CB Agro

Brasil é líder em publicações científicas, mas falha em inovação

Secretário de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa ressalta a importância de aumentar a produtividade no campo, mas diz que não basta levar a tecnologia pronta a um ambiente que não oferece ao produtor acesso a infraestrutura, redes de energia elétrica e internet

Fernanda Strickland
postado em 26/02/2021 18:28 / atualizado em 26/02/2021 18:29
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press             )
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press )

Pesquisa feita pelo Global Innovation Index em 2020, mostra o Brasil no 14° lugar em produções científicas e em 66° lugar em inovação. Em entrevista ao CB Agro — uma realização do Correio Braziliense em parceria com a TV Brasília —, o biólogo Bruno Brasil, secretário de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, ressaltou que mudar essa classificação é um dos grandes desafios para o país.

“É um cenário que a gente já observa há mais de uma década. Mas ele tem dificuldade de traduzir isso em bem estar socioeconômico para a população brasileira, isso só se traduz por meio do que nós chamamos de inovação, que é a introdução do conhecimento, da tecnologia de fato no ambiente produtivo, no ambiente social”, explicou o biólogo.

Quando se vai ao Global Innovation Index, para Bruno, o Brasil patina na mesma posição nos últimos anos. “Mas não é devido à geração de ciência, que vem cada vez produzindo mais. Na verdade nós temos travas, dificuldades para iniciar novos negócios, nós temos um arcabouço regulatório, política institucional que cria um ambiente de negócios difícil para se inovar. Então, isso vai gerando barreiras, externalidades à ciência, que dificultam que isso chegue para cada um dos brasileiros, mas nós temos casos de sucesso, de relativos sucessos, e reconhecido internacionalmente”, afirma.

O agro é um setor que podemos tratar como caso de sucesso. Nas últimas cinco a seis décadas, o Brasil deixou de ser um importador de alimentos para ser um dos maiores exportadores do mundo. Isso só foi possível devido à incorporação de ciência, de tecnologia no campo. “Nós aumentamos a produção de grãos em mais de seis vezes, mas a área de produção apenas dobrou. Esse ganho de produtividade só se consegue colocando ciência, colocando tecnologia para que aquela área produza cada vez mais” afirmou o secretário.

Segundo Bruno, os protagonistas não são apenas os produtores rurais, associações cooperativas, mas também, e principalmente, os institutos de pesquisa como a Embrapa, as universidades, e toda essa rede de assistência técnica e extensão rural que forma um ecossistema sadio para esse setor. "Assim, nós vamos cada vez mais galgando competitividade, inclusive no cenário internacional como é o caso do agro”, disse.

As grandes propriedades, grandes produtoras, têm mais acesso a tecnologia do que as pequenas. Para aproximar mais esse setor produtivo rural da ciência e da inovação, o biólogo explica que existe várias possíveis soluções. “Para levarmos tecnologia e conhecimento para o pequeno produtor rural, para que ele consiga competir no mercado, e competir com o grande produtor, são necessárias políticas públicas, incentivo, à transferência de conhecimento, para que esse produtor adote realmente a tecnologia. Incentivo ao cooperativismo, associativismo, que aí ele ganha escala e consegue melhorar o poder de barganha, mas tudo isso tem que ser feito considerando a realidade local de cada um desses produtores”, esclareceu.

Bruno Brasil continua: “Eles estão inseridos em um contexto territorial, cultural, social, educacional e, se não há um olhar dedicado do Estado e das instituições para essa realidade, eles não vão conseguir alavancar com tanto sucesso como aqueles que tendem a se tornar grandes, ou mais competitivos, porque já incorporaram tecnologia e continuam incorporando”.

Há vários problemas, mas, na avaliação do secretário, as dificuldades sócioeconômicas e culturais de alguns territórios são as mais graves. “Não basta você levar a solução pronta, a tecnologia pronta a um ambiente de produtor que não consegue fazer a manutenção adequada dos equipamentos, que não tem acesso a uma rede de energia elétrica, internet, transformação digital, invadindo o campo e gerando competitividade. Hoje, mais de 60% das propriedades rurais não têm acesso à internet. Então, isso é uma barreira de infraestrutura”, alega Bruno.

O secretário ressalta que é preciso corrigir as duas falhas, governo e cultura das pessoas. Chegando a infraestrutura, que não está presente em várias áreas, principalmente em fronteiras agrícolas, o agro anda em um passo mais rápido que a infraestrutura brasileira.

“Então, ele chega antes da infraestrutura chegar. Mas, se você também não tiver condições socioeducacionais para receber isso, não vai ser incorporado. Então, apenas aqueles que já estão mais competitivos acabam incorporando. É necessário um papel de governo — União, estados, municípios — ede uma parceria privada, como associações, cooperativas. É necessário que todos esses atores estejam trabalhando juntos”, ressalta Bruno.

Parceria Público-Privada (PPP)

Para Bruno, a PPP é efetiva e gera resultados, em geral ,mais rápidos do que outras estratégias, mas precisa ser intensificada no Brasil. “Quando nós temos uma parceria público-privada, por meio do que nós chamamos de inovação aberta, significa que não vai ser uma única inovação sozinha, ela precisa trocar informações, conhecimento e tecnologia com outras instituições.”

Hoje, há produtos que têm mais inovação, então é mais fácil fazer essa parceria público-privada. Bruno explicou que a Embrapa tem parcerias com todas as cadeias de produção, sejam mais ou menos estruturadas. "O carro-chefe da tecnologias desenvolvidas pela Embrapa sempre foi a parte de genética vegetal, programa de melhoramento para mudas, sementes. Nós também trabalhamos muito com insumos para produção, principalmente os insumos biológicos, que substituem fertilizantes, pesticidas tradicionais, e com práticas de manejo, tanto para a produção animal, quanto para a produção vegetal.

*Estagiária sob a supervisão de Odail Figueiredo

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