CRISE

Consumo de carne é o mais baixo desde 1996, diz Ministério da Agricultura

Apesar do auxílio emergencial, cerca de 40% da população deixou de consumir algum tipo de produto durante a pandemia, inclusive itens essenciais, como alimentos

Gabriela Chabalgoity*
Alexia Oliveira*
postado em 25/05/2021 06:00
 (crédito: Gabriela Chabalgoity/CB/D.A Press)
(crédito: Gabriela Chabalgoity/CB/D.A Press)

Cerca de 40% da população brasileira deu adeus a algum tipo de gasto ou despesa durante a pandemia da covid-19, a despeito das medidas adotadas pelo governo para atenuar a crise, como o auxílio emergencial. A informação é do estudo “Os Brasileiros, a Pandemia e o Consumo”, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Instituto FSB Pesquisa. O trabalho também revelou que, a cada 10 pessoas ouvidas, sete alteraram a dinâmica dos gastos em casa.

É o que aconteceu na rotina da dona de casa Rosa Pereira da Silva, 31 anos. “O valor do auxílio atual não é suficiente para suprir as necessidades da minha família”, diz ela. “Os alimentos estão muito caros. Frutas, carnes e coisas específicas que meus filhos gostam, hoje, consideramos luxo. Preciso gastar com arroz, feijão, óleo. O arroz (pacote) está R$ 25 e eu já comprei por R$ 12. O óleo que era R$ 3, hoje eu pago R$ 9”, queixa-se.

Além da alta de preços, o consumo das famílias foi afetado fortemente pela queda na renda provocada pelo desemprego. De acordo com o Ministério da Agricultura, na pandemia, o consumo de carne caiu ao menor nível em 25 anos. Nos primeiros quatro meses de 2021, o consumo per capita caiu mais de 4% em relação a 2020, segundo os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em comparação com 2019, ano anterior à pandemia, a retração foi de 14%. A estimativa de consumo para carne bovina de cada brasileiro é de 26,4 kg por ano.

Agravante

A pandemia da covid-19 veio para exacerbar os efeitos da crise econômica que já fazia parte da rotina dos brasileiros, principalmente daqueles que são desassistidos pelo governo, como explica o economista William Baghdassarian, professor de economia do Ibmec Brasília. “A pandemia foi um agravante da crise de desequilíbrio fiscal que estávamos vivendo. O país gasta mais do que arrecada e, além disso, gasta mal”, afirmou.

O economista compara a situação do país diante da pandemia à de uma família em que os membros já estão endividados quando uma pessoa adoece. “A partir disso, não existe mais limite, todos vão fazer de tudo pra ajudar a pessoa, se endividar ainda mais, entrar em cheque especial para poder resolver aquela situação”, disse. “É o que aconteceu com os países, mas, no caso brasileiro, o buraco já estava aberto.”

“O auxílio foi um gasto para reaquecer a economia, criado em um contexto de evitar uma degeneração das condições de vida das pessoas. O valor inicial era de R$ 600, pouco para garantir condições dignas de vida, mas muito para a União”, explicou Baghdassarian.

Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), destaca os principais fatores que levaram à alta dos preços dos produtos do mercado. “Deve-se considerar a desvalorização do real e o movimento inicial na primeira fase da pandemia, caracterizado pela corrida da população aos os supermercados. Houve um aumento na demanda, naquela época, por conta da expectativa de que faltariam produtos. Com isso, os índices inflacionários subiram”, citou.

Sem dinheiro suficiente, em busca de reverter a situação, a população optou por cortar gastos e retirar alguns produtos do carrinho, até mesmo os itens básicos na lista de compras. “Está muito difícil. Com esse valor do auxílio emergencial, tenho que fazer bicos para dar conta”, reclama o autônomo Alexandre Lima, 36 anos, residente em São Luís (MA). Ele reside com o filho de quatro anos e a esposa, de 32. Desempregado, ele usa o auxílio emergencial há sete meses. Antes, morava em Brasília, mas teve que se mudar em busca de novas oportunidades.

