O principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, bateu o recorde de fechamento pelo segundo dia consecutivo e atingiu os 125.076 pontos, com alta de 2,20%, nesta sexta-feir (8/1). Vale lembrar que no ano passado, logo após a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerar a crise do novo coronavírus como pandemia, em março, o índice teve sua maior queda na história e foi aos 63 mil pontos.
O bom desempenho, no entanto, não é porque a pandemia acabou. O resultado expressivo na Bolsa vem no mesmo momento em que o número de mortos por covid-19 no Brasil ultrapassa os 201 mil, segundo dados do Ministério da Saúde. Nos Estados Unidos, principal economia do mundo e onde a onda de otimismo com a vacina já começou, a situação não é muito diferente: o número de mortes diárias no país passou de 4 mil. Em apenas uma semana, foram mais de 20 mil óbitos.
Porém, o ambiente de vacinas tem se mostrado promissor. Aqui no Brasil, o impasse sobre a aquisição de seringas foi resolvido após o presidente Jair Bolsonaro assinar uma Medida Provisória que permite a compra dos insumos sem licitação. Nesta sexta, o instituto Butantan fez um pedido à Anvisa para uso emergencial da CoronaVac, imunizante desenvolvido junto à chinesa Sinovac Biotech. Já a Fiocruz também solicitou o uso emergencial da vacina desenvolvida pela AstraZeneca e pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Especialistas apontam, no entanto, que as notícias envolvendo vacinas já não são novidade para o mercado. O otimismo vem de fora, mais precisamente dos Estados Unidos. Com o caminho "livre" para o democrata Joe Biden, após o presidente Donald Trump finalmente reconhecer sua derrota, o mercado espera por uma injeção de dinheiro na economia. E o que se vê na pandemia é que os incentivos de bancos centrais, como é o caso do amerciano Federal Reserve (Fed), têm se traduzido em mais liquidez e, consequentemente, em mais investimentos em países emergentes, como o Brasil.
Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, explica que esse é o fator que deu o tom nos mercados na segunda metade da semana. "O grande motivo dos mercados serem beneficiados na semana foi a definição no Senado americano. Isso trouxe um horizonte de estímulos financeiros, principalmente para países emergentes. E a Bolsa brasileira é muito beneficiada pela composição do Ibovespa, com bancos e commodities. Isso tem carregado os mercados e na alta de hoje não foi diferente", detalha.
Dólar
Já no dólar, que tem subido pregão após pregão, destoando do resultado da Bolsa, a sexta-feira também foi de valorização frente ao real: venda a R$ 5,41, com alta de 0,32%. "Parece estranho, mas o dólar está se valorizando frente ao real, e isso pode ser um sinal de que o risco-Brasil está aumentando e os juros também. Inflação alta faz os juros futuros subirem mais e o mercado já está precificando uma inflação maior", afirma.
Já Lucas Collazo, analista da Rico Investimentos, destaca que a notícia da efetividade da vacina da americana Pfizer e da BioNTech contra a nova variante do coronavírus é algo positivo. Ele ressalta que, no pregão de sexta-feira, as ações que elevaram o índice Ibovespa aos 122 mil pontos no dia anterior tiveram desempenho diferente.
"Quando a gente olha para o Ibovespa, a gente vê alguns setores subindo bastante, como o comércio subindo mais de 4%, construção civil subindo mais de 5%, energia elétrica também. Mas os bancos e commodities tiveram queda, com uma realização também com empresas mais ligadas à retomada da economia. Foi um movimento um pouco diferente do dia anterior. A alta foi puxada por outros setores", diz.
Ele também afirma que o mercado ainda não está preocupado com a eleição na Câmara dos Deputados e no Senado no Brasil. A depender de quem for escolhido, a agenda de reformas pode ir em frente ou ser colocada de lado. Mas a principal discussão deste ano, na análise de Collazo, é a capacidade de gerenciar a distribuição de vacinas.
"Essa é a principal pauta. Processos políticos podem acabar interferindo, mas de forma geral, essa é a principal. E com essas questões saindo da frente, o medo com o teto de gastos saindo da frente, o governo tem que voltar com a agenda de reformas para sinalizar para os investidores e para o exterior esse compromisso com a direção fiscal. Para controlar a trajetória futura da dívida, o caminho das reformas é o melhor possível", avalia.
Ao falar do dólar, Collazo relembra que a moeda é uma espécie de reserva de valor, assim como é o ouro, exemplifica. "É a moeda lastreada na mais sólida economia do mundo, a norte-americana. Quando ele se valoriza, é porque os investidores estão fugindo do risco e buscando algo mais seguro", ressalta. Vale lembrar que quando há um movimento de retirada de investimentos estrangeiros do país, o dólar se valoriza em relação ao real. Algo que ocorre no atual momento, segundo o analista, porque há pouca atratividade no Brasil para investimentos.
"Já que a gente não exporta mais juros, o investidor viria para comprar crescimento. Mas temos ainda a questão fiscal, que preocupa o investidor, porque ele fica receoso com relação à administração da dívida pública. O investidor dificilmente vai colocar o dinheiro aqui se não tiver crescimento. Nós acreditamos que o dólar vai se enfraquecer levemente e se manter próximo a esse valor acima dos R$ 5 por um tempo, porque realmente não há motivos para o investidor vir para cá", completa.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro
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