ECONOMIA

Beneficiários contam com a esperança de ter o novo auxílio aprovado

Ministério da Cidadania autoriza o pagamento do auxílio emergencial para 236 mil pessoas, após a revisão de cadastro. Governo admite que ainda analisa informações de brasileiros elegíveis para receber o benefício e deve divulgar resultado "nos próximos dias"

A manicure Ravena de Oliveira, 21 anos, é uma das muitas brasileiras que está sem dinheiro para pagar as contas. Desempregada, ela não consegue trabalho por causa da covid-19. No ano passado, recebeu o auxílio emergencial. Mas, desta vez, a jovem não está certa de que contará com o benefício. “Meu cadastro ainda aparece como em análise. Quando consultei, duas semanas atrás, ele estava aprovado; mas, logo depois de uns dias, voltou para análise. Acredito que tenha sido algum erro”, contou a manicure, que mora em São João dos Patos, no interior do Maranhão. Ravena diz que foi a uma agência da Caixa Econômica Federal diversas vezes para tentar resolver o problema, mas continua sem ter um esclarecimento.

De acordo com o movimento Renda Básica que Queremos, 4,5 milhões de brasileiros ficaram nessa situação na semana passada, quando o governo liberou a lista das 40,4 milhões de pessoas que já foram aprovadas para receber o novo auxílio e deu início aos pagamentos do benefício. Diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, Paola Carvalho conta que a maior parte dessas pessoas continua com o cadastro em processamento, apesar de, ontem, o governo ter liberado mais um grupo de 236 mil cadastros aprovados para receber o auxílio emergencial.

Procurado, o Ministério da Cidadania admitiu que ainda há cadastros em análise. A pasta esclareceu que essa checagem ocorre quando é preciso reavaliar os dados apresentados no ano passado pelos brasileiros que pediram o auxílio emergencial, com base em informações mais recentes do governo, a fim de verificar se essas pessoas ainda se encaixam nas regras do auxílio. A pasta, no entanto, não informou quantos possíveis beneficiários estão passando por essa reavaliação.

“O governo federal ainda trabalha no processamento de informações de cidadãos elegíveis ao Auxílio Emergencial 2021. O resultado da análise dos requerimentos que estão com o status 'em processamento' será divulgado nos próximos dias. Esses lotes estão sendo reprocessados, ou seja, sendo reavaliados considerando as informações mais recentes disponíveis nas bases de dados governamentais, conforme determina a legislação que disciplina o pagamento do benefício", informou o ministério.

Nos próximos dias, o governo ainda deve liberar a lista dos beneficiários do Bolsa Família que terão direito a receber o auxílio emergencial, no lugar do benefício, entre abril e julho. Neste caso, o auxílio será pago automaticamente sempre que for mais vantajoso que o Bolsa Família e os pagamentos ocorrem no calendário habitual do programa, que, neste mês, começa na sexta-feira para os beneficiários cujo NIS termina em 1.

Novos beneficiários

O Ministério da Cidadania indicou, no entanto, que esse reprocessamento de dados já começa a dar resultados. É que mais 236 mil pessoas foram consideradas elegíveis para receber o novo auxílio emergencial no fim de semana. São pessoas que também tiveram problemas na primeira análise cadastral e passaram pela reavaliação para que o governo tivesse certeza de que estão aptas ao benefício. “Após reprocessamento de dados, elas foram consideradas aptas a receber o benefício do governo federal”, informou a pasta, em nota.

De acordo com o ministério, esses brasileiros já podem consultar seus dados no site do auxílio e receberão o benefício nos próximos dias. "Desse universo de novos elegíveis, os nascidos entre janeiro e maio receberão a primeira das quatro parcelas na próxima quinta-feira (15.04). Os que nasceram depois de maio entram no calendário normal de repasses", detalhou a Cidadania.

O calendário de pagamentos da primeira parcela do novo auxílio emergencial segue até o dia 30 deste mês, de acordo com o mês de aniversário do cidadão. Hoje, por exemplo, o recurso será pago aos beneficiários nascidos em abril. De acordo com a Cidadania, 2,38 milhões de famílias vão receber as parcelas de R$ 150, R$ 250 ou R$ 375 do novo auxílio hoje, o que representa um desembolso total de R$ 492,87 milhões. Outros sete milhões de brasileiros, nascidos em janeiro, fevereiro e março, já receberam o auxílio nos últimos sete dias, no total de R$ 1,45 bilhão.

Os pagamentos ocorrem sempre de forma digital, pelo aplicativo Caixa Tem, pois os saques da primeira parcela do novo auxílio emergencial só serão liberados no próximo mês. M uitos brasileiros, no entanto, têm reclamado de problemas no acesso ao aplicativo. O estudante Bryan Alves, de 24 anos, por exemplo, teve o acesso ao Caixa Tem bloqueado depois que trocou o celular e, por isso, não está conseguindo usar o auxílio emergencial.

Segundo a Caixa, em casos como o do estudante, é preciso ir a uma agência bancária para desbloquear o aplicativo. O banco alegou que, “para segurança do próprio usuário, o aplicativo Caixa Tem aceita apenas o cadastro de uma conta por número de celular (chip) e até duas por dispositivo”.

Pessimismo no mercado

Diante do agravamento da pandemia de covid-19, da alta da inflação e da indefinição do Orçamento, o mercado financeiro piorou as expectativas para os principais indicadores econômicos brasileiros. Segundo o Boletim Focus, o mercado já espera, por exemplo, a inflação batendo 4,85% e a taxa básica de juros (Selic) subindo a 5,25% até o fim do ano.

No Boletim Focus desta semana, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), os economistas do mercado financeiro elevaram de 4,81% para 4,85% a expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2021. A revisão reflete a preocupação com a alta da inflação, que vem sendo pressionada pelo aumento dos combustíveis e do dólar.

Por conta dessas altas, o mercado financeiro também revisou para cima a projeção da taxa básica de juros. Agora, a expectativa é que a Selic chegue a 5,25% e não a 5% até o fim do ano. A Selic subiu de 2% para 2,75% no mês passado por conta da pressão dos preços. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC já indicou que a taxa básica de juros deve sofrer outra alta de 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom, em maio.

A diretoria do BC, no entanto, tem lembrado que o cenário básico do Copom pode mudar e que riscos fiscais podem intensificar a alta dos juros. Ontem, por exemplo, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, voltou a defender a responsabilidade fiscal. “Chegamos a um momento do enfrentamento à pandemia em que é preciso passar a mensagem de austeridade fiscal, de seriedade fiscal”, afirmou Campos Neto, na Conferência Iberoamericana de Bancos Centrais, promovida pelo Banco da Espanha.

Alguns economistas projetam uma subida mais forte da Selic. O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, acredita que a taxa básica de juros vai subir para 3,75% na próxima reunião do Copom.