Estatais

Funcionários do BNDES chegam a receber R$ 1,2 mil em assistência educação

Benefício é pago para cada dependente menor de 18 anos. Entre outros benefícios, também chama a atenção auxílio alimentação no valor de R$ 1,5 mil

Israel Medeiros*
postado em 01/02/2021 21:32 / atualizado em 03/02/2021 10:07
 (crédito: Leonardo Cavalcanti/CB/D.A Press)
(crédito: Leonardo Cavalcanti/CB/D.A Press)

Apesar de o Brasil estar abaixo da média do ranking da educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) têm certa tranquilidade. Isso porque, de acordo com um relatório divulgado nesta segunda-feira pela Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados (SEDDM), do Ministério da Economia, a estatal chega a pagar R$ 1,2 mil em assistência educação para cada dependente menor de 18 anos.

O relatório apresenta também outros 11 benefícios pagos pela empresa, como auxílio alimentação mensal no valor de R$ 1.521,80, sendo 12 pagamentos por ano. Além disso, os funcionários recebem, ainda, auxílio cesta alimentação no valor de R$654,88 mensais, com 13 cestas por ano.

No BNDES, a remuneração média, segundo o ME, era de R$ 29.230 em 2019, sendo que a estatal paga o segundo maior salário entre as empresas públicas que compõem o relatório: R$ 75.650. Vale lembrar que o salário mínimo oficial fixado pelo governo federal para 2021, é de R$1,1 mil.

Os funcionários contam também com Benefício de Assistência à Saúde (BAS), do qual fazem parte 10 mil beneficiários, sendo 4,2 mil titulares e 5,7 mil dependentes. A média é de 1,35 dependente por empregado. Para cada empregado ou aposentado, o gasto médio da empresa é de R$ 3,6 mil por mês, chegando a R$ 44 mil por ano. O valor total gasto com BAS por ano é de R$ 188,9 milhões.

O banco patrocina, ainda, um plano de benefícios previdenciários na modalidade Benefício Definido-BD. Dele participam 4,8 mil funcionários. O gasto total com o plano em 2019 foi de R$ 179 milhões.

O relatório

A publicação inédita foi produzida pela Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest) e publicada pela Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados (SEDDM), do Ministério da Economia. O relatório contém informações detalhadas sobre os benefícios concedidos pelas 46 estatais controladas pela União.

"A Sest tem a responsabilidade de promover transparência total sobre as estatais federais, fazendo chegar ao público informações importantes que promovam maior conhecimento desse universo de empresas, de maneira acessível”, afirma o secretário de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, Amaro Gomes.

Outro lado

Em nota, a Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES) destacou que "empregados de estatais superavitárias não são custeados com recursos orçamentários". "A operação do BNDES, por exemplo, é altamente lucrativa, ou seja, além de gerar receitas suficientes para pagar todos os salários e benefícios dos empregados, ela gera muito lucro. Lucro que é distribuído para seu acionista único, que é o Tesouro Nacional", pontua a entidade.

A associação ainda ponderou que a divulgação dos dados é uma medida de transparência, mas que que o governo ao fazê-la "no meio de uma das maiores crises sanitárias e econômicas, parece querer apresentar para a população as empresas públicas como um problema, como um culpado".

Confira a íntegra da nota:

"A princípio, apresentar os salários e benefícios que os empregados das diversas estatais possuem é uma medida de transparência e, portanto, salutar.

Apresentar essas informações sem as devidas considerações pode ao invés de esclarecer, confundir, ao invés de aprofundar o entendimento, reforçar estereótipos e preconceitos. Vejamos essa questão considerando o caso do BNDES.

Em primeiro lugar, a divulgação pode passar a ideia de que quem paga os salários e os benefícios desses empregados é o contribuinte. Isso não é verdade. Empregados de estatais superavitárias não são custeados com recursos orçamentários. A operação do BNDES, por exemplo, é altamente lucrativa, ou seja, além de gerar receitas suficientes para pagar todos os salários e benefícios dos empregados, ela gera muito lucro. Lucro que é distribuído para seu acionista único, que é o Tesouro Nacional. Para diferentes governos, os lucros distribuídos e os impostos pagos pelo BNDES têm sido uma fonte importante para garantir superávits ou reduzir déficits fiscais. Mencionam-se aqui os impostos porque o BNDES não possui qualquer isenção fiscal, como é comum em outros bancos de desenvolvimento do mundo.

