Conjuntura

Reformas no BB irritam o Planalto; Brandão pode ser demitido

Programa de demissão de servidores e fechamento de agências repercute mal entre parlamentares e irrita Bolsonaro, que vê prejuízos, com a medida, à estratégia de eleger aliados para o comando da Câmara e do Senado. Ações despencam na bolsa

Marina Barbosa
Rosana Hessel
postado em 14/01/2021 06:00
 (crédito: Edilson Rodrigues/Agencia Senado)
(crédito: Edilson Rodrigues/Agencia Senado)

A repercussão ruim junto a parlamentares dos planos de demissão de funcionários e de enxugamento do número de agências e postos de atendimento do Banco do Brasil (BB) irritou o presidente Jair Bolsonaro, gerando uma nova crise na equipe econômica e colocando na berlinda o presidente da instituição, André Brandão. Rumores da demissão do executivo mexeram com os mercados e as ações do BB desabaram quase 5%, ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo (B3).

Na segunda-feira, o Banco do Brasil divulgou ao mercado um projeto de reestruturação prevendo o fechamento de 361 postos de atendimento, incluindo 112 agências, e um Programa de Demissão Voluntária (PDV) de até 5 mil funcionários. O objetivo das medidas é economizar R$ 2,7 bilhões até 2025. Atualmente, o BB emprega 92,1 mil trabalhadores, número inferior ao dos dois maiores bancos privados do país, Itaú Unibanco e Bradesco.

Os planos de reestruturação e de demissões do BB eram de conhecimento do Palácio do Planalto e apoiados pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, mas acabaram sendo um tiro no pé de Bolsonaro, que tenta eleger seus candidatos para a presidência da Câmara e do Senado, de acordo com fontes próximas ao banco.

O presidente busca ter maior controle sobre o Legislativo na próxima eleição do comando das duas Casas do Congresso, e, nas últimas conversas com parlamentares, não gostou do que ouviu sobre o programa de fechamento de agências do BB. Muitas cidades pequenas são dependentes do serviço bancário, principalmente, no Nordeste, que deve sentir mais o impacto das medidas. Segundo as fontes, o presidente escolheu um timing muito ruim para articular as candidaturas e explicar as demissões no BB, inclusive, “o fim da comissão dos caixas, alterando uma função básica na atividade bancária”.

As medidas do BB geraram críticas, principalmente, entre os integrantes da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos, que reúne mais de 200 deputados e senadores e serão importantes para a eleição dos candidatos de Bolsonaro. A Frente é presidida pelo deputado Zé Carlos (PT-MA), que classificou o plano como um “desmonte” para a privatização do BB. O partido, apesar de ser da oposição, vai apoiar o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato de Bolsonaro para a presidência do Senado.

Além disso, o fato de Brandão não ter aberto espaço para nomeações políticas teria criado insatisfação no Planalto. Há fontes que temem, inclusive, que o alto escalão do BB vire um balcão de negócios para garantir a eleição do deputado Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão, como presidente da Câmara.

Apesar de ter apenas quatro deputados e um senador na agenda oficial até ontem, o presidente vem falando com muito mais parlamentares nesse processo de articulação das eleições do Congresso, e expressou a eles a vontade de demitir o presidente do BB.

Tensão

No Banco do Brasil, o clima, ontem, era de tensão. Diante dos rumores deque, a qualquer momento, o Planalto pode anunciar a demissão do presidente da instituição, as ações ordinárias (com direito a voto) do BB encerraram o pregão de ontem com queda de 4,94%, figurando em segundo lugar entre as cinco maiores perdas do dia. O Índice Bovespa, principal indicador da B3, recuou 1,67%, fechando a 121.933 pontos.

Enquanto isso, o ministro Paulo Guedes, tentava reverter a demissão de Brandão junto ao presidente, da mesma forma que conseguiu evitar o cartão vermelho do secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, no ano passado. A percepção, contudo, é de que a repercussão negativa do programa de demissões do BB foi apenas a gota d’água para que Bolsonaro expusesse uma insatisfação que vinha sendo nutrida em relação a Brandão.

De perfil técnico e discreto, Brandão evitou polêmicas nos últimos meses, diferentemente do antecessor, Rubem Novaes, que não poupava críticas à política de Brasília e não escondia o desejo de privatizar o Banco do Brasil. Além disso, o executivo privilegiou os funcionários de carreira na hora de definir a nova diretoria do Banco do Brasil.

Brandão foi indicado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e deixou um cargo de liderança do HSBC nos Estados Unidos. Campos Neto, inclusive, está na agenda de Guedes nesta quinta-feira, e há rumores de que Brandão pode, inclusive, ser realocado no Ministério da Economia, como aconteceu com Novaes, que virou assessor especial de Guedes após pedir demissão da presidência do BB. Procurados, o Banco do Brasil e o Ministério da Economia não comentaram o assunto até o fechamento desta edição.

Serviços não anulam perdas

O setor de serviços cresceu 2,6% em novembro do ano passado, na comparação com outubro. O sexto resultado mensal positivo veio acima das expectativas do mercado, mas não bastou para anular as perdas sofridas na pandemia de covid-19. E, segundo especialistas, não se sustenta no curto prazo. Há receio de que o setor volte para o vermelho neste início de ano por conta do recrudescimento da disseminação do novo coronavírus. Responsável por cerca de dois terços do Produto Interno Bruto (PIB), o setor foi o mais atingido pela crise sanitária, e acumula retração de 8,3% nos 11 primeiros meses de 2020.

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