Indústria automobilística

Anfavea cobra R$ 25 bilhões de créditos tributários a receber

Associação Nacional de Veículos Automotores já apresentou sugestões para melhorar competitividade do setor e impedir que casos como o da Ford, que fechou as fábricas do Brasil, se repitam

Simone Kafruni
postado em 13/01/2021 19:23
Presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, diz que fechamento da Ford é momento triste para indústria -
Presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, diz que fechamento da Ford é momento triste para indústria -

O setor automobilístico tem R$ 25 bilhões em créditos tributários a receber, que acabam financiando as contas públicas, afirmou, nesta quarta-feira (13/1), o presidente da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes. Ele defendeu simplificação tributária e transparência sobre os valores que deveriam ser reembolsados às empresas e estão represados. “Não querem discutir benefícios e incentivos, ok, então vamos falar de crédito tributário. Temos sugestões para monetizar o crédito”, disse.

A saída da Ford do Brasil, anunciada esta semana, é um momento triste para a indústria brasileira, lamentou Moraes. “A única coisa boa é que o debate veio à tona, porque há preocupação que isso se estenda para outros setores. Caiu a ficha sobre o que falamos há dois anos”, afirmou. Em maio de 2019, a Anfavea encomendou um estudo para comparar cinco montadoras que produzem o mesmo veículo no Brasil e no México. “A conclusão é que é 18% mais caro fabricar no Brasil. Apresentamos esses dados para todos os fóruns e ministérios”, relatou Moraes.

Segundo ele, nenhum país tributa exportação para ter competitividade. No Brasil, no entanto, há um resíduo tributário de 12% nas exportações. “A cada US$ 100, US$ 12 são para FGTS, PIS, Cofins, Imposto de Importação, entre outros. Nós fizemos pareceres jurídicos, mostramos as incoerências da carga tributária”, ressaltou.

Ao comprar um carro, é pago Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS), mesmo usado que já pagou o mesmo tributo. “Vai pagar IPVA. Se financiar vai pagar IOF, se fizer seguro, vai pagar IOF de novo. É muita carga tributária. O governo tem problema fiscal, todos os estados têm. Pois que façam a lição de casa e reduzam o custo como as empresas fazem”, alfinetou.

Crise fiscal

A indústria tem créditos tributários. “O último levantamento que fiz é de R$ 25 bilhões a receber. Mas quando a empresa vai falar com a Receita ou as secretarias de Fazenda dos estados, isso vai ficando para trás, todo mundo quieto, por conta da crise fiscal. Não é possível, dinheiro dessa magnitude por tanto tempo”, reclamou. De acordo com o presidente da Anfavea, o valor não é transparente, nem divulgado. “Temos que buscar uma solução definitiva para isso.”

Moraes lembrou que a Anfavea participa de reuniões quinzenais com a Secretaria de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec) do Ministério da Economia. “A Sepec criou um formulário para definir prioridades, elencando sugestões, como redução da taxa da Marinha Mercante, volta do Reintegra, programa de reembolso das exportações e outras medidas”, estimou o presidente da Anfavea.

 

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Ford quer focar em Pickups e SVUs

Saída da montadora do país foi acelerada pela pandemia

Para Flavio Padovan, ex-presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), o setor automotivo é uma indústria muito competitiva e nunca é bom atuar num mercado onde não se sabe até quando existirão incentivos. “Só há incentivo onde há ineficiência. E o Brasil vem nessa toada faz tempo”, destacou.

No entanto, Padovan ressaltou que a saída da Ford é uma decisão costurada lá atrás, acelerada pela pandemia. “Desde que resolveu fechar as operações de caminhões, dois anos atrás, isso já estava sendo desenhado. Só foi antecipado”, assinalou. Segundo ele, todo o planejamento da companhia foi feito em cima de uma projeção de volumes que não vingou, por conta das sucessivas crises. “A Ford não saiu do segundo pelotão”, disse.

O especialista explicou que GM, Volkswagen e Fiat têm de 16% a 17% de participação no mercado, cada. Enquanto a Ford, detém de 6% a 7%, junto com outras montadoras, como Hyundai, Toyota, Renault. “Essa fatia vai ser absorvida por outras montadoras, que estão competindo no mesmo segmento”, assegurou.

Padovan avaliou que a decisão da Ford passou pela estratégia global de se livrar dos negócios onde perde dinheiro. “A companhia decidiu focar em Pickups e SVUs. Por isso, vai manter plantas onde fabrica esses produtos, como Argentina e Uruguai”, disse. Para ele, todas as outras montadoras serão beneficiadas, porque os produtos são similares e nas mesmas faixas de preços.

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