Mercedes é a 4ª montadora a parar

Depois da Volkswagen, da Volvo e da Scania, fábrica é mais uma a suspender a produção de veículos até depois da Páscoa por causa do descontrole da pandemia no país. Anfavea assegura que a entrega de caminhões prevista para este ano não cairá

Correio Braziliense
postado em 23/03/2021 23:58
 (crédito: Mercedes-Benz/Divulgação )
(crédito: Mercedes-Benz/Divulgação )

A Mercedes-Benz anunciou, ontem, que fechará as fábricas de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e de Juiz de Fora (MG) por causa do agravamento da pandemia de covid-19. É a quarta empresa do setor a decidir pela medida, desde a semana passada — antes, Volkswagen, Scania e Volvo também decidiram suspender as atividades por causa do descontrole do novo coronavírus no país. A medida atende pedido, principalmente, dos sindicatos de trabalhadores. O grupo emprega 10 mil funcionários e, desses, 7 mil ficarão em casa.

“O nosso intuito, alinhado com o Sindicato dos Metalúrgicos, é contribuir com a redução de circulação de pessoas neste momento crítico no país, administrar a dificuldade de abastecimento de peças e componentes na cadeia de suprimentos, além de atender a antecipação de feriados por parte das autoridades municipais”, explicou o comunicado da montadora.

A paralisação começa na próxima sexta-feira e o retorno está previsto para 5 de abril, depois do feriado da Páscoa. Na sequência, a Mercedes concederá férias coletivas para grupos alternados de funcionários da produção. “Assim, teremos um grupo menor mantendo os protocolos de distanciamento, mas continuaremos a atender a nossos clientes com nossos produtos e serviços”, informou.

Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cada grupo, com cerca de 1,2 mil trabalhadores, ficará fora da fábrica por 12 dias — o revezamento poderá se estender até o fim de maio. Os setores administrativos da montadora, porém, não serão afetados, já que estão em regime de home office. A Mercedes garantiu, também, que as concessionárias e oficinas continuarão funcionamento normalmente, porém, seguindo medidas preventivas contra a doença.

Solução negociada
Já tinham tomado decisão de parar até o fim do feriado a Volkswagen (quatro fábricas), a Scania e a Volvo, com uma planta cada. A Mercedes informou que a decisão, no mesmo dia em que o Brasil chegou a 3.251 mortes causadas pela covid-19 em 24 horas, foi tomada em alinhamento com os representantes dos trabalhadores para contribuir com a redução de circulação de pessoas num momento em que os números da pandemia apresentam tendência de subida. Além disso, a montadora se adapta à antecipação de feriados por parte das autoridades municipais.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as paralisações não impactam na projeção do volume de produção para 2021. No começo do ano, a entidade anunciou que a fabricação brasileira de veículos pesados cresceria 21%. De acordo com o posicionamento da associação, a previsão inicial era conservadora porque já trabalhava com um cenário de instabilidade da cadeia de suprimentos.

Para a Anfavea, ainda é cedo para concluir que o agravamento da pandemia comprometerá a recuperação do mercado de caminhões. Isso porque, no momento, há muitas encomendas apesar das unidades paradas pelos próximos dias.

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Centrais convocam para lockdown hoje

As centrais sindicais convocaram um lockdown nacional para hoje diante do agravamento da pandemia do novo coronavírus. O Fórum das Centrais Sindicais, formado pelas seis maiores centrais do país — CUT, UGT, CTB, Força Sindical, CSB e NCST —, representa cerca de 10 milhões de trabalhadores, quase 80% dos que são sindicalizados. A organização do movimento programou uma live, para as 11h, que será transmitida no Facebook das centrais sindicais. As entidades defendem ampliar a vacinação no país, fechamentos totais organizados e pagamento de auxílio emergencial de R$ 600 até o fim da pandemia — cuja média será de R$ 250, mas que pode ir de R$ 150 a R$ 375, e que começa a ser pago a partir de abril. As centrais exigem, também, que o governo federal estabeleça medidas de proteção ao emprego e apoio às pequenas e médias empresas, tal como fez no ano passado.

Selic deve saltar para 3,50% a partir de maio

 (crédito: Adauto Cruz/CB/D.A Press - 23/8/08)
crédito: Adauto Cruz/CB/D.A Press - 23/8/08

O Banco Central explicou, ontem, por que se prepara para repetir a dose de alta de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros básico em maio, a mesma magnitude vista na semana passada e que surpreendeu boa parte dos analistas de mercado: está claramente preocupado com o comportamento dos preços — mais do que com o ritmo da atividade. Assim, a Selic pode chegar a 3,50% ao ano, uma vez que a autoridade monetária teme perder sua meta de inflação para 2021 (de 3,75%) e acabar por desancorar as expectativas para 2022, que ainda estão em linha com o alvo perseguido pela instituição.

A autoridade monetária manteve estimativas apresentadas no comunicado que se seguiu à decisão da semana passada para o IPCA deste ano (5%) e do próximo (3,50%), mas as previsões para os preços administrados, que só aumentam com a autorização do governo — como energia elétrica, por exemplo — dispararam de 5,1% para 9,5% para este ano, e subiram de 3,0% para 4,4% para 2022. O impacto produzido por um novo aumento de 0,75 ponto deixará o Brasil menos vulnerável a esse cenário, na percepção do BC. Com isso, a taxa que passou de 2% para 2,75% ao ano, deve chegar a 3,50% no início de maio.

Período desafiador
Mais uma vez, o colegiado manteve o alerta sobre a trajetória fiscal do país, apesar de elogiar os esforços para a aprovação da PEC Emergencial, que autorizou uma nova rodada de auxílio com contrapartidas fiscais, neste mês. Além da preocupação com a inflação interna, o BC salientou que países emergentes, como o Brasil, poderão passar por um período “desafiador” por causa de uma possível reprecificação dos preços dos ativos internacionais. A cúpula da autoridade monetária citou também os impactos da reflação internacional, que é uma alta dos preços típica de momentos que se seguem a recessões e que têm base no aumento da demanda.

Embora um ciclo mais pesado de alta dos juros possa comprometer o desempenho da atividade econômica, o Copom projeta que um novo tombo na economia causado pelo recrudescimento da pandemia será menos profundo do que o visto no ano passado, quando o PIB encolheu 4,1%. Na realidade, o BC aposta em uma recuperação forte ao longo do segundo semestre de 2021 também tendo em mente que a vacinação no Brasil será abrangente.

“Contudo, os últimos dados disponíveis ainda não contemplam os possíveis efeitos do recente e agudo aumento no número de casos de covid-19 e, assim, há bastante incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia no primeiro e segundo trimestres deste ano”, salientou a ata.

Para o diretor do ASA Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, o BC claramente quis transmitir uma mensagem ainda mais dura na ata do que no comunicado da semana passada. Em especial, ele destacou a observação feita pelo Copom para as mudanças no cenário externo. Já Fábio Susteras, economista e sócio da SP CAP, enfatizou a preocupação da instituição sobre a reflação e seu impacto sobre as commodities. No Brasil, conforme disse, esse aumento se traduz de forma mais enfática nos preços dos combustíveis.

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