CONJUNTURA

Indústria da construção vai do otimismo à preocupação no 1º trimestre do ano

Dados apresentados pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) demonstram o impacto das dificuldades impostas pelo desabastecimento de materiais e pela alta dos preços. Estimativa para o PIB do setor em 2021 caiu de 4% para 2,5%

Fernanda Strickland
postado em 29/04/2021 14:34
 (crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil)
(crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil)

Os bons resultados alcançados pela indústria da construção no segundo semestre de 2020 não se mantiveram no 1º trimestre deste ano. De janeiro a março de 2021, o índice que mede a situação financeira das empresas do setor recuou 5,3 pontos em relação ao ultimo trimestre de 2020, caindo de 47,2 para 41,9 (número abaixo de sua média histórica, de 44 pontos). As informações foram divulgadas nesta quinta-feira (29/4) no estudo Desempenho Econômico da Indústria da Construção do 1º trimestre de 2021, realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e apresentado durante evento on-line.

O índice é da Sondagem Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o apoio da CBIC. De acordo com o estudo, o nível de atividade da construção começou a perder intensidade a partir do último mês de dezembro, e o setor encerrou o 1º trimestre de 2021 em queda. O indicador de atividade em março deste ano foi de 44,9 pontos, 6,5 pontos abaixo do observado em agosto de 2020, quando a construção começou a fortalecer o seu ritmo após a queda observada nos dois primeiros meses da pandemia.

Com isso, os resultados positivos observados no período de agosto a novembro de 2020 não se sustentaram. Em março de 2021, o setor registrou o menor patamar de atividades desde junho de 2020. Pelo segundo trimestre consecutivo, os empresários da construção apontam que o maior problema enfrentado é a falta ou o alto custo da matéria-prima. No 1º trimestre de 2021, essa foi a dificuldade assinalada por 57,1% deles.

De uma forma geral, os números comprovam que o setor retornou aos mesmos patamares de julho do ano passado, quando ainda não havia uma completa percepção de que o mercado imobiliário teria excelentes resultados no segundo semestre de 2020. “A retomada veio em V, mas hoje não temos suprimento necessário para atender à demanda. Por isso, estamos defendendo trabalhar com o mercado exterior, ao menos para suprir essa carência atual”, disse o presidente da CBIC, José Carlos Martins.

O INCC-Materiais e Equipamentos, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mostrou que a alta de preços acumulada no período de 12 meses encerrados em março deste ano (28,13%) é a maior para o período desde que o índice começou a ser disponibilizado, em 1998.

De acordo com a Sondagem Indústria da Construção, os empresários do setor ainda possuem expectativas positivas para as suas atividades nos próximos seis meses. No entanto, as perspectivas otimistas vem perdendo intensidade desde janeiro e hoje estão no menor patamar desde julho do ano passado. A indústria da construção iniciou o ano com expectativa de crescer 4% em 2021, o que corresponderia à maior alta desde 2013. Com o cenário imposto pela falta de insumos, contudo, a estimativa do setor foi alterada para 2,5%.

Impacto social

Para a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, esse número ainda pode ser considerado otimista. Além do problema que o setor enfrenta com a questão da falta de materiais e do aumento de preços, ela diz que ainda é preciso considerar as preocupações com a instabilidade macroeconômica, a desvalorização cambial, a inflação elevada, o avanço da pandemia e a vacinação ainda em ritmo lento. “Também não se pode deixar de ressaltar que o menor ritmo da construção civil significa muito mais do que impacto econômico, significa impacto social”, disse.

De acordo com a CBIC, caso se confirme a paralisação das obras da faixa 1 do programa Casa Verde e Amarela, em função do corte nas verbas destinadas ao programa no Orçamento de 2021, essa projeção para o PIB poderá ser ainda mais reduzida.

A construção, que nos dois primeiros meses de 2021 criou, na media, 44 mil novas vagas com carteira assinada por mês, em março reduziu esse patamar para cerca de 25 mil vagas, conforme dados divulgados na quarta-feira (28) pelo Ministério da Economia. Os números mostram que o setor reduziu o ritmo de suas contratações e aumentou o de demissões. Esse resultado é justificado pela redução do nível de atividades do setor e é mais um reflexo do desabastecimento e da alta nos preços dos insumos.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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