Não são apenas os seres humanos que precisam realizar a quarentena para se proteger da covid-19, as plantas que chegam ao país ficam na chamada quarentena vegetal. A chefe-geral do setor de recursos genéticos e biotecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Cléria Inglis, explica que o processo é realizado para proteger a agricultura brasileira de todo alimento que entra no país.
“O alimento chega e vai para uma área reservada e de acesso restrito. Nesse local, os pesquisadores analisam se a planta traz alguma doença, vírus, bactéria ou inseto. Isso é fundamental porque grande parte da população não sabe, por exemplo, que, ao trazer uma muda de planta, ou uma maçã, eles estão trazendo um potencial patogênico que pode dizimar aquela cultura no país. É um risco para nosso agronegócio e nossa sustentabilidade”, explica.
Cléria foi a entrevistada desta sexta-feira (5/2) no CB.Agro — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília. Segundo a especialista, as medidas “tornam o Brasil capaz de produzir e se destacar. Anos atrás ninguém pensaria, por exemplo, que o cerrado seria uma área produtiva. Hoje, o bioma produz soja e até mesmo trigo, que era exclusivo de regiões temperadas. Isso tudo graças aos recursos genéticos”.
Ela revela que, desde 1974, a Embrapa guarda materiais genéticos para serem utilizados em programas de melhoramento a fim de gerar alimentos mais resistentes às adversidades. “A Embrapa possui um sistema coordenado que organiza o Banco de Ativos de Germoplasma (BAG), que conserva essas espécies em câmara fria ou a campo, quando necessário”.
A pesquisadora conta que o BAG foi inaugurado em 2013, mas que já existia de forma mais precária antes. “Há câmaras que mantêm tudo a 20°C, e as amostras de todo material vegetal são medidas e organizadas. Também temos as chamadas sementes recalcitrantes, que precisam ser mantidas em tubinhos de cultura”, explica.
Segundo Cléria, o melhoramento genético é feito através da união de diferentes espécies. “O pesquisador junta características da planta A, que tem resistência a seca, e junta com a amostra B, que tem alta produtividade. Ao fazer isso, vai obter um material altamente produtivo e com resistência àquela condição de estresse”, exemplifica.
A pesquisadora ressalta que o banco genético ajuda a diminuir as necessidades de uso de pesticidas pelas lavouras. “O controle biológico de pragas é baseado e fundamentado em ferramentas que são naturais no próprio ambiente, ou seja, no lugar de se usar um inseticida, se utiliza um fungo, uma bactéria, um vírus. Também temos o cenário em que os insetos são suscetíveis a doenças, e usamos isso a nosso favor. Provocamos, através de recursos naturais, doenças nesses insetos, e, com isso, reduzimos a população e, também, amenizamos o dano”, revela.
Transgênicos
Na entrevista, a especialista também desmistifica o alimento transgênico, considerado uma modificação nociva à saúde do ser humano. “Todas essas mudanças passam por uma série de testes feitos pela Comissão Técnica de Biossegurança, que regulamenta, controla, vigia e monitora essas ações. Tudo é feito de acordo com a lei de biossegurança”, esclarece.
Ela opina que a técnica é necessária para o cultivo de grandes lavouras. “Na produção de pequena escala, é possível catar todas as pragas e jogar elas fora, mas quando são hectares de produção, isso é impraticável, pois temos um sistema já tecnificado. Então, você usa um herbicida para controlar essas pragas e aumentar o ganho da lavoura, mas caso a planta não for resistente, você mata a praga e sua cultura também. Por isso que essas aplicações são importantes”, finaliza.
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