CONJUNTURA

Mesmo com auxílio, pandemia derruba o consumo das famílias

Mesmo com o auxílio emergencial, que ajudou os brasileiros desempregados a sobreviver, o consumo das famílias, que responde por 60% do PIB pelo lado da demanda, caiu 5,5% em 2020. Foi o maior recuo dos últimos 25 anos, segundo o IBGE

Marina Barbosa
Fernanda Strickland
postado em 04/03/2021 06:00
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O auxílio emergencial ajudou 68 milhões de pessoas a manter o consumo de bens essenciais na pandemia. Por isso, reduziu o tamanho do tombo do comércio e da economia brasileira em 2020. Porém, não livrou o consumo das famílias brasileiras de um baque de 5,5% no ano passado.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda do consumo das famílias é a maior dos últimos 25 anos e desponta como uma das principais responsáveis da retração de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020. Afinal, o consumo das famílias é o “motor do PIB”: o indicador responde por mais de 60% da economia brasileira sob a ótica da demanda.

Coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis explicou que, apesar de o auxílio emergencial ter favorecido o consumo das famílias em 2020, essa contribuição não foi suficiente para reverter o impacto negativo de outros fatores. “O consumo caiu muito por causa do distanciamento social, dos efeitos negativos sobre o mercado de trabalho e da queda dos serviços prestados às famílias”, contou.

“O auxílio foi importante. Sem ele, a queda do consumo e do PIB teriam sido bem maiores. Porém, ele não resgata todo o consumo, pois a pandemia afetou o mercado de trabalho, e 2020 também foi marcado pela inflação elevada, que impacta negativamente o consumo”, reforçou o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fábio Bentes.

De acordo com o IBGE, enquanto o consumo despencou 5,5%, a taxa de poupança do país subiu de 12,5% do PIB em 2019 para 15% em 2020. A alta foi impulsionada por essa “poupança precaucional” das famílias de classe média. E, para o governo, será um dos motores do consumo neste ano em que o auxílio emergencial vai chegar mais enxuto ao bolso das pessoas mais pobres e, por isso, não terá o mesmo efeito sobre a economia.

A CNC, no entanto, não acredita que toda essa poupança vai virar consumo, já que as incertezas econômicas continuam elevadas e fatores como a alta dos juros e da inflação podem segurar o consumo das famílias brasileiras. Por isso, diz que a volta do auxílio emergencial será fundamental para garantir o mínimo para milhões de brasileiros e também para evitar mais um ano difícil para a economia.

A dona de casa Maria de Fátima da Silva, de 57 anos, não tem dúvidas de que o auxílio emergencial é essencial. "Ele veio na hora que eu mais estava necessitando, por estar sem emprego. Ele deveria ter se estendido por um tempo a mais”, disse.

Apesar da ajuda financeira, os beneficiários do auxílio veem outras urgências. “A volta do auxílio emergencial não será o suficiente para evitar algo pior. O que deveria ser feito pelos governantes é disponibilizar emprego para a população, para que ninguém dependa de um auxílio”, reclamou a desempregada Maria de Jesus de Aguiar, 34 anos.


* Estagiária sob a supervisão de Odail Figueiredo

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Consumo do governo tem queda recorde

A queda no consumo do governo, de 4,7 %, foi recorde em 2020. Esse resultado ocorreu em consequência do isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus. No último trimestre do ano, em relação ao trimestre anterior, as despesas do governo cresceram 1,1%. E no quarto trimestre, no confronto, com o mesmo período de 2019, elas caíram 4,1%. Cesar Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-DF), disse que a queda era esperada, diante da retração da arrecadação de impostos, em um ano marcado pela pandemia. Ele lembrou, ainda, que, com grande parte dos servidores em trabalho remoto, os desembolsos com o custeio da máquina pública estancaram ou diminuíram ao longo do ano.

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