A inflação parece não dar trégua. Apesar de apresentar desaceleração em abril na comparação com março, corrói o poder de compra do brasileiro. Em abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, registrou alta de 0,31%, após avançar 0,93% no mês anterior, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
No acumulado em 12 meses, o IPCA registrou alta de 6,76% até o mês passado — maior patamar desde novembro de 2016, quando o IPCA registrou elevação de 6,99% na mesma base de comparação. Esse resultado supera a meta de inflação prevista para este ano, de 5,25%, e que precisa ser perseguida pelo Banco Central. No ano, a taxa acumulada ficou em 2,37%.
A alta do IPCA de abril foi impulsionada, em grande parte, pelo reajuste de 10,08% no preço dos medicamentos autorizado em 1º de abril. Frutas, gasolina e etanol contribuíram negativamente no indicador. O dado do mês passado reverteu a queda de 0,31% no mesmo intervalo de 2020, mas ficou levemente acima da mediana das estimativas do mercado, de 0,29%.
Analistas acreditam que, em maio, a inflação deverá ser bem maior. André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV), por exemplo, prevê alta de 0,80% no IPCA deste mês, apesar de não prever aumento de demanda devido à pandemia. “As pressões inflacionárias devem aumentar em maio devido à mudança da tarifa de energia para a bandeira vermelha e por conta dos preços das commodities, que continuam elevados e devem ajudar a encarecer os alimentos, como no ano passado”, alerta Braz.
Ele demonstra preocupação com o fato de a inflação estar disseminada, o que poderá fazer com que a alta do custo de vida não seja tão temporária, como o governo vem prevendo. Ele estima que o IPCA deverá encerrar o mês em 8% no acumulado em 12 meses. Já a projeção para o indicador no fim do ano, de 5,80%, está acima da mediana do mercado, de 5,06%.
A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, também prevê um IPCA mais forte em maio e pretende revisar “para cima” a estimativa de 4,3% para a inflação deste ano. Ela lembra que, além da incorporação da bandeira vermelha na energia elétrica, o reajuste de 39% do gás natural “deve ser outro fator de pressão altista sobre a inflação de maio”.
Conforme os dados do IBGE, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta de preços em abril. O maior impacto, de 0,16 ponto percentual, e a maior variação, de 1,19%, vieram do setor de saúde e cuidados pessoais. Nesse segmento, os produtos farmacêuticos tiveram alta de 2,69%, contribuindo por 0,09 ponto percentual no índice geral.
A segunda maior contribuição para a alta do IPCA de abril, de 0,09 ponto percentual, veio do grupo de alimentação e bebidas, com alta de 0,40%. Entre os alimentos com maior aumento de preços, o destaque ficou com as carnes, com alta de 1,01% no mês e aumento acumulado de 35,03% em 12 meses.
Vale lembrar que a alta da inflação em patamares elevados como o atual corrói investimentos de renda fixa. A poupança, por exemplo, acumula perdas de 4,80% no acumulado em 12 meses até abril, já descontado o IPCA, conforme dados da Economática. Os fundos indexados ao CDI acumulam perdas de 4,32% na mesma base de comparação. (Colaborou Alexia Oliveira)
Ata do Copom: Selic subirá em 2 etapas
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reforçou, em ata divulgada ontem, que mantém o ritmo de alta da taxa básica da economia (Selic) em duas etapas. Na última reunião, realizada nos dias 4 e 5 de maio, o Copom elevou a taxa Selic de 2,75% para 3,50% ao ano e sinalizou nova alta de 0,75 ponto percentual na reunião de junho, o que elevará os juros para 4,25% anuais. A ata do Copom observou, ainda, que elevações de juros sem interrupção até o patamar considerado neutro implicam “projeções consideravelmente abaixo da meta de inflação no horizonte relevante”, ou seja, para 2022 e 2023.
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