Entre 2012 e 2020, o rendimento do servidor público com carteira assinada cresceu 20,4%, enquanto que para o trabalhador do setor privado o incremento foi de 7,1%, percentual quase três vezes menor. Entre os militares e servidores estatutários (concurso público), a evolução salarial no período foi de 13,1%.
Os dados são da consultoria IDados, com base em números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. O estudo leva em conta toda a série histórica disponível — do primeiro trimestre de 2012 ao quatro trimestre de 2020. Pesquisador da consultoria, Bruno Ottoni aponta que, desde o início da série histórica, é possível identificar uma vantagem acentuada no setor público.
No primeiro trimestre de 2012, a renda real no setor público já era 56,9% maior que a do setor privado. O salário médio mensal habitual no setor público era R$ 3.437, enquanto na iniciativa privada era de R$ 2.190. No quarto trimestre do ano passado, a diferença subiu para 76,4%. Entre a renda do militar e estatuário e a do trabalhador privado, a disparidade é ainda maior: 91,1%.
Segundo Bruno Ottoni, inicialmente, acreditava-se que as diferenças salariais seriam mais evidentes nos períodos de crise. Mas foi precisamente no intervalo entre os dois baques econômicos (entre 2014/2016 e o momento atual) que as discrepâncias se acentuaram. “Talvez seja uma questão de que, durante as crises, o aumento no setor público fica represado e depois os funcionários querem compensar o fato de não terem tido aumento”, suspeita o especialista.
Ottoni sublinha que, ao longo do tempo, os trabalhadores do setor público têm mecanismos que facilitam a manutenção da renda, como progressão de carreira garantida e correções feitas com base em índices – benefícios que não se repetem no setor privado.
Gasto público
Especialista em contas públicas e secretário-geral da Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco aponta que a despesa com pessoal tem um valor relevante na administração pública, sendo uma das maiores no orçamento. O que pesquisas mostram, conforme pontuado por Castello Branco, é que esse gasto no Brasil é maior do que em outros países — e não se trata de uma questão de quantidade de servidores, mas, sim, de um salário médio maior.
“Esse é o problema. O gasto público fica mais elevado”, ressalta. Um estudo do Banco Mundial divulgado em 2019 apontou que, no Brasil, a diferença entre os salários no setor público federal e privado é a maior dentre 53 países comparados pelo banco.
O consultor econômico Raul Velloso, por sua vez, avalia que é preciso ter cuidado na análise. “As condições de cada função são muito diferentes. É muito difícil tornar comparáveis”, afirma.