Conjuntura

Alta da Selic pode chegar a 0,75 ponto percentual ainda em março

Especialistas ouvidos pelo Correio estimam uma alta, ainda este mês, de 0,25 a 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros. Pressão do dólar e inflação apontando para cima são alguns dos fatores a influenciar decisão do Banco Central

Vera Batista
postado em 06/03/2021 06:00
 (crédito: Leonardo Sá/Agencia Senado)
(crédito: Leonardo Sá/Agencia Senado)

Apesar da forte desaceleração da economia, especialistas consultados pelo Correio afirmam que o Banco Central terá que enfrentar o desafio de elevar a taxa básica de juros (Selic, atualmente em 2% ao ano) ainda neste mês de março. A maioria das apostas vão de alta de 0,25 a 0,75 ponto percentual. A medida está sendo vista como o melhor remédio para conter os impactos do dólar sobre a inflação. Isso porque os investidores acompanham com lupa o desempenho dos juros futuros, o que acontece toda vez que o país se vê diante de uma crise ou instabilidade política.

Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, a majoração vai “equalizar nossa taxa de juros com o risco percebido e o risco Brasil”. Ele ressalta que o país é um dos países que menos pagam juros livres de risco do mundo (abaixo de África do Sul, Colômbia, Filipinas, Indonésia, México e Turquia), e isso acaba fazendo o dólar subir. “No limite, o cenário doméstico piorou muito, e isso não foi acompanhado pelos juros. Subir a taxa agora pode não ser ruim. Afinal, os juros longos estão altos demais. Subir a Selic pode fazer com que os longos caiam”, destaca. Ele aposta em avanço de 0,25 ponto percentual.

No entendimento do economista Cesar Bergo, sócio-investidor da corretora OpenInvest, o BC tenderia a manter a Selic onde está, nos 2%. “Mas considero um pequeno grau de bom senso e em uma elevação de 0,25 ponto percentual. Eventual letargia do BC na condução da política monetária vai custar muito caro para o país”, alerta. A crescente pressão inflacionária e o aumento da taxa de juros americana formam um cenário favorável à elevação de até 0,50 ponto percentual, segundo ele. “A questão é uma só: houve evidente piora das condições relacionadas ao risco e o BC procura acalmar os ânimos”, diz.

Alerta ligado

A segunda semana de março pode ser decisiva e apontar um norte para o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na análise da equipe econômica do Bradesco. Em seu relatório, aconselha os investidores a prestarem atenção aos indicadores de atividade. “O resultado das vendas do varejo e do setor de serviços referentes a janeiro serão o destaque da agenda doméstica. Com o IPCA de fevereiro, são importantes indicadores para a definição da taxa de juros pelo Banco Central, no dia 17 de março”, indica o banco.

Ontem, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, falou em dois eventos on-line fechados, para instituições financeiras. Fontes que assistiram à apresentação disseram que, além dos números que ele mostra sempre, o principal recado foi em relação ao chamado forward guidance (orientação futura). O mercado estava ansioso por explicações. “Porque, na última ata do Copom, o BC deu a entender que o abandono do forward guidance implicaria no aumento automático da taxa de juros. E, agora, Campos Neto tenta convencer que não se trata de um procedimento automático”, disse a fonte ao Correio.

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CVM confirma investigação

Após dias de respostas evasivas, a Comissão de Valores Mobiliários, autarquia responsável pela regulação do mercado de capitais, finalmente confirmou a abertura de processo administrativo para analisar o uso de informação privilegiada sobre a demissão de Roberto Castello Branco da presidência da Petrobras. Em nota, afirmou que “o assunto está sendo analisado no Processo Administrativo CVM n° 19957.001646/2021-76. A autarquia não comenta casos específicos.”

O incômodo do mercado com as denúncias de informações privilegiadas (que resultaram em lucro irregular de R$ 18 milhões para um restrito grupo de acionistas) foi responsável por boatos e insegurança entre os agentes financeiros. E também provocou uma saída em massa de conselheiros da Petrobras. Cinco membros do colegiado rejeitaram a indicação do governo federal para serem reconduzidos ao cargo. O último foi Leonardo Pietro Antonelli, que representava os acionistas minoritários, depois que Bolsonaro defenestrou Castello Branco.

Na véspera, saíram os indicados pelo governo João Cox Neto, Nivio Ziviani, Paulo Cesar de Souza e Silva e Omar Carneiro da Cunha.

Antes da CVM, a Bolsa de Valores (B3) já investigava os rumores que cercavam a troca de comando na Petrobras. Muitos agentes com larga experiência nas operações dos mercados à vista e futuro confirmaram a ocorrência de várias pesquisas sobre “movimentos estranhos ligados a negociações nebulosas”, divulgados discretamente tanto pela página na internet da B3 quanto pelo site da CVM. =

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