GOVERNO

Reforma do BB pode ficar mais lenta

Marina Barbosa
postado em 15/01/2021 23:22
 (crédito: Fernando Bizerra)
(crédito: Fernando Bizerra)

A crise do Banco do Brasil (BB) entrou em compasso de espera. A ideia é silenciar e deixar a poeira baixar para voltar a tratar do plano de reestruturação que irritou o presidente Jair Bolsonaro e quase custou a demissão do presidente do BB, André Brandão. Os bancários, no entanto, seguem tentando reverter o projeto. Por isso, já se reuniram com executivos do banco e passaram a pedir ajuda de parlamentares para evitar o fechamento de agências e uma nova rodada de demissões no BB.

Segundo fontes da equipe econômica, o impasse sob o comando do BB foi silenciado e tudo fica onde está por enquanto. Isto é, Brandão pode ter ganhado uma sobrevida, apesar de o Palácio do Planalto ter confirmado que Bolsonaro pediu a demissão do executivo ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Já o plano de reestruturação, oficialmente, está mantido. Mas pode passar a andar mais devagar a partir de agora, já que, diante da permanência de Brandão, o Planalto pressionou para que o projeto fosse revisado.

O plano original do Banco do Brasil é de fechar 361 unidades de atendimento e desligar até 5 mil funcionários, por meio de um plano de demissão voluntária, ainda neste primeiro semestre. Porém, a tendência é que quaisquer novos anúncios sobre o assunto fiquem para depois da eleição dos próximos presidentes da Câmara e do Senado. Afinal, foi a queixa de parlamentares que não gostaram de saber que o BB fecharia agências em suas bases eleitorais que fez Bolsonaro perder a paciência com o projeto. O presidente teme que a medida reduza o apoio aos seus candidatos nas eleições internas do Legislativo. Tanto que, em meio à fritura de Brandão, funcionários do banco tiveram receio de que o alto escalão do BB virasse um balcão de negociações com o Centrão.

A permanência do executivo, que abandonou um cargo de chefia do HSBC nos Estados Unidos para assumir a presidência do BB há apenas quatro meses, foi defendida por Guedes e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A equipe econômica viu o mercado reagir negativamente à ameaça de demissão, por entender que esta seria uma ingerência política que impediria Brandão de implantar a agenda de eficiência e modernização que foi convocado a executar no BB. É por conta disso, por sinal, que integrantes da equipe econômica também defendem a manutenção do plano de reestruturação do BB, mesmo que em ritmo mais lento. Uma fonte lembrou que o BB é uma sociedade de economia mista, com ações negociadas em Bolsa. Logo, deve seguir regras de governança, segundo as quais o plano de reestruturação deveria passar pelo crivo da diretoria e do Conselho de Administração do banco e não do seu acionista majoritário, o governo.

Enxugamento
Diante da repercussão negativa do projeto de reestruturação, inclusive no Palácio do Planalto, os funcionários do BB seguem tentando reverter o enxugamento da rede de agências e do quadro de pessoal do BB. Por isso, tiveram uma reunião com representantes da administração do Banco do Brasil, que ficaram de apresentar as reivindicações dos bancários ao Comitê Gestor do BB e voltar a conversar sobre o assunto. Associações de funcionários ainda enviaram uma “carta a parlamentares” ontem, pedindo que o Congresso Nacional ajude a barrar o projeto.

Os funcionários temem que este seja apenas o início de um processo de desmonte que levaria à privatização do BB. E alegam que “inovação digital é bem-vinda, desde que combinada com uma rede capaz de atendimento presencial”, já que nem toda a população brasileira tem facilidade com os meios digitais, e o BB é o único banco com atendimento presencial em muitas das pequenas cidades do interior do país. O apelo enviado ao Congresso também lembra que o BB pode contribuir com o enfrentamento à crise da covid-19 por meio de ações como o crédito e destaca que o momento já é de elevação do desemprego.

“Diante do fato de o banco ter atendido nosso pedido de aceitar participar da reunião de quarta-feira e da afirmativa de que nossas reivindicações seriam levadas ao Comitê Gestor do BB, além do fato de estarmos em mobilização nacional, acredito ser possível uma rodada de negociações extraordinária e, a depender da posição dos parlamentares contatados, que a diretoria do banco seja obrigada a recuar na implantação oportunística de desmonte do papel social do BB”, disse Arimarcel Padilha, membro do Contec.


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