CONJUNTURA

Regiões Norte e Centro-Oeste escapam da queda do PIB em 2020

O tombo histórico do PIB brasileiro, em 2020, só não foi pior porque as duas regiões conseguiram bons desempenhos, em plena pandemia de covid-19, devido às características das atividades de cada uma e aos percentuais do auxílio emergencial que giraram suas economias

Marina Barbosa
postado em 05/03/2021 06:00
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Apesar do tombo histórico de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, duas regiões brasileiras conseguiram escapar de uma contração econômica em 2020: Norte e do Centro-Oeste. As duas cresceram, respectivamente, 0,4% e 0,2% no ano passado, segundo o Banco Central (BC).

O Índice de Atividade Econômica Regional, divulgado ontem pela autoridade monetária, explica que, embora toda a economia brasileira tenha sido prejudicada pela pandemia de covid-19, esse impacto se deu de forma distinta entre as regiões. Isso porque cada uma tem uma estrutura econômica própria e recebeu de maneira distinta os auxílios governamentais — como o auxílio emergencial —, que reduziram o tombo em 2020.

O Norte, por exemplo, foi favorecido nas duas pontas e, por isso, teve o melhor desempenho regional do país. Cresceu 0,4% no ano passado porque recebeu uma grande fatia do benefício pago durante a crise sanitária, o que estimulou a atividade comercial. Mas outro fator que reduziu o impacto da pandemia é porque a região tem na sua base econômica duas atividades que conseguiram lidar bem com a pandemia da covid-19: a agricultura e a construção civil.

Já o caso do Centro-Oeste, que cresceu 0,2%, foi porque é o berço do agronegócio, único setor a avançar em 2020. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto os serviços caíram 4,5% e a indústria recuou 3,5%, a agropecuária avançou 2% puxada pela safra recorde de soja e pelas exportações para a China.

“O desempenho da atividade no Centro-Oeste repercutiu a combinação de sua estrutura produtiva com a safra recorde de grãos e as cotações das commodities, em especial de soja e carnes, que impulsionaram as vendas externas. A produção agrícola registrou elevação nas colheitas dos três principais grãos (soja, milho e algodão) e houve crescimento na fabricação de alimentos”, explicou o documento elaborado pelo BC.

Nordeste, Sul e Sudeste não escaparam da recessão, mesmo tendo apresentado certa recuperação no segundo semestre. Segundo a autoridade monetária, o Nordeste caiu 2,1% em 2020 por conta da contração dos serviços; o Sul também recuou 2,1% porque sofreu com quebras de safra e a redução da atividade industrial; e o Sudeste desabou 1,3% por também ter sido afetado negativamente por esses fatores, embora tenha se beneficiado da alta dos serviços financeiros e da produção de alimentos.

Incertezas em 2021

O BC ressaltou, no entanto, que o recrudescimento da pandemia pode trazer novas contrações para a atividade econômica este ano. Calcula até que a crise sanitária que varreu o Amazonas, em janeiro, quando os casos de covid-19 explodiram devido à nova variante do vírus, provocando o desabastecimento de oxigênio em Manaus — que matou centenas de pessoas —, levou o estado a um recuo de “magnitude similar à observada em abril de 2020”, quando a economia do Norte caiu 4,9%.

“Dadas as dinâmicas distintas de evolução da covid-19 nos estados brasileiros, o caso do Amazonas sinaliza os possíveis impactos de um agravamento severo da epidemia em outras regiões”, alertou o levantamento do BC.

A observação reforça a percepção do mercado de que o PIB deve sofrer um novo impacto no início deste ano, já que a covid-19 tem levado à redução da atividade econômica, que já vinha desacelerando desde o fim de 2020 por conta da suspensão do auxílio emergencial. “A queda do PIB neste primeiro trimestre é dada como certa, pois os fechamentos terão impacto na atividade. Porém a vacinação pode ajudar o país a ter um segundo semestre melhor, se for bem implementada”, explicou o professor de Ciências Econômicas do Iesb, Luis Guilherme Alho.

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Recuperação só em 2023

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio SP) afirmou que a economia brasileira deve recuperar o nível do começo da década passada somente em 2023. Em comunicado, a entidade indica que a queda de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 não é “a pior notícia sobre a crise econômica brasileira”.

A Fecomercio SP defende que o último crescimento significativo do PIB brasileiro aconteceu em 2013, com um salto de 3%. Desde então, houve uma sequência de estagnação, quedas e retomadas tímidas — com crescimento de 0,5% em 2014; encolhimento de 3,5% e 3,3% em 2015 e 2016, respectivamente; e singelos aumentos em 2017 (1,3%), 2018 (1,1%) e 2019 (1,1%).

“Diante desses números, é possível dizer que o país só vai retomar o patamar do começo da década passada em 2023 — isso se, daqui até lá, sustentar um crescimento de, pelo menos, 2% ao ano”, afirmou a entidade, em nota.

Mas para a Fecomercio SP, o cenário de recuperação em 2023 corre risco de não se viabilizar devido à nova queda no consumo das famílias, dado o cenário de crise com o pior momento da pandemia no país. “Além disso, há ainda as dúvidas de longo prazo sobre a capacidade do governo federal de implantar uma política de austeridade fiscal cortando despesas”, salientou a entidade.

Segundo a federação, ainda que o PIB cresça entre 3% e 3,5% em 2021, estará mais relacionado à queda de 4,1% em 2020 do que a um sinal real de recuperação da economia. “Em outras palavras, se nada der errado daqui para frente, o Brasil só voltará ao patamar de 2013 exatamente dez anos depois. É, portanto, a verdadeira década perdida”

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