CORREIO TALKS

Com segunda onda da pandemia, comércio está muito preocupado

"Quem vinha conseguindo colocar o nariz na segunda metade do ano passado sabe que agora a situação está mais difícil", destaca Fabio Bentes, economista sênior da CNC

Rosana Hessel
postado em 23/03/2021 16:32 / atualizado em 23/03/2021 20:45
 (crédito: Reprodução/YouTube)
(crédito: Reprodução/YouTube)

A pandemia da covid-19 fez um estrago na saúde e também na economia tanto na primeira onda de contágios como na segunda onda, que está dando sinais de que está mais grave do ponto de vista de mortes e de casos no país e gerando preocupação no comércio em geral, especialmente, devido à "bateção de cabeça" entre os governos em relação às medidas de isolamento.

“Quem vinha conseguindo colocar o nariz na segunda metade do ano passado sabe que agora a situação está mais difícil”, destacou Fabio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) durante o primeiro painel do seminário on-line Correio Talks: "Desafios para o Brasil no pós-pandemia", realizado, nesta terça-feira (23/3), pelo Correio em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Na avaliação do analista, o que mais vem atrapalhando o comércio, no momento atual, não é apenas a crise em si, que é grave, mas a falta de coordenação entre os governos, em geral, nas medidas de isolamento social. “O problema não é só o governo federal não estar trabalhando de forma coordenada com estados e municípios. Mas governos estaduais e prefeituras também estão batendo cabeça, como é o caso que temos visto atualmente no Rio e em São Paulo. Isso atrapalha, principalmente, a vida do microempresário que fica sem saber como fazer o seu planejamento”, alertou.

Pouco a comemorar

O economista da CNC alertou que, apesar de, em janeiro, o comércio ter voltado ao patamar pré-crise, apresentando uma recuperação em V, a atual conjuntura preocupa, porque voltar ao patamar do início de 2020 não é algo que pode ser comemorado. “O setor já apresentava uma dificuldade muito grande para engrenar em ritmo mais forte”, explicou.

De acordo com Bentes, a pandemia está trazendo novos hábitos para o consumo de forma geral que vieram para ficar, como a redução do fluxo de pessoas nos shopping centers e o aumento do comércio eletrônico. Ele destacou que a digitalização do comércio foi grande, mas esse segmento ainda tem um peso muito pequeno no varejo com o um todo, em torno de 6%.

Para Bentes, essa é uma crise sem precedentes para o comércio. “Mas não é só comércio que sofre, mas também o setor de serviços, que é o que mais emprega”, destacou. Ele lembrou que a micro e a pequena empresas foram as mais afetadas, como mostrou pouco antes no evento o presidente do Sebrae Nacional, Carlos Melles. “O estrago da pandemia foi grande no setor do comércio, que perdeu mais de 75 mil estabelecimentos no ano passado. Desse total, 74 mil foram micro e pequenas empresas”, lamentou.

O economista da CNC ainda reconheceu que o governo acabou adotando medidas acertadas para minimizar os efeitos da crise, como a liberação do auxílio emergencial, que, num primeiro momento, quando era de R$ 600, ajudou a recompor a renda do consumo em 20%. Esse dado passou para 10% após o benefício cair para R$ 300. "Se não fosse o auxílio, as vendas no varejo que tiveram desempenho fraco teriam recuado em torno de 5% a 6%", afirmou.

 

Alta dos alimentos

Bentes ainda fez um alerta para a alta dos preços dos alimentos que giram em torno de 30% no atacado e estão sendo repassados para o consumidor e já são observados nos indicadores de janeiro e de fevereiro.

Os desafios no pós-pandemia, no entender de Bentes, será retomar as agendas de reformas estruturais e de competitividade. "É preciso tornar o Brasil menos hostil para o investimento", frisou. "O Brasil devese debruçar sobre as reformas que reduzem o Custo Brasil", disse ele, citando as reformas administrativa e tributária.

A abertura do Correio Talks foi realizada pelo presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que reforçou a necessidade de vacinação em ritmo mais acelerado no país.“Nós temos um foco único, neste instante, que é minimizar os impactos da pandemia no Brasil”, afirmou.

O parlamentar defendeu um pacto federal no combate à pandemia e criticou a minoria que nega a pandemia, e destacou que esse grupo não terá vez na agenda do Legislativo. “Essa não é a minoria que pauta”, disse.

 

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