CONJUNTURA

Analistas do mercado veem falta de compromisso com ajuste fiscal

Para aliados de Guedes, o recado é que a recuperação da economia não pode depender do Estado, mas será puxada pela iniciativa privada

Marina Barbosa
postado em 07/01/2021 06:00
 (crédito: Isac Nóbrega/PR)
(crédito: Isac Nóbrega/PR)

O ministro da Economia, Paulo Guedes, interrompeu as férias, ontem, em meio ao mal-estar causado pela declaração do presidente Jair Bolsonaro de que o país está quebrado e que, por isso, não pode cumprir as promessas de campanha. Guedes, porém, segue confiante na recuperação da economia brasileira. A percepção difere do sentimento de muitos analistas, que se dizem céticos quanto à disposição do presidente de encarar as medidas econômicas que podem colocar o país nos trilhos novamente.

Na avaliação do chefe da equipe econômica, o setor público, de fato, passa por sérias dificuldades financeiras, já que acumulou deficit superior a R$ 700 bilhões só em 2020 por conta dos gastos emergenciais realizados na pandemia de covid-19 e ainda vai passar alguns anos pagando essa conta. Porém, o Brasil não está quebrado, já que o setor privado está firme, e quer investir.

Para aliados de Guedes, o recado é que a recuperação da economia não pode depender do Estado, mas será puxada pela iniciativa privada. Também é uma forma de dizer que o governo não pode mais bancar programas como o auxílio emergencial e o benefício emergencial de manutenção do emprego e da renda. “Não dá para contar com o Estado na retomada, é preciso criar as condições para a iniciativa privada investir”, avaliou uma fonte do Ministério da Economia, que garantiu que a equipe econômica está preparando medidas que podem ajudar nesse sentido assim que o Congresso retomar os trabalhos.

Logo depois da reunião ministerial, o presidente Bolsonaro também tentou minimizar a questão, voltou atrás na própria declaração e disse a aliados que, na verdade, o país está “bem, uma maravilha”. O vaivém das declarações do chefe do Executivo, no entanto, aumentou as incertezas do mercado sobre o apoio do Planalto às medidas de ajuste fiscal para conter o crescimento da dívida pública e às reformas econômicas que podem trazer mais investimentos privados para o país.

“O presidente tira o foco dos problemas com esse tipo de declaração, mas o fato é que nós temos um grande desafio para encarar na saúde e nas contas públicas. Ele fala que não pode fazer nada e depois diz que está tudo bem. Isso revela o baixo compromisso em lidar com essas questões. A sinalização não é de reformas”, lamentou a economista Zeina Latif. “Não adianta o presidente se desmentir dizendo que está tudo ótimo, porque a questão econômica vai demandar um esforço grande neste ano. É preciso voltar a discutir as reformas fiscais”, acrescentou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

Os economistas não veem, no entanto, espaço para avanços muito significativos na pauta fiscal nos próximos meses. Eles explicam que, apesar de ser defendida de forma enfática por Guedes, essa agenda deve ser encampada por todo o governo, sobretudo pelo presidente, para avançar. Afinal, requer medidas impopulares, como cortes de gastos e/ou aumento de impostos, que agora devem sofrer mais resistência já que o país ainda enfrenta a pandemia de covid-19 e a classe política, incluindo Bolsonaro, está de olho nas eleições de 2022.

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