O valor bruto da produção agrícola brasileira ultrapassou R$ 1 trilhão em 2020, e a expectativa é de que o setor continue com crescimento acentuado em 2021. O prognóstico é de Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), entrevistado ontem no CB. Agro — uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília.
O especialista comentou a participação do setor no Produto Interno Bruto. “O resultado da participação do setor agropecuário no PIB de 2019 era de 22%. Porém, para 2020, quando finalizarmos a contagem, esperamos que seja algo em torno de 25% do PIB. Enquanto esperamos esses resultados, já podemos comemorar, porque 2020 bateu o recorde do valor bruto de produção, que foi de R$ 1 trilhão. Ainda assim, a estimativa é que em 2021 a gente cresça e gere R$ 1,14 trilhão”, revelou Conchon.
O coordenador do Núcleo Econômico da CNA explicou que a visão da sociedade acerca do agronegócio mudou nos últimos anos. “Durante a crise econômica dos últimos quatro anos, foi o agronegócio que deu bons resultados para o Brasil. O setor agropecuário vem se destacando e gerando muita renda e emprego, não é mais o patinho feio que a sociedade achava”, avaliou.
O setor gerou 61.637 novas vagas de emprego no ano passado, o melhor resultado desde 2011, segundo o levantamento feito pela CNA, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). “O nosso setor não parou, mesmo diante da pandemia, e fomos coroados com um ano, em relação ao clima, muito positivo, com investimentos em pacotes tecnológicos arrojados”, pontuou o representante da CNA.
No entanto, Conchon destaca uma mudança nas características dos empregos gerados no campo. “Ao contrário do que acontecia no passado, quando uma pessoa não tinha capacitação formal, ela ia trabalhar no campo, hoje isso está diferente, porque a agricultura exige a capacitação do trabalhador, seja para trabalhar com GPS, na agricultura de precisão ou na pecuária. O nível de conhecimento tecnológico tem que ser grande”, ressaltou.
Para Conchon, muitos profissionais saem com baixa qualificação para o mercado. Por essa razão, ele defendeu que o Brasil olhe para a população com acesso restrito à educação profissionalizante. “A gente sofre de deficiência de informação em todas as regiões do Brasil, mas o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) tem algumas iniciativas no sentido de criar uma qualificação para o público. O serviço oferece cursos tecnológicos, de aperfeiçoamento e capacitação da mão de obra. Assim, há o casamento entre a necessidade de emprego do trabalhador e a necessidade de uma mão de obra qualificada”, explicou o entrevistado do CB Poder.
Inflação de alimentos
Sobre a alta de preços dos alimentos, Conchon afirmou tratar-se de uma conjunção de fatores. “Muito se fala sobre a inflação dos alimentos, mas temos que tomar cuidados ao usar esse termo. O que estamos vendo é um aumento pontual dos preços em diversos produtos, decorrente da demanda do brasileiro, que aumentou muito, e os preços do mercado internacional”, ponderou.
O especialista disse que, com o auxílio emergencial, a procura por alimentos cresceu e afetou o preço dos produtos. “É a lei da oferta e da demanda. Também no mercado internacional, a desvalorização do real frente ao dólar trouxe parte do aumento, pois não compensa trazer arroz importado”, alegou.
Apesar da carestia, Conchon espera que o preço volte a estabilizar. “Ao longo das safras agrícolas, conforme os produtores forem colhendo e colocando essa nova mercadoria no mercado, teremos uma acomodação dos preços. O que estamos vendo no momento, mesmo que preocupante para as famílias, é um aumento temporário em alguns preços dos produtores alimentares”, finalizou.
* Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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