Comércio e meio ambiente

Soja: no Brasil, só críticas a Macron

Governo avalia que o presidente da França se mostrou mal informado ao associar o cultivo do grão ao desmatamento na Amazônia e propor a redução das importações do produto brasileiro

Vera Batista
postado em 13/01/2021 23:07
 (crédito: Francois Mori/AFP)
(crédito: Francois Mori/AFP)

As declarações do presidente da França, Emmanuel Macron, propondo reduzir a importação da soja brasileira, associando o plantio no país ao desmatamento da Amazônia, e de desenvolver a produção em solo francês como prova de compromisso com a proteção ambiental, tiveram forte reação do governo e do agronegócio. Para especialistas, as pretensões de Macron, manifestadas na terça-feira, durante visita a produtores agrícolas franceses, não são factíveis.

Ontem, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, também presidente do Conselho Nacional da Amazônia, destacou que Macron “externou interesses protecionistas dos agricultores franceses”. E ironizou: “Monsieur Macron n’est pas bien (não está bem, em francês). Monsieur Macron desconhece a produção de soja no Brasil, que é feita no cerrado ou no sul do país. A produção agrícola na Amazônia é ínfima”, declarou.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), informou, em nota, que o Brasil é o maior exportador de soja do mundo, abastece mais de 50 países com grãos, farelo e óleo. E avaliou que o mandatário francês “mostrou completo desconhecimento sobre o processo de cultivo, e leva desinformação a seus compatriotas”. Segundo o Mapa, “toda a produção nacional tem controle de origem. A soja brasileira, portanto, não exporta desmatamento”.

O cientista Evaristo de Miranda, chefe-geral da Embrapa Territorial, que trata do monitoramento de terras por satélite, afirmou que é “impossível Macron fazer o que anunciou”. “É o discurso de um político que perde a popularidade a cada dia, porque não conseguiu fazer as reformas prometidas em campanha”, ironizou. Caso ele concretize a ameaça, “a comida na mesa dos franceses vai ficar mais cara, porque as leguminosas brasileiras estão presentes no queijo, no presunto e no salmão da França, já que alimentam o frango, o suíno e o gado leiteiro”.

Segundo Miranda, “a França consome 160 quilos de soja por segundo”. A União Europeia importa 13 milhões de toneladas de soja por ano, dos quais uns 5 milhões vão para França. Desse total, 87% são usados na alimentação de animais: aves (50%), suínos (24%), vacas leiteiras (16%), bezerros (6%) e peixes, sobretudo salmão (4%). Além disso, a produção de soja da França é de 200 mil toneladas por ano, equivalentes a 5% da demanda, é irrigada e custa caro. “Affaire à suivre (que as coisas sigam o seu rumo), sem muita preocupação ou urgência”, analisou Miranda.

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que na terça lamentou o “ataque à soja brasileira”, preferiu não se manifestar ontem. O Itamaraty não respondeu à reportagem.

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