Mercados

Ações do BB fecham com leve alta um dia após renúncia de André Brandão

O fato de o governo não escolher um militar no comando do banco para substituir o executivo foi um alento para investidores e evitou uma queda do papel, segundo analista

Rosana Hessel
postado em 19/03/2021 19:30 / atualizado em 19/03/2021 19:43
 (crédito: Fernando Bizerra)
(crédito: Fernando Bizerra)

As ações do Banco do Brasil negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) encerraram com leve alta no dia seguinte ao anúncio da renúncia do presidente do Banco do Brasil, André Brandão, sinalizando um certo conforto pelo fato de o substituto não ser um militar. Contudo, o desempenho ficou abaixo do Índice Bovespa (Ibovespa), principal indicador da B3.

“As ações do BB acabaram subindo, porque o substituto de Brandão acabou sendo uma pessoa com perfil mais  técnico e não um militar, o que castigaria ainda mais os papéis do BB”, avaliou Glauco Legat, analista-chefe da Necton Investimentos. Segundo ele, caso o governo optasse mesmo por colocar um general na instituição, como vinha sendo cogitado nos últimos dias, o desempenho do papel poderia ser bem pior.

A saída de Brandão não surpreendeu porque ela era esperada desde janeiro, quando o banco anunciou um PDV e um plano para o fechamento de 361 postos de atendimento no país, incluindo 112 agências, o que desagradou o presidente Jair Bolsonaro. Vale lembrar que há um grande número de empresas controladas pelo governo sob o comando de oficiais das Forças Armadas,o que tem deixado o mercado preocupado

Perda acumulada 

Os papéis da estatal (BB 3 SA) oscilaram, ontem, registrando queda pequena na abertura, mas fecharam com valorização de 0,85%, ontem, cotados a R$ 30,70, abaixo da máxima de R$ 30,93. No ano, o banco acumula perda em torno de 20% após os sinais de interferências políticas depois do anúncio do PDV e de fechamento de agências. 

O Ibovespa encerrou o dia com alta de 1,21%, a 116.221 pontos, puxado por boas notícias para o mercado interno. A forte valorização das ações do Pão de Açúcar, que dispararam 13,24%, liderando as altas do dia em meio aos rumores de uma reestruturação foi o que mais contribuiu para essa alta.

“O mercado vem penalizando os papéis do BB por conta da gestão política, que atrapalha a administração nesse período de crise provocada pela pandemia. O banco não conseguiu fechar agências enquanto um dos concorrentes privados, por exemplo, encerrou os trabalhos de 400 agências no último trimestre. E isso é um indutor de risco neste momento”, explicou Legat.

Logo após a divulgação da carta de renúncia de Brandão, na quinta-feira à noite, o governo anunciou o nome do economista Fausto de Andrade Ribeiro, atual presidente da BB Administradora de Consórcios, para a presidência do BB. Brandão continua no posto até o dia 31. O nome de Ribeiro, que é funcionário de carreira da instituição, deverá ser aprovado na próxima assembleia do Conselho de Administração, prevista para o dia 29 e, assim, assumir o cargo a partir de 1º de abril. Sele será o terceiro presidente do BB no governo Bolsonaro.

Crédito de risco

Legat lembrou que há temores de que Bolsonaro faça como a ex-presidente Dilma Rousseff e use os bancos públicos para ofertar crédito sem muitas garantias como forma de tentar estimular o mercado no meio da crise. “Isso está no preço, pois o papel do BB vale 25% a menos do que o valor correspondente ao valor contábil, enquanto o de bancos privados são negociados quase duas vezes o valor patrimonial”, destacou.

O setor financeiro costuma ter um desempenho cíclico, de acordo com Legat. “Há uma piora na expectativa de recuperação da economia por conta do agravamento da pandemia. Como o desempenho do banco é cíclico e seu desempenho está atrelado à atividade, afeta negativamente”, adicionou.

 

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