Em meio a expectativas por estímulos fiscais nos Estados Unidos, o Ibovespa teve um desempenho fraco nesta quarta-feira (10). O principal índice da bolsa de valores brasileira fechou em queda de 0,87% aos 118.435 pontos. Já o dólar avançou 0,219%, vendido a R$ 5,37. Isso porque, no país, as discussões sobre o auxílio emergencial voltaram a ser pauta no meio político.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, já fala em uma nova rodada com três parcelas de R$ 200, o que custaria cerca de R$ 20 bilhões. Para manter as contas em ordem, ele busca conseguir uma espécie de contrapartida, com a aprovação de uma nova PEC emergencial. É o que explica Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos. Para ele, a falta de um consenso sobre o assunto pode gerar um clima maior de incerteza.
"Essa era uma discussão que o Guedes já tinha dado como morta. Ele fala em uma contrapartida, como uma nova PEC emergencial, para a volta do auxílio. Para Pacheco e Lira (líderes do Senado e da Câmara), não há esse entendimento. Quando há essa dificuldade de alinhamento, há aversão a risco. O direcionamento do governo fica cada vez mais nebuloso. Isso é mais problemático, é o que está fazendo que o mercado vá para baixo", comenta.
Nos EUA, um plano de estímulos fiscais intitulado "Plano de Resgate Americano", anunciado pelo presidente Joe Biden (Democratas) em janeiro, mantém os investidores otimistas no cenário internacional. Para Franchini, a realidade onde os mercados dependem desse tipo de estímulo deve continuar, pelo menos a curto prazo.
"Os estímulos não podem ser retirados de forma imediata. Ninguém sabe ao certo o que ocorrerá, então os governos estão postergando programas. A relação dívida/PIB está alta em vários países. Mas é possível dizer que, pelo menos neste semestre, continuaremos vendo estímulos. Nos EUA, se a questão logística impedir uma vacinação em massa, essa situação pode se arrastar até o terceiro trimestre", avalia.
Quem está bem no meio de tantas incertezas é a Ásia, onde as bolsas têm batido recordes de fechamento esta semana. O motivo, segundo Franchini, é a proximidade do ano novo chinês. "Na China tem a questão do ano novo lunar, no dia 12 de fevereiro. Algumas empresas esperam para divulgar seus resultados próximo a essa data, então geralmente esse ano novo traz novidades. E desta vez foi a Tencent, que está lançando seu jogo. Isso acabou impulsionando muito as ações da companhia. O resultado na ásia é bom, portanto, por causa dos resultados das empresas".
"O ano na China começa muito bem, com baixa propagação do coronavirus. Tem um upside interessante na bolsa chinesa, por causa das novas empresas entrando", completa.
Varejo decepciona
Além dos já conhecidos problemas fiscais brasileiros e da expectativa por estímulos no exterior, outro fator foi importante para o resultado da bolsa brasileira. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do comércio varejista em dezembro de 2020, que vieram pior do que o esperado. O último mês do ano, que costuma ser o mais movimentado em vendas, teve recuo de 6,1% ante ao resultado de novembro.
Pietra Guerra, analista da Clear Corretora, destaca que as ações de empresas varejistas caíram após a divulgação do resultado. Isso porque, segundo ela, as projeções mais pessimistas eram de um recuo de apenas 2% – uma diferença de mais de 4 pontos percentuais. As ações da Via Varejo (VVAR3), por exemplo, caíram 3,88%. Os papéis da Magazine Luiza (MGLU3) recuaram 3,58%. Ambas estiveram entre as maiores baixas.
"A gente sabe que o impacto é quando o número vem acima do que é esperado. As previsões mais pessimistas eram de um recuo por volta de 2% no comércio, mas o que tivemos foi uma retração de 6,1%. O primeiro setor mais impactado foi o varejo, considerando que dezembro tem natal, festas comemorativas. E a gente viu um natal magrinho, com uma queda considerável. Isso traz questionamentos sobre a velocidade da retomada econômica e favorece as discussões sobre a necessidade do auxílio", afirma Pietra.
Ela entende, no entanto, que as discussões sobre o auxílio podem tirar o foco da agenda de reformas do governo sem necessariamente minimizar os impactos econômicos causados pela pandemia. "Há uma questão política complicada. Toda a questão volta para o auxílio emergencial e a gente tira o foco de medidas estruturais, como é o caso das reformas. Vira uma briga de capital político. Esse tamanho de estímulo, de R$ 20 bilhões, não garante um auxílio sustentável para o problema da rotatividade na economia. Aumenta os gastos da União sem efetivamente resolver o problema", conclui.
*Estagiário sob a supervisão de Ingrid Soares.
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