ano, de 2,3%, deverá avançar 3,8% no ano que vem, com desempenho inferior ao do PIB.

Efeitos modestos

“Embora apresente um desempenho menor do que o PIB, o setor agropecuário vai terminar 2021 acima do patamar de 2019, mas isso não ocorrerá com todos os segmentos e até mesmo com o PIB. Vamos terminar próximo ao patamar pré-crise, mas ainda não haverá uma recuperação completa e ela ainda estará abaixo da trajetória anterior”, explicou.

Conforme dados do estudo do Ipea, no mercado de trabalho, “os efeitos da recuperação, apesar de visíveis, ainda são modestos, e a perspectiva é que a taxa de desemprego ainda aumente antes de começar a cair — devido ao provável aumento da procura por trabalho em 2021”.

O Ipea ainda prevê a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrando o ano em 4,4%, acima do centro da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4% anuais, com teto de 5,5%, principalmente, devido a alta de 18% no preços dos alimentos. A expectativa anterior, de setembro, era de 16,2%.

Para 2021, quando a meta de inflação será de 3,75%, a previsão do Ipea para o custo de vida é de alta de 3,5%, com elevação mais forte em serviços (excluindo educação) e em preços monitorados, de 4% no ano para cada um desses itens.

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