Com o mercado temendo indicações políticas para o comando da Eletrobras, o Conselho de Administração da companhia decidiu tomar a frente do processo de seleção do sucessor de Wilson Ferreira Júnior. A decisão tenta garantir que um nome técnico assuma o posto a partir de março, quando Ferreira Júnior deixa a estatal para comandar a BR Distribuidora.
Em fato relevante divulgado na noite desta segunda-feira (25/01), o Conselho de Administração da Eletrobras informou que decidiu por unanimidade contratar uma "consultoria externa, independente, especializada em recrutamento e seleção de altos executivos (headhunter), a fim de assessorar o colegiado no processo de seleção e eleição do novo Presidente da Eletrobras".
O Conselho também afirma que tem a "atribuição legal e estatutária" de eleger o sucessor de Wilson Ferreira Junior. E ressalta que essa escolha deve seguir "critérios e parâmetros técnicos capazes de identificar o candidato que melhor se adeque ao perfil, às qualificações técnicas e à experiência profissional necessários para assegurar a continuidade dos trabalhos de aprimoramento da governança e gestão da Eletrobras".
A renúncia do presidente da Eletrobras, no entanto, já deu início a conversas sobre a sucessão no governo. Nomes militares já são cotados para o cargo e o mercado teme que o posto seja negociado com o Centrão. "O risco, agora, é de abertura da Eletrobras para um maior loteamento político. Dificilmente a empresa será assumida por alguém com o objetivo de privatizá-la em dois anos, diante da falta de apoio do Planalto nesse sentido", disse, por exemplo, o analista político da XP Investimentos, Richard Back.
Segundo o analista da XP, esse temor ganhou força tanto por conta da proximidade da eleição da Câmara dos Deputados, quanto por causa da crise que quase custou a demissão do presidente do Banco do Brasil, André Brandão, neste mês. É que a ameaça de demissão no BB foi vista pelo mercado como uma interferência política e uma prova do "ímpeto intervencionista" de Jair Bolsonaro.
O headhunter aprovado pelo Conselho de Administração da Eletrobas, no entanto, pode criar entraves a esses movimentos e vem depois de o próprio Wilson Ferreira Junior defender a indicação de um nome técnico, com conhecimento do mercado. O executivo também garantiu que vai acompanhar de perto a transição e continuar trabalhando pela privatização da empresa como conselheiro.
"A Companhia informa que a renúncia apresentada pelo Sr. Wilson Ferreira Junior diz respeito tão somente ao cargo de presidente da Eletrobras, de modo que ele permanece ocupando uma das cadeiras do Conselho de Administração da Eletrobras e, juntamente com os demais conselheiros, está comprometido com a implementação das ações enunciadas no PE 2020-2035 e no PDNG 2021-2025 e com o alcance dos resultados em linha com as metas ali pactuadas", reforça o fato relevante.
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