GOVERNO

Recriação de ministério do Planejamento encolhe Guedes no governo

Essa vontade de mudança da ala política reforça a dificuldade do chefe da equipe econômica em manter uma interlocução com o Congresso

Vera Batista
postado em 25/04/2021 06:00
 (crédito: Isac Nóbrega/PR - 12/11/20)
(crédito: Isac Nóbrega/PR - 12/11/20)

O desfecho para o impasse do Orçamento de 2021, resultado de um desgaste que durou meses, mostrou que a política pesou mais na balança do que as pretensões liberais do governo de Jair Bolsonaro. O desgaste para sanção da peça orçamentária, com um corte em áreas sociais e um ajuste na quantidade de recursos para emendas parlamentares, abalou as bases de apoio do presidente no Congresso. E tudo indica que o movimento tectônico estremeceu as estruturas do Ministério da Economia.

Apesar de o presidente frequentemente prestigiar seu Posto Ipiranga, ministro saiu chamuscado da fogueira orçamentária. Depois de perder vários colaboradores, insatisfeitos com a morosidade do governo em implementar uma agenda liberal, o ministro corre o risco de encolher na Esplanada. No Congresso, já se dá como certo que o governo vai recriar o Ministério do Planejamento e entregá-lo a um senador como forma de aplacar o Senado, neste momento de CPI da Pandemia, que vai iniciar os trabalhos nesta semana.

O Ministério da Economia foi criado com a fusão de cinco pastas: Fazenda, Planejamento, Trabalho e Emprego, Previdência Social e Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Essa vontade de mudança da ala política reforça a dificuldade do chefe da equipe econômica em manter uma interlocução com o Congresso. Na avaliação de parlamentares aliados a Bolsonaro, Guedes sofre desgastes porque não admite mudanças de rumos e “uma certa expansão nos gastos”.

Vários nomes estão sendo cotados para a volta do Ministério do Planejamento. Os senadores Eduardo Gomes (MDB-TO), Jorginho Melo (PL-SC) e Davi Alcolumbre (DEM-AP) figuram como possíveis ministeriáveis. Se concretizada a iniciativa, o Planejamento vai também aplacar as queixas de que não há um só senador aliado à frente de um ministério, somente deputados federais.

Assim, na gangorra política de Brasília, se por um lado o Posto Ipiranga perde protagonismo, por outro, espera-se o fortalecimento da base aliada de Bolsonaro no Senado. “Ao contrário do seu homônimo, que ainda é uma das maiores empresas varejistas brasileiras de distribuição de combustíveis, Paulo Guedes definha. Não se sabe porque ele ainda se submete a esse desgaste. A maioria que chegou com ele já abandonou o barco. Não se entende esse apego ao cargo. Principalmente agora que é certa a sua desidratação. O que será que ele vai perder em seguida?”, lamenta uma fonte próxima ao ministro.

Independentemente do tamanho do poder de Paulo Guedes no governo, há uma constante: as controvérsias em torno do ministro da Economia. Considerando os diferentes pontos de vista sobre a situação do Posto Ipiranga, chega-se à conclusão de que tudo pode acontecer, inclusive, continuar tudo como está. Há quem garanta, por exemplo, que Guedes não está sendo surpreendido com a volta da pasta do Planejamento. “O retorno do Planejamento, para além da briga política, tem um fundamento técnico. Não existe no mundo um país no qual a mesma pessoa que guarda o cofre seja a mesma que define os gastos. Uma falha que chama atenção. É mais uma jabuticaba”, afirmam técnicos do Senado.

No mercado financeiro, a derrota de Guedes representa um risco e é motivo para elevar a desconfiança dos investidores. “Por mais que se apele para o campo da técnica, certamente, o objetivo subjacente não é republicano”, afirma um economista ouvido pelo Correio.

Há também os descrentes em qualquer mudança radical após dois anos de gestão do polêmico ministro, mesmo com a pressão de senadores e os desgastes com os parlamentares do Centrão. “Esse governo é especialista em idas e voltas, em avançar e recuar, em dar um passo para frente e dois para trás. Todo esse boato é um balão de ensaio, para testar o mercado. Já reparou que sempre que Guedes está pressionado, surgem fofocas de que ele vai sair, de que perdeu a paciência ou vai perder poder? Creio que essa é mais uma”, ironiza um especialista em políticas públicas.

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