Um dos setores mais afetados pela pandemia, devido ao fechamento de fronteiras por todo o mundo, a aviação civil tem a difícil missão de se reconstruir este ano, em um cenário ainda incerto, com mais ondas de contaminação. A recuperação que ocorreu no fim do ano passado, sobretudo em dezembro, talvez não se sustente no início de 2021 por conta das novas restrições. Para o presidente da Azul, John Rodgerson, o setor tem pela frente dois cenários muito distintos. “Teremos dois anos em 2021, o do primeiro semestre, com demanda reprimida até as vacinas, e o segundo, quando a retomada começará de fato”, estima.
Em entrevista exclusiva ao Correio, Rodgerson diz que o turismo doméstico, responsável pelo início de recuperação no fim do ano passado, quando quem não pôde viajar para o exterior teve que se contentar com destinos nacionais, tem o potencial de impulsionar a retomada. “No Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes, a média (em anos normais) é de 100 milhões de passageiros por ano, ou seja, 0,5 voos por pessoa. A Colômbia tem uma taxa de 0,8 e o Chile, de 1,3”, afirmou. “Se o Brasil chegar aos 0,8 da Colômbia, o setor de aviação já tem condições de gerar 50 mil empregos”, afirma.
O cenário de 2020 foi dramático para o setor. Conforme dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a demanda por voos domésticos, medida em passageiros/quilômetros transportados (RPK), registrou queda de 48,7% em relação ao ano anterior, o pior resultado anual desde o início da série histórica, iniciada em 2000. Foram transportados 45,2 milhões de passageiros, uma diminuição de 52,5%. Nos voos internacionais, a queda foi mais brutal, de 71%, com transporte de 6,8 milhões de passageiros.
O presidente da Azul diz que a companhia conseguiu “se manter viva”. A empresa chegou a demitir 2,5 mil funcionários, mas, no fim de 2020, contratou 800. Hoje, tem 13 mil colaboradores. “A aviação gera emprego para o engenheiro e garante a comida do vendedor de queijo nas praias do Nordeste, por isso a importância do turismo doméstico”, ressalta.
Conforme Rodgerson, no Brasil, 70% dos passageiros viajam a negócios, 20% a lazer e 10% por outros motivos. “Nos Estados Unidos é o inverso. Por isso, a Azul tem foco de desenvolver o Brasil, com rotas regionais”, revela. A companhia é a única que não prioriza o chamado “triângulo” São Paulo-Rio de Janeiro-Brasília.
Em Brasília para reuniões com autoridades, Rodgerson revela que a pauta é tentar impedir aumento de impostos para o setor da aviação. “É preciso simplificar o PIS/Cofins. O setor não aguenta ser mais onerado”, diz. Segundo ele, a razão de o país não ter empresas de aviação low cost (de baixo custo) em operação é que “o Brasil não é um país de baixo custo”. “Em todos os outros países, os governos estenderam a mão para as companhias aéreas. No Brasil, se não atrapalhar, já ajuda.”
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