Ford fecha no país após 102 anos

CONJUNTURA / Montadora alega reestruturação e anuncia fim da produção de veículos, com fechamento imediato das unidades na Bahia e em São Paulo (a do Ceará opera só até o fim do ano). Cerca de 5 mil trabalhadores perderão o emprego, no Brasil e na Argentina

Correio Braziliense
postado em 11/01/2021 21:13

Depois de 102 anos operando no país, a Ford anunciou, ontem, que vai encerrar a produção de veículos no Brasil. As três fábricas, em Camaçari (BA) e em Taubaté (SP) da marca Ford, e em Horizonte (CE), da Troller, serão fechadas –– as duas primeiras, imediatamente, e a terceira até o quarto trimestre de 2021. A justificativa da montadora é a reestruturação na América do Sul, “à medida que a pandemia de covid-19 amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”. A companhia manterá o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, o Campo de Provas, em Tatuí (SP), e sua sede regional em São Paulo. Aproximadamente 5 mil trabalhadores perderão emprego, aqui e na Argentina.


Os consumidores brasileiros serão atendidos por unidades produtivas da Argentina, Uruguai e outros mercados, informou a montadora. “A Ford atenderá a região com seu portfólio global de produtos e manterá assistência total ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia para seus clientes no Brasil e na América do Sul”, anunciou.


Segundo Jim Farley, presidente e CEO da Ford, “estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com produtos do nosso portfólio global”.


Sobre os funcionários, a empresa disse que desenvolverá um “plano justo e equilibrado para minimizar os impactos” do encerramento da produção. “Trabalharemos intensamente com os sindicatos, nossos funcionários e outros parceiros para desenvolver medidas que ajudem a enfrentar o difícil impacto desse anúncio”, disse Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul e Grupo de Mercados Internacionais.

Impacto

Como resultado, a Ford encerrará as vendas do EcoSport, do Ka e do Troller T4 assim que terminarem os estoques. “As operações na Argentina e no Uruguai, e as organizações de vendas em outros mercados da América do Sul não serão impactadas”.


Com a medida, a Ford prevê um impacto de aproximadamente US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes, US$ 2,5 bilhões em 2020 e US$ 1,6 bilhão em 2021. Aproximadamente US$ 1,6 bilhão será relacionado ao impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciação acelerada e amortização de ativos fixos. Os valores remanescentes de aproximadamente US$ 2,5 bilhões impactarão diretamente o caixa e estão relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos.


No início de 2019, a Ford anunciou o fechamento da fábrica em São Bernardo do Campo (SP) e retirou-se do mercado de caminhões. Esta planta era uma das mais antigas do país e, com os veículos pesados, produzia também o compacto Fiesta.


A gigante norte-americana chegou ao Brasil em 1919 e, em 1923, montava em território nacional aproximadamente 5 mil veículos e cerca de 350 tratores. Em 1955, começou efetivamente a construir automóveis no Brasil e, pouco mais de uma década depois, ampliava sua participação no mercado nacional ao assumir as operações da também norte-americana Willys-Overland.


Os anos 1970 foram os mais profícuos para a Ford, quando lançou ícones do automobilismo brasileiro, como o Galaxie, o Maverick e o Corcel — que, por sinal, foi o primeiro carro movido a álcool a ser oferecido ao consumidor.


Em 1987, a Ford deu o primeiro sinal de que ia mal das pernas ao associar-se à Volkswagen no projeto da Autolatina, em que as duas montadoras compartilhavam plataformas, projetos e inventário de peças. A iniciativa, porém, durou menos de 10 anos e, em 1996, a junção das duas fábricas se encerrava sem deixar saudades no mercado. Desde então, a Ford deixou de ser protagonista no mercado consumidor nacional, perdendo espaço para as montadoras japonesas, francesas, coreanas e, mais recentemente, já sendo ameaçada pelas chinesas.


A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) emitiu nota na qual diz: “Respeitamos e lamentamos (a decisão da Ford). Mas isso corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano sobre a ociosidade local, global e a falta de medidas que reduzam o custo Brasil". (Colaborou Fabio Grecchi)

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