As ações do Banco do Brasil negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) encerraram com leve alta no dia seguinte ao anúncio da renúncia do presidente do Banco do Brasil, André Brandão, mas com desempenho abaixo do Índice Bovespa (Ibovespa), principal indicador da B3.
A saída de Brandão não surpreendeu porque era esperada desde janeiro, quando o banco anunciou um PDV e um plano para o fechamento de 361 postos de atendimento no país, incluindo 112 agências. O plano de reestruturação lançado por Brandão desagradou o presidente Jair Bolsonaro.
Ontem, os papéis da estatal (BB 3 SA) oscilaram, registrando queda pequena na abertura, mas fecharam com valorização de 0,85%, cotados a R$ 30,70, abaixo da máxima de R$ 30,93. No ano, o banco acumula perda em torno de 20%.
Pão de Açúcar
O Ibovespa encerrou o dia com alta de 1,21%, a 116.221 pontos, puxado por boas notícias para o mercado interno. A forte valorização das ações do Pão de Açúcar, que dispararam 13,24%, liderando as altas do dia em meio a rumores de uma reestruturação, foi o que mais contribuiu para essa alta.
“O mercado vem penalizando os papéis do BB por conta da gestão política, que atrapalha a administração nesse período de crise provocada pela pandemia. O banco não conseguiu fechar agências enquanto um dos concorrentes privados, por exemplo, encerrou os trabalhos de 400 agências no último trimestre. E isso é um indutor de risco neste momento”, explicou Glauco Legat. “As ações acabaram subindo, porque o substituto de Brandão acabou sendo uma pessoa com perfil mais técnico e não um militar, o que castigaria ainda mais os papéis do BB”, acrescentou. Segundo ele, caso o governo optasse mesmo por colocar um general na instituição, o desempenho do papel poderia ser bem pior.
Crédito de risco
Logo após a divulgação da carta de renúncia de Brandão, na quinta-feira à noite, o governo anunciou o nome do economista Fausto de Andrade Ribeiro, atual presidente da BB Administradora de Consórcios, para a presidência do BB. Brandão continua no posto até o dia 31. O nome de Ribeiro deverá ser aprovado na próxima assembleia do Conselho de Administração, prevista para o dia 29 e, assim, assumir o cargo a partir de 1º de abril.
Legat lembrou que há temores de que o governo de Jair Bolsonaro faça como a ex-presidente Dilma Rousseff e use os bancos públicos para ofertar crédito sem muitas garantias, como forma de tentar estimular o mercado no meio da crise. “Isso está no preço, pois o papel do BB vale 25% a menos do que o valor correspondente ao valor contábil, enquanto o de bancos privados são negociados quase duas vezes o valor patrimonial”, destacou.
O setor financeiro vem tendo um desempenho cíclico, de acordo com Legat. “Há uma piora na expectativa de recuperação da economia por conta do agravamento da pandemia. Como o desempenho do banco é cíclico e seu desempenho está atrelado à atividade, afeta negativamente”, destacou.