CONJUNTURA

Com março melhor, pessimismo do mercado com a atividade econômica diminui

Analistas do mercado melhoram ligeiramente as projeções para o desempenho da economia brasileira neste ano, mesmo com a continuidade da pandemia. A maioria, entretanto, ainda mantém a cautela com a possibilidade de uma retomada mais forte

Rosana Hessel
postado em 15/05/2021 07:00 / atualizado em 16/05/2021 12:08
 (crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)
(crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)

O pessimismo do mercado sobre a evolução da economia diminuiu, após indicadores de março mostrarem resultados melhores do que o esperado, principalmente, dados do comércio e da indústria. Depois de uma onda de revisões para baixo nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2021, quando o país tinha média diária acima de 4 mil mortes por covid-19, as estimativas, agora, estão com viés de alta. Algumas apostas já passaram para 4% para o ano e descartam queda do PIB no primeiro trimestre.

Esse percentual é levemente superior ao carregamento estatístico herdado do PIB de 2020, de 3,6%. Isso significa que boa parte do crescimento será inercial, visto que o setor de serviços, que representa a maior parte do PIB, não conseguiu recuperar o patamar pré-crise e depende de um avanço maior na vacinação para apresentar resultados melhores.

De acordo com especialistas ouvidos pelo Correio, apesar de ser mais devastadora em número de contágios e de mortes, a segunda onda da pandemia teve um impacto diferente na economia, mesmo com as medidas restritivas adotadas pelos estados.

“O mundo meio que aprendeu a rodar com a pandemia e os dados de mobilidade já se recuperaram”, destacou o ex-diretor do Banco Central Tony Volpon, estrategista-chefe da gestora WHG, uma das mais otimistas do mercado, prevendo alta de 4,4% do PIB neste ano. “Por enquanto, vamos manter as projeções”, disse.

 

mercado pessimismo pandemia
mercado pessimismo pandemia (foto: cb/d.a press )


Na avaliação de Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, a nova onda de revisões para o PIB mostra que o mercado está menos pessimista com a segunda onda da pandemia e que diminuíram as preocupações de que o fim do auxílio emergencial pode atrapalhar o processo de recuperação. “O mercado tirou o excesso de pessimismo, mas não é que ele está otimista. Há um consenso de que a economia vai andar, mas não vai decolar, porque o carregamento estatístico do PIB de 2020 é elevado, de 3,6%”, explicou. Padovani revisou a projeção para o PIB de 2021 de 4% para 3,5%, que não deve sofrer alteração, por enquanto.

De acordo com os analistas, indústria e comércio mostraram a resiliência das empresas que, inclusive, ficaram mais produtivas, porque estão conseguindo produzir mais com menos funcionários. Além disso, o mercado externo está favorável, o que ajuda a melhorar as previsões. Os países desenvolvidos estão impulsionando o PIB global e, consequentemente, os preços das commodities, o que ajuda países exportadores desses produtos, como o Brasil.

“Embora o Brasil ainda esteja atrasado na vacinação, ele pode ser ajudado pelo crescimento global”, afirmou o economista Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do BNP Paribas. O banco francês está revendo as projeções. Ele foi um dos mais pessimistas no caso do Brasil, prevendo crescimento de 2,5% neste ano, mas está com viés de alta.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, acaba de elevar de 2,6% para 3,2% a estimativa de expansão da economia, mas vê com cautela projeções acima de 4% para o PIB deste ano. “Esses números são apenas a saída do fundo do poço do ano passado. Não tem a ver com sustentabilidade. Os riscos fiscais persistem, e o país tem baixas taxas de poupança e de investimento, que impedem a retomada de forma sustentada”, afirmou. Para 2022, ele prevê avanço de apenas 1,8%.

O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, disse que deve elevar a projeção atual de crescimento do PIB, de 3,3% no fim do mês, mas também demonstra cautela. “O principal risco é o recrudescimento da pandemia, seja por atraso na vacinação ou novas variantes. Mas mesmo esse risco parece pequeno, pois o aprendizado da segunda onda mostrou que a economia é resiliente. Empresas e famílias parecem ter aprendido a conviver com as restrições à mobilidade”, analisou.

O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) também está revisando para cima a taxa do PIB de 2021, de acordo com a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro. Para ela, o processo de retomada mais robusta ainda dependerá do sucesso da vacinação, que é fundamental para a recuperação do setor de serviços. “Há um um otimismo no mercado externo, mas o cenário interno ainda é muito incerto, e, no caso de serviços, cada segmento está reagindo de uma maneira e o que mais pesa, o de serviços prestados a outras famílias, ainda precisa crescer 44% para recuperar o patamar de fevereiro de 2020”, explicou.

Mesmo com todas as incertezas sobre o processo de vacinação, Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da RPS Capital, que acaba de elevar de 3,2% para 4,1% a projeção do PIB deste ano, demonstra otimismo para um salto na imunização no segundo semestre. Ele aposta que a oferta de vacinas vai aumentar, porque os países desenvolvidos já terão imunizar toda a população. “Essa menor demanda por vacina nas economias avançadas vai liberar a oferta para outros países, abrindo a possibilidade de antecipação da entrega ou evitando novos atrasos em contratos já assinados”, afirmou.

Já para 2022, a maioria das projeções para o crescimento do PIB ainda é modesta, e algumas não chegam a 2%, porque, segundo analistas, ainda há muitas incertezas, especialmente, por se tratar de um ano eleitoral. O principal alerta é para a inflação, deverá dar sinais de resiliência maior do que o atualmente previsto no próximo ano, podendo atrapalhar o processo de recuperação.

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