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Bioeconomia: desafios da sustentabilidade na produção industrial brasileira

CB.Agro desta sexta-feira (12/3) recebeu o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso, para falar sobre a evolução da bioeconomia no Brasil

Fernanda Strickland
postado em 12/03/2021 18:09
 (crédito: André Rosa/TV Brasília)
(crédito: André Rosa/TV Brasília)

A bioeconomia é um modelo de produção industrial baseado no uso de recursos biológicos. O objetivo dela é oferecer soluções para a sustentabilidade dos sistemas de produção com vistas à substituição de recursos fósseis e não renováveis. O chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso, comenta sobre os desafios da sustentabilidade na produção industrial do Brasil, em entrevista ao CB.Agro, parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, nesta sexta-feira (12/3).

Alexandre Alonso explica que a bioeconomia, colocando em termos gerais, é uma forma de se produzir uma série de produtos que hoje são derivados de fontes não renováveis e fósseis, usando recursos naturais e também biológicos. “É essencialmente uma forma de produção baseada no uso intensivo da ciência, tecnologia e da biotecnologia. Então eu diria que, virtualmente, todos os produtos que hoje produzimos a partir de fontes não renováveis podem ser obtidos a partir de biomassa e de biodiversidade. Mas, para isso, a gente precisa obviamente de boas soluções tecnológicas, boas tecnologias. A princípio, em termos técnicos, isso é viável”.

Ele acredita que o Brasil hoje está em uma posição bastante interessante no que diz respeito ao assunto. “A bioeconomia não é tão nova assim, mas ganhou impulso nos últimos anos. Eu diria que essa bioeconomia tem sido estimulada, por exemplo, por preocupações ambientais. Então, há necessidade, por exemplo, de se diminuir a emissão de CO2 decorrente das atividades econômicas, de se preservar o meio ambiente ao mesmo tempo que a gente consegue produzir esses produtos. E para isso, o Brasil há muito tempo tem investido em um modelo de produção sustentável. Hoje, eu diria que uma boa parte da bioeconomia tem a agricultura como base”, explica.

O chefe-geral da Embrapa Agroenergia diz que dados mostram que a bioeconomia brasileira está estimada em cerca de US$ 260 bilhões, um volume bastante expressivo do PIB nacional. “E uma boa parte disso é contribuição dos setores do agro, agricultura, setores de florestas plantadas, entre outros. E, para isso, o Brasil investiu, obviamente, por meio dos seus centros de pesquisa, como por exemplo a Embrapa, para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável, de baixo carbono”, afirma.

Por outro lado o Brasil tem também uma biodiversidade riquíssima, que pode, também com a tecnologia e com métodos adequados, ser devidamente utilizada, de maneira sustentável, para produzir uma série de compostos com ação bioativa. “Eu diria que o Brasil está em uma posição muito interessante na bioeconomia por esses dois motivos: a bioeconomia com uma riquíssima biodiversidade e uma agricultura pujante e também sustentável”, comenta.

Alexandre expõe que o Brasil tem uma carteira bastante extensa de projetos. “Por exemplo, hoje no Centro Nacional de Pesquisa em Agroenergia, que é onde eu coordeno, temos pesquisas para o desenvolvimento de novas biomassas para aplicação a uso industrial. Pode ser tanto aplicação para a produção de biocombustíveis quanto para a produção de novos bioprodutos. Então, nós temos praticamente essas duas vertentes: uma pesquisa mais focada em biomassa e outra mais focada nos processos de conversão dessa biomassa em novos produtos, e biocombustíveis”, explica.

“Temos algumas pesquisas que eu poderia mencionar aqui. A gente tem trabalhado na cultura que tem foco na cana de açúcar e que a gente tem usado duas abordagens: uma para gerar os organismos geneticamente modificados, na qual você introduz alguma característica nessas variedades; e a outra, recentemente, a gente tem trabalhado com o que se convencionou chamado de edição genômica”, complementa.

A Edição Genômica, segundo Alexandre, é similar à edição de um texto, “no qual você faz algumas correções pontuais que eventualmente tenham sido editadas de uma maneira que não seja desejável. Existem tecnologias que permitem que você faça uma edição nesta molécula. E a partir dessa edição, os organismos passam a expressar uma característica de interesse”, explica.

A importância da bioeconomia

De acordo com o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, diferentes países têm estabelecido estratégias para a bioeconomia e programas de bioeconomia, e o Brasil também está envolvido. “Existe um conjunto de países em um bloco internacional chamado de plataforma para o biofuturo. Essa plataforma tem uma participação bastante expressiva do Brasil na coordenação. Basicamente, aqui, a ideia é de congregar esforços em prol dessa bioeconomia, biocombustíveis, e dessa recuperação da economia ao utilizar esses componentes bio. Em termos internacionais, o Brasil é bastante ativo por meio dessa plataforma”, pontua.

Para ele, a consolidação e a expansão dessa bioeconomia não dependem da ação isolada de um ou outro ator dentro desse processo. “Eu diria que é um conjunto, é preciso uma concentração desses esforços. Então, diversas iniciativas do governo têm ajudado a estabelecer estratégias. Eu acho isso fundamental, para que a gente consiga avançar de maneira organizada e orquestrada. Esse papel é muito relevante e tem sido colocado à frente nos últimos meses”, afirma.

A situação do Brasil

Incluindo a biodiversidade que o Brasil tem, a agricultura nacional, o ecossistema de inovação e pesquisa são todas boas condições para o país desenvolver a bioeconomia. “E, obviamente, tem uma série de benefícios, como a geração de novos empregos qualificados. Essa consolidação da bioeconomia passa pela adoção de novas soluções tecnológicas. Então, precisamos, obviamente, promover alguma alteração no modo de como a gente produz determinados bioprodutos. Espera-se que tenha essa geração de empregos, e empregos qualificados por conta da questão da ciência e tecnologia, base para essa economia”, esclarece.

Alonso explica que o Brasil é um dos líderes do movimento de bioeconomia no mundo, não sendo diferente no contexto, por exemplo, dos biocombustíveis e bioprodutos. "O Brasil tem feito um trabalho bastante expressivo e tem a possibilidade de fazer um trabalho ainda maior dentro desse contexto. Não tenho dúvidas de que o Brasil vai continuar liderando esse movimento, tanto internamente quanto no exterior", afirma.

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