CONJUNTURA

Incerteza provoca alta do dólar

Apreensão com deterioração das contas públicas e piora da economia devido ao agravamento da pandemia deixaram o mercado nervoso

Jailson R. Sena*
postado em 21/01/2021 23:01 / atualizado em 22/01/2021 02:45
 (crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)
(crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)

Preocupações com a deterioração das contas públicas e com a piora da economia por conta do agravamento da pandemia de covid-19 levaram nervosismo ao mercado financeiro ontem. Após abrir em baixa, refletindo a decisão do Banco Central de manter em 2% ao ano a taxa básica de juros, o dólar encerrou a quinta-feira em alta de 0,98%, cotado a R$ 5,36 para venda. Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), fechou em queda de 1,10%, aos 118.329 pontos.

Novamente, o real foi a moeda com pior desempenho ante o dólar no mercado internacional, considerando as 34 divisas mais líquidas. Na Bolsa, foi determinante para o humor dos investidores a preocupação com a vacinação contra a covid-19 avance em um ritmo abaixo do esperado, devido a problemas como a falta de insumos. Além disso, a situação dramática vivida em algumas cidades, como Manaus, teve forte pressão baixista nos negócios.

Teto
A situação fiscal vem dominando as preocupações do mercado nas últimas semanas, e ganhou destaque com a percepção de que o governo não tem uma diretriz clara sobre como lídar com as necessidades da crise e com as pressões por maiores aumentos de gastos, que vêm, sobretudo, do Congresso. No meio da tarde, em entrevista ao Estado de S. Paulo, o candidato à Presidência do Senado apoiado pelo Palácio do Planalto, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que o teto de gastos (emenda constitucional que limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior) “não é intocado”.

“O teto não pode ser intocado em um momento de extrema necessidade em que é preciso salvar vidas. Obviamente, essa rigidez pode, eventualmente, ser relativizada, mas vamos trabalhar muito para que não seja relativizada”, disse Pacheco. Ele defendeu uma solução para “remediar o problema dessas pessoas mais vulneráveis, seja com auxílio emergencial renovado, seja com incremento do Bolsa Família”.

A preocupação do mercado financeiro é que o aumento de gastos sociais, como com o auxílio emergencial, sem a contrapartida de cortes e em outras áreas ou reforço de receitas, termine por elevar ainda mais a dívida pública. “É importante olhar a situação social com atenção. Mas, infelizmente, não temos condição de manter os estímulos do ano passado”, disse a economista da Itaú Asset Mirella Sampaio, em live da Moldamais.

No mesmo evento, a economista-chefe da ARX Investimentos, Elisa Machado, observou que a questão do auxílio emergencial coloca o governo em uma encruzilhada. Retirar totalmente a medida pode afetar a ainda incipiente retomada da economia. Manter o benefício é complicado por causa da situação deteriorada das contas fiscais. “O cobertor é curto”, disse ela. Na visão da economista, para prorrogar o auxílio sem gerar mais ruídos no mercado, “Brasília precisa mostrar uma história bem contada de que não haverá descontrole fiscal”. Procurado, o Ministério da Economia não comentou o assunto. (Com Agência Estado)

*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo

“O cobertor é curto. Brasília precisa mostrar uma história bem contada de que não haverá descontrole fiscal”

Elisa Machado, economista-chefe da ARX Investimentos


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