Ou seja, ao invés de sugar recursos do contribuinte, o BNDES alivia o fardo fiscal dos contribuintes.

Ninguém mais que o governo federal deveria reconhecer a capacidade de o BNDES gerar lucros. De fato, para o atual governo, o BNDES é visto basicamente como uma “cash cow”: uma fonte de recursos para melhorar seus indicadores fiscais. Aceleradamente destroem o braço de participação acionária do BNDES, uma instituição cinquentenária, para viabilizar a antecipação do pagamento de empréstimos. Antecipação que viola explicitamente a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas que foi permitida com a benção do TCU.

Sim, no país em que a taxa de investimento alcança o fundo do poço, em que as obras de infraestrutura mais necessárias não conseguem ser realizadas e vivenciamos uma desindustrialização crescente, o BNDES vê seus desembolsos serem encolhidos, seu campo de ação reduzido e é descapitalizado na prática. Vale lembrar que só o KFW (BNDES alemão) garantiu na pandemia 90% do valor dos empréstimos bancários a empresas, num total de 800 bilhões de euros.

Em segundo lugar, o governo ao fazer essa divulgação no meio de uma das maiores crises sanitárias e econômicas, parece querer apresentar para a população as empresas públicas como um problema, como um culpado.

Parece desconhecer o fato de que em situações de crise profunda, em situações de desorganização da economia, as limitações do sistema de mercado como mecanismo de coordenação das decisões produtivas se tornam evidentes e faz, se necessário, ações governamentais complementares. Em resumo, em situações como essas, governos tornam-se mais e não menos intervencionistas.

Empresas estatais são instrumentos que estão à disposição de governos para viabilizar investimentos e, com isso, reativar o nível de atividade econômica e gerar empregos no meio de uma situação de alta incerteza e natural cautela do setor privado. Numa crise como a atual, dispor dessas empresas poderia ser uma grande vantagem, mas o atual governo — pela já conhecida combinação de incompetência e dogmatismo ideológico — não sabe o que fazer com elas. Assim como o presidente da República, tudo que a equipe econômica consegue fazer é procurar supostos culpados ao invés de assumir as responsabilidades inerentes a sua função.

Em terceiro lugar, os benefícios não são segredo, nem foram fixados pelos empregados dessas empresas. Foram fixados para atrair esses empregados. Os concursos públicos atraíram candidatos pela importância de cada instituição e pelas condições de trabalho publicamente oferecidas. O BNDES funciona, excluindo o Conselho de Administração e a Diretoria, e alguns assessores externos, apenas com empregados concursados.

Se a atual administração econômica fez alguma coisa em relação às despesas de pessoal no BNDES, foi no sentido de ampliá-las. Passamos de 5, no governo Temer, para 10 diretores externos, ou seja, pessoal que não é de carreira e que recebe os maiores salários pagos no BNDES. A atual administração do BNDES é a maior diretoria da história do Banco e não conta com nenhum empregado de carreira.

O BNDES tem uma estrutura muito diferente da mantida por um banco comercial. Não possui agências, não possui caixas, etc. Praticamente todos os empregados possuem nível superior. Dos cerca de 2500 empregados, 1700 possuem pós-graduação (cerca de 800 possuem mestrado e 100 possuem doutorado); 95% dos empregados do banco recebem menos que o teto constitucional e a média salarial está na casa de servidores, sujeitos ao teto, como os do Banco Central ou da Procuradoria Geral da República.

O volume de recursos manipulados por esses empregados está algumas vezes na escala dos bilhões de reais. Negociam com importantes interesses privados, nacionais e internacionais, e políticos. Depois de uma enxurrada de denúncias que ocuparam o noticiário por mais de 6 anos, nunca foram encontradas irregularidades atribuíveis ao corpo técnico do Banco.

Em resumo, colocar uma instituição como o BNDES de pé e operando por tanto tempo, numa cultura de honestidade e de forma eficiente, não é missão fácil para nenhum país. Quando examinarmos o que fazer com essa instituição, deveríamos considerar essa questão.

Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 2021

Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES)"

*Estagiário sob a supervisão de Fernando Jordão

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