CONJUNTURA

Saída de presidente é mais um revés na tentativa de privatização da Eletrobras

Como consequência da saída de Wilson Ferreira Junior, ações da companhia caem na Bolsa

Marina Barbosa
postado em 26/01/2021 06:00
 (crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
(crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Apesar de ter sido prometida para este ano pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a privatização da Eletrobras está em xeque. O presidente da estatal, Wilson Ferreira Junior, renunciou ao cargo dizendo que não vê espaço para o andamento do projeto durante este mandato de Jair Bolsonaro. Ele explicou que, apesar de defendido pelo Executivo, o projeto não ganhou “tração” e não desfruta de “capital político” para avançar no Congresso Nacional.

Ferreira Junior é presidente da Eletrobras desde o governo de Michel Temer. Ele vinha trabalhando em um processo de reestruturação que conseguiu reverter os prejuízos e aumentar a competitividade da estatal, deixando-a “pronta para a privatização”. Mas, ontem, admitiu que vai deixar o cargo porque não tem certeza sobre o andamento da desestatização, que, para ele, é crucial para a ampliação dos investimentos da companhia.

No Congresso desde 2018, o projeto de lei que prevê a privatização da Eletrobras chegou a ser atualizado em 2019 pelo governo Bolsonaro. Porém, ainda não avançou, pois sofre resistência de muitos parlamentares, e porque o governo precisou mudar a ordem de prioridades no ano passado por conta da pandemia de covid-19.

Na avaliação de Ferreira Junior, a privatização não vai decolar antes de 2023. É que o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), favorito na disputa pela Presidência do Senado, já disse que o assunto não é prioritário. E, em 2022, os parlamentares estarão voltados às eleições, logo devem evitar “tabus” como as privatizações. “Fica muito difícil se não for uma prioridade agora”, avaliou.

O presidente da Eletrobras destacou que esta é uma avaliação pessoal e que ainda há compromisso do governo com o projeto, sobretudo dos ministros de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e da Economia, Paulo Guedes. Não foi o suficiente, contudo, para dar confiança ao mercado.

Os papeis da Eletrobras caíram quase 11% na Bolsa de Nova York e ainda não sentiram o baque por aqui porque a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) estava fechada ontem, em virtude do feriado de aniversário de São Paulo. “Muito provavelmente vai acontecer o mesmo, talvez não nessa magnitude, mas vai abrir com uma forte baixa, porque foi uma decepção para os investidores, que tinham muita expectativa pela privatização”, avisou o analista da Guide Investimentos, Henrique Esteter.

Cargos por apoio

O mercado ainda está de olho no sucessor de Ferreira Junior, que, agora, vai comandar a BR Distribuidora, privatizada em 2019. É que, embora o executivo tenha dito que há nomes técnicos com capacidade de sucedê-lo dentro da empresa, os analistas temem que o posto vire alvo de negociações políticas. Já há, inclusive, militares sendo cotados para o cargo.

Também se acredita que o posto possa ser negociado com o Centrão, que tem levado cargos no governo para garantir apoio ao Planalto no Congresso, e sempre esteve de olho na Eletrobras: além de garantir salários altos, a estatal é um ativo importante em muitas bases eleitorais, já que comanda a distribuição de energia elétrica e projetos como o de revitalização do Rio São Francisco.

 

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Guedes apela ao Congresso: "limpe a pauta"

Em meio aos ruídos sobre a renúncia do presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, o ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu que o Congresso Nacional “limpe a pauta” e acelere as privatizações neste ano para garantir a retomada sustentada da economia brasileira.

Guedes não comentou diretamente a renúncia de Ferreira Junior, mas voltou a dizer, ontem, que é preciso acelerar a pauta de reformas, a agenda de privatizações e a aprovação de novos marcos regulatórios para garantir a recuperação da economia brasileira.

“Vamos limpar a pauta. Está lá todo o destravamento da nossa retomada”, afirmou. O ministro reconheceu que foi preciso mudar a ordem de prioridades no ano passado, por conta da pandemia de covid-19, mas reclamou que há pautas importantes paradas tanto na Câmara, quanto no Senado.

Em outras ocasiões, Guedes já creditou ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a paralisia das privatizações e da reforma tributária. Diante da perspectiva de mudança no comando da Câmara e do Senado, e por entender que “o Congresso é reformista”, Guedes disse que espera a retomada da agenda de reformas tão logo o Congresso retome os trabalhos legislativos.

Assim como o presidente da Eletrobras, o ministro já demonstrou frustração com o ritmo lento das privatizações. A questão também já causou outras baixas na equipe econômica. O então secretário especial de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, deixou o governo no ano passado, sem conseguiu tirar nenhuma privatização do papel. Ontem, ele afirmou que a renúncia de Ferreira Junior também se deve a “rumores de que a Eletrobras não será privatizada, devido a acordos com a esquerda para eleição das presidências do Senado e Câmara”.

Vacina
Paulo Guedes ainda voltou a defender a vacinação em massa, como uma forma de garantir o retorno seguro ao trabalho e a recuperação econômica. Ele assegurou que o governo federal está empenhado em trazer todas as vacinas possíveis para o país.

“Economia e saúde andam juntas. A vacinação em massa é decisiva para o bom desempenho da economia”, afirmou Guedes. Ele demonstrou confiança na execução do plano nacional de imunização, dizendo que o país tem logística e capacidade para isso. (MB)

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