RETOMADA

Abandono do regime fiscal é 'altamente improvável', diz presidente do BC

Campos Neto afirmou que a recuperação em V está perdendo força, mas isso já estava no radar do Banco Central

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (15/12) que parece ser mais barato investir em vacinas a continuar com programas de transferência de renda. Admitiu, ainda, que o mercado está observando as estratégias de vacinação e a logística para a distribuição. “Agora é uma corrida para ver quem tem a vacina mais cedo, como pode fechar a logística de distribuição. Isso muda todos os dias, mas eu acho que investir na vacina agora é mais barato do que prolongar as transferências diretas, e planos como esses. Estamos concentrando nisso e é no que o mercado está focando”, disse, ao participar de um evento da Eurasia Group.

Para ele, a recuperação em V (retomada da atividade depois de uma queda forte) no Brasil está perdendo força. “Tivemos o que foi o início de uma recuperação em V, está perdendo um pouco do ímpeto agora”, disse. Mas isso, contou, já estava no radar do BC e, agora, apesar de um pouco mais fraco, o formato de crescimento em V deve persistir. Ele lembrou que o país não deve abandonar os projetos de ajuste fiscal. Se isso acontecer, e ele definiu como “altamente improvável”, o prêmio de risco associado ao Brasil subirá e o Banco Central terá que agir de olho no efeito desse movimento na inflação.

Equilíbrio das contas públicas 

Na avaliação de Campos Neto, o retorno dos investidores estrangeiros, que vem sendo constatado, vai continuar se o país mantiver o cuidado com o equilíbrio das contas públicas. Por outro lado, ele citou o governo e o ministro da Economia, Paulo Guedes, para amenizar o discurso focado no risco e apontar que o mercado já precificou as instabilidades decorrentes da política e de certa forma avalia a habilidade do governo para avançar nas reformas.

Na apresentação durante seu discurso no evento da Eurasia Group, ele apontou que o perfil da dívida brasileira mudou de perfil, por causa dos gastos extraordinários para o combate à covid-19. “O que nós vamos ter é um perfil de dívida de curto prazo”, avaliou. Mas as iniciativas de auxílio a pessoas físicas e jurídicas fizeram a diferença para manter o país na rota do crescimento, embora moderado. “O crédito aumentou mais que em 2019, o que já foi bom. Agora está em 16,3% em relação ao PIB. Isso está colaborando com nossa recuperação. Não só temos volume alto de crédito, como taxas mais baixas”, reforçou.

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Marcello Casal Jr/Agência Brasil - 7/4/20 - Campos Neto: piora nas contas públicas afugentou investidores estrangeiros e é obstáculo à recuperação
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