O governo federal registrou, em janeiro, volume recorde de criação de empregos formais. Conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, divulgados ontem, foram criadas 260.353 vagas de trabalho com carteira assinada no primeiro mês de 2021, revertendo o saldo negativo de dezembro, nos dados com ajustes. O salário médio de admissão ficou em R$ 1.760,14 — 1,15% acima dos R$ 1.740,08 de dezembro.
O número contabilizando em janeiro foi o maior para o mês desde o início da série histórica, iniciada em 1992, e ficou 121% acima dos 117.793 no mesmo intervalo de 2020. Mas analistas ouvidos pelo Correio afirmam que é preciso cautela ao analisar tais números, pois, com o agravamento da pandemia do novo coronavírus, não se verá números tão positivos pelo menos até junho.
Um dos motivos é que a atividade econômica não decolará tão facilmente, devido ao atraso na vacinação e ao aumento expressivo de casos e de mortes pela covid-19. Isso tem feito as projeções indicarem queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro e no segundo trimestres deste ano — ou seja, uma recessão técnica em um cenário de inflação crescente.
Bons efeitos
Analistas destacam que o aumento de vagas formais em janeiro está relacionado mais aos efeitos do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) do que à retomada da economia. O empregador que aderiu ao plano para redução de jornada e salário não poderá demitir o funcionário até agosto, dependendo do mês em que o acordo foi celebrado. Conforme dados do Ministério da Economia, 3,5 milhões de trabalhadores não puderam ser mandados embora em janeiro porque estavam protegidos pelo BEm.
Não à toa, o saldo computado pelo Caged ficou bem acima das projeções do mercado. “O número veio mais forte do que imaginávamos e tem os efeitos do BEm. Mas haverá uma boa desaceleração na abertura de empregos formais até a junho, porque a atividade econômica ainda não deve se recuperar no cenário de agravamento da pandemia e com estados adotando medidas de distanciamento”, avaliou a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, que previa 170 mil vagas formais em janeiro. Segundo ela, mesmo com a prorrogação do BEm e de programas de crédito com o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), o volume de geração de emprego não deve se elevar devido ao agravamento da pandemia.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, salientou que, apesar de janeiro, “é provável que em fevereiro e em março tenhamos reversão de parte desse crescimento. O BEm foi um programa que funcionou e deveria ser pensado em como ser mantido na pandemia. Se voltar, pode manter as pessoas protegidas”.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, reforçou que o bom resultado do Caged de janeiro não é capaz de reverter a perspectiva ruim para o trabalho nos próximos meses. “O recrudescimento da pandemia rouba a perspectiva sobre os cenários positivos”, observou.
Ao apresentar os dados do Caged, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, criticou as medidas de distanciamento social adotadas por vários estados. “O fechamento generalizado traz problemas significativos para a economia. Preservar emprego e renda é preservar a segurança alimentar”, afirmou.
A indústria liderou o ranking das contratações, respondendo por 90.431 vagas, e o setor de serviços registrou o segundo maior volume de admissões, 83.686. O comércio foi o que menos empregou: 9.848. Os dados mostram que São Paulo foi o estado onde apareceram mais novos postos: 75.203. Na contramão, Alagoas, Paraíba e Rio de Janeiro registraram fechamento de vagas.
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MP do auxílio pode sair hoje
A medida provisória (MP) que recria o auxílio emergencial deverá ser publicada hoje, mas o início do pagamento só deverá ocorrer em abril, de acordo com o Ministério da Cidadania. Técnicos da pasta estão finalizando o texto e o valor médio do benefício será de R$ 250 mensais.
O benefício será recriado após a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 186/2019, a PEC Emergencial, promulgada pelo Congresso na última segunda-feira. A publicação da MP, que tem vigência imediata, é necessária para o governo iniciar o pagamento das novas parcelas.
Estão previstos R$ 44 bilhões em recursos autorizados pela PEC para relançar o programa e beneficiar aproximadamente 46 milhões de pessoas. Pelas estimativas preliminares, o menor valor mensal será entre R$ 150 e R$ 175, e o teto, de R$ 375 por mês. Contudo, o Ministério da Cidadania ainda está fazendo a parametrização dos dados para definir o número de pessoas que podem ser atingidas e a distribuição dos valores, conforme o número de integrantes das famílias, para definir os valores exatos.
O ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, chegou a afirmar que a medida provisória do auxílio emergencial deveria sair ainda ontem à noite. No entanto, a assessoria do ministério disse que o texto ainda não estava concluído até o fechamento desta edição. (RH)
Ministro: retomada vem com a vacinação
O ministro da Economia, Paulo Guedes, fez questão de comemorar o recorde de criação de 260,3 mil vagas no mercado de trabalho formal em janeiro e voltou a defender a vacinação em massa para assegurar a continuidade do processo de retomada da economia. “A solução é vacinar em massa para garantir o retorno seguro ao trabalho”, observou.
Ele interrompeu a entrevista coletiva da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho convocada para comentar os dados positivos do novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) para defender a imunização, principalmente, dos 38 milhões de trabalhadores informais identificados durante a pandemia que precisam continuar recebendo o auxílio emergencial. “A mensagem que eu quero deixar é: vamos vacinar. Os invisíveis ganham a vida na rua e eles estão sem condições de trabalho e vacinas”, afirmou.
Mais cedo, em entrevista à CNN Brasil, Guedes, de 71 anos, disse que já queria ter se vacinado. “Acho ótimo, sou candidato à vacinação. Quero me vacinar”, afirmou.
Na avaliação do ministro, os dados do Caged e a alta de 1,04% no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) — “o dobro do esperado pelo mercado”, destacou o ministro — são sinais de que a economia está em processo de retomada forte e acima das projeções. Ele não comentou o fato de as estimativas estarem cada vez mais pessimistas e revisadas para baixo, ante o agravamento da pandemia. “Em janeiro, sempre tivemos destruição de emprego. Esse resultado é realmente histórico e mostra que a economia está decolando”, afirmou.
O ministro reconheceu a importância do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), mas não confirmou quando o benefício será renovado. “A máquina de emprego formal está girando. Vamos renovar o BEm justamente para garantir a geração. Estamos estudando a mudança no seguro-desemprego para pagarmos R$ 500 à empresa que mantiver o trabalhador empregado em vez de R$ 1 mil para quando ele for demitido”, explicou.
Segundo Guedes, o governo está desenhando um novo formato para o BEm e pretende modificar o seguro-desemprego. Ele reafirmou a volta do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e a inclusão do crédito para o microempreendedor individual (MEI). “Estamos conversando com nossas lideranças políticas para lançar, o mais rapidamente possível, o Pronampe para micro e pequenas empresas e para o MEI também”, confirmou. (RH)
Melhor da história
Em janeiro, foram geradas 260,3 mil vagas formais no mercado de trabalho, maior volume da série histórica do Caged, segundo o Ministério da Economia.
Evolução mensal
MêsSaldo da diferença entre admissões e demissões
jan20117.793
fev20225.414
mar20-274.091
abr20-954.571
mai20-368.800
jun20-27.054
jul20138.135
ago20243.012
set20317.509
out20391.144
nov20397.575
dez20-93.726
jan21260.353
Setores que mais criaram vagas em janeiro
SegmentoVagas criadas
Indústria90.431
Serviços83.686
Construção43.498
Agropecuária32.986
Comércio9.848
» Estoque de vagas no mercado de trabalho – 39.623.321
» Salário médio das admissões em janeiro – R$ 1.760,14
*Fonte: Caged/Ministério da Economia
Sinal verde para a venda da Eletrobras
O Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos aprovou, ontem, a inclusão da Eletrobras no Programa Nacional de Desestatização e a qualificação no Programa de Parcerias de Investimento. É o sinal verde para que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social inicie os estudos de avaliação para o processo de capitalização da empresa. A Medida Provisória 1.031/21 manteve entre os ativos da Eletrobras a usina de Tucuruí, que assinará um novo contrato de concessão por 30 anos. O governo também divulgou, ontem, mais detalhes de como pode ser a privatização dos Correios. Estudos indicam que a melhor opção é a desestatização unificada da empresa.