ECONOMIA

Fim do auxílio e o desemprego devem frear a economia no primeiro trimestre

Secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida reconhece dificuldades para a retomada e atribui ao recrudescimento da pandemia, ao fim do auxílio emergencial e à alta do desemprego. Governo é cobrado a atuar assertivamente contra a crise sanitária

Apesar de a atividade econômica vir apresentando sinais de recuperação, este início de ano ainda será difícil. Foi o que admitiu, ontem, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida. O recrudescimento da pandemia, o fim do auxílio emergencial e a alta do desemprego têm tudo para frear o ritmo da economia brasileira. Por isso, analistas já não descartam um primeiro trimestre morno, apesar da expectativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresça mais de 3% em 2021.

“É um primeiro trimestre um pouco difícil para a economia brasileira ainda. Mas, ao longo do semestre, os resultados vão começar a aparecer”, disse Sachsida, em live realizada ontem.

Ele afirmou que é preciso “aguentar firme o primeiro trimestre, porque tem um pouco de pandemia, ainda inspira um pouco de cuidado”. Mas, também, porque os setores econômicos têm se recuperado de forma desigual do impacto sofrido na pandemia de covid-19.

O setor de serviços, que responde por cerca de 2/3 do PIB e dos empregos do país, por exemplo, não se recuperou totalmente, pois depende do contato social. E, agora, se vê pressionado novamente pelas medidas de isolamento social, que voltaram a ganhar força pelo país por conta do aumento de casos de covid-19. O comércio, que também pode ter que fechar as portas novamente em algumas cidades — como em Belo Horizonte, que volta a impor restrições a partir de segunda-feira —, reforçou que o ano começou cheio de incertezas.

“A evolução dos casos de covid-19 não favorece uma retomada vigorosa da economia. E ainda temos heranças que ficaram de 2020 para equacionar, como a inflação mais alta, o desemprego pressionado e o fim do auxílio emergencial, que vinha servindo de amparo para todos os indicadores de atividade”, frisou o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fábio Bentes, para quem esse cenário só vai ficar mais claro após a vacinação contra o novo coronavírus, pois que a imunização permitirá o retorno seguro das atividades econômicas, algo que pode favorecer a criação de empregos.

Mesmo a indústria, que ontem comemorou mais um dado positivo –– segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção cresceu 1,2% na passagem de outubro para novembro –– teme uma recaída. Gerente-executivo de economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato Fonseca explicou que um novo lockdown pode colocar a economia em banho-maria mais uma vez. Ele lembrou, ainda, que essa insegurança sobre o futuro da pandemia e da economia pode reduzir o consumo de bens industrializados, já que, por medo de ficar sem renda, os brasileiros podem voltar a consumir apenas o essencial e poupar o restante do dinheiro.

Cobrança

Fonseca pediu para que o governo trabalhe intensamente para conter o avanço da pandemia e também para destravar as medidas que podem ajudar o país a crescer. “A indústria já está com um nível de produção acima do nível pré-pandemia. Porém, voltar àquele ponto não é algo positivo, porque o Brasil tinha 10 milhões de desempregados e dificuldade para crescer mesmo antes da crise sanitária. Por isso, é preciso avançar com as reformas, para que possamos voltar a crescer com força e a gerar empregos”, cobrou.

Sachsida garantiu que este é o objetivo do governo, neste ano, assim como a consolidação fiscal. E também assegurou que “dinheiro para a vacina não vai faltar, essa é a prioridade absoluta do Ministério da Economia”. Por isso, disse que os fechamentos programados para capitais como Belo Horizonte e Manaus ainda não afetam a previsão de crescimento do governo, que projeta um PIB de 3,2% em 2021. “Ao longo do primeiro semestre, a economia brasileira vai voltando aos poucos”, estimou Sachsida.