Levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que, em uma década, houve encolhimento da participação das regiões Sul e Sudeste no Produto Interno Bruto (PIB) industrial, e, consequentemente, aumento na fatia das demais áreas geográficas do país. No entanto, conforme os dados da pesquisa, mesmo com esse movimento de descentralização, cerca de 80% da produção industrial nacional estão concentrados no Sul e no Sudeste do Brasil.
“A industrialização está mais diversificada, em termos regionais. E São Paulo e o Sudeste perderam participação por conta do crescimento da indústria nas outras regiões, principalmente no Nordeste”, destaca o economista-chefe da CNI, Renato da Fonseca, em entrevista ao Correio, comentando os dados da pesquisa, divulgada hoje.
De acordo com o estudo, o estado de São Paulo, por exemplo, perdeu 5,5 pontos percentuais de participação na produção manufatureira do Brasil — a maior queda entre as 27 unidades federativas —, passando de 50,3% para 32,2% no período. O Rio Janeiro recuou 1,1 ponto percentual, o segundo pior desempenho na pesquisa que compara os biênios 2007-2008 e 2017-2018.
A pesquisa mostra que a industrialização mais regionalizada foi impulsionada, em grande parte, pela agroindústria, devido ao processamento de grãos e proteínas, no Norte, no Nordeste e no Centro Oeste, “onde o avanço da indústria de papel e celulose também apresentou destaque”. Mato Grosso do Sul, por exemplo, apresentou maior desenvolvimento, saiu do 14º lugar no ranking, com 0,23% da produção nacional, para a 3ª posição, com 11% da produção nacional de celulose e papel.
São Paulo, por sua vez, continua sendo o principal produtor de veículos automotores, responsável por 52% da produção nacional do setor na década analisada. O estado de Santa Catarina ultrapassou São Paulo no setor de vestuário e acessórios, tornando-se a maior unidade federativa produtora do Brasil nesse segmento, com 26,8% da produção nacional.
Participação relevante
Apesar do encolhimento da participação na formação de riqueza do Brasil nos últimos anos, a indústria brasileira tem um peso importante no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, três vezes superior à agropecuária, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entre 2000 e 2020, a fatia da indústria no PIB passou de 26,7% para 20,4%. Já a fatia da agropecuária passou de 5,5% para 6,8%. O setor de serviços, que é o que mais emprega no país, passou de 67,7%%, em 2000, para 72,8%, em 2020 —, percentual levemente abaixo dos 73,5% de 2019. Vale lembrar, no entanto, que os melhores salários não estão na indústria, considerada fundamental para a riqueza de um país.
Fonseca reconhece que essa perda de espaço da indústria no PIB ao longo dos anos, no entanto, é, em grande parte, justificada pelas duas recessões que o país atravessou na última década, de 2014 a 2016, e a de 2020. “Essa mudança tem relação com as duas recessões, mas é bom lembrar que, embora seja um setor importante para o PIB, a agricultura não consegue puxar sozinha o país”, alerta.
O economista lembra que, entre 2010 e 2020, a indústria da transformação encolheu, em média, 1,6% por ano, enquanto o PIB apresentou um crescimento extremamente baixo no mesmo período, de apenas 0,3% ao ano, na média, apesar de a agricultura crescer 3% na mesma base de comparação. “Isso mostra que a indústria é importante para a melhora da renda do país”, frisa.
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