* Estagiárias sob supervisão de Odail Figueiredo

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  • Preço da carne perde força, mas no ano já acumula elevação de 13,87%
    Preço da carne perde força, mas no ano já acumula elevação de 13,87% Foto: Antonio Cunha/CB/D.A Press - 15/7/14
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    Açougues já registram alta superior à média dos índices, e as remarcações vão se intensificar Foto: Rodrigo Nunes/CB/D.A. Press

Material caro esfria construção

 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 6/4/21)
crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 6/4/21

A alta nos preços dos materiais de construção fez a oferta de imóveis novos cair 14,8% nos três primeiros meses deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. Apesar de um aumento recorde de 27,1% nas vendas de imóveis residenciais, a expansão do número de lançamentos foi bastante tímida, de apenas 3,7%, de acordo com um balanço divulgado ontem pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic).

Segundo a entidade, o número de imóveis lançados no país no primeiro trimestre de 2021 foi 58% menor quando comparado com o 4º trimestre de 2020. Enquanto isso, as vendas tiveram uma queda de 12,4% na comparação com o mesmo período. Na avaliação da Cbic, os dados mostram que a queda nos lançamentos não se deu em virtude da ausência de compradores, que têm sido encorajados pela redução das taxas de juros dos financiamentos imobiliários, mas pela insegurança dos empresários, desestimulados pelos aumentos nos insumos.

“O ano de 2021 tinha todas as características para ser um dos melhores de todos os tempos para o setor da construção. Mas aconteceu um fato, que foram os aumentos absurdos em termos de insumos”, afirmou o presidente da Cbic, José Carlos Martins. “As incertezas geraram redução na oferta dos produtos.” O Índice Nacional de Custos da Construção (INCC) acumulou alta de 12,99% nos últimos 12 meses encerrados em abril — o pico desde o Plano Real. O custo com material se destacou no período, com expansão de quase 30%.

Conforme sondagem realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o apoio da Cbic, a falta ou o alto custo de matérias-primas impactou a atividade de cerca de 57,1% das empresas do setor. No ano anterior, no mesmo período, o problema foi apontado por apenas 8,1% dos empresários.

A queda dos lançamentos no 1º trimestre, em relação aos três últimos meses de 2020, ocorreu em todas as regiões. A maior retração foi observada na região Norte, onde o número de lançamentos diminuiu 72%, seguida pelo Sudeste, onde houve queda de 67,9% nas unidades lançadas.

Na comparação com o 1º trimestre de 2020, porém, os lançamentos de imóveis (28.258 unidades) nos primeiros três meses de 2021 aumentaram 3,7%. Houve redução no número de unidades lançadas nas regiões Norte (-55,6%) e Sul (-20,7%) e aumento nas demais regiões. O maior crescimento foi observado na região Sudeste (3.004 unidades), com 28,1% mais lançamentos que no trimestre inicial de 2020.

* Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

 

BC: inflação surpreende

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu ontem que houve “surpresas altistas” quanto ao comportamento da inflação, e que as expectativas do mercado para a alta do custo de vida subiram mais do que em outros países, o que levou a instituição a iniciar um novo ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic.

“Quando se olha a inflação dos alimentos, a gente vê que a alta aconteceu em todos os países. Por isso, o Brasil foi o que cresceu primeiro (os juros), porque teve o fator adicional da desvalorização da moeda e teve uma desorganização interna um pouco maior”, disse Campos Neto, durante evento on-line da gestora de Private Equity eB Capital.

Por outro lado, ele avaliou que o BC vai elevar a projeção de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, já que o desempenho da atividade econômica , no primeiro trimestre, também trouxe surpresas e mudou favoravelmente as expectativas dos analistas.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou para cima a previsão para a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para 2021, a projeção para o índice, que é apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), teve aumento de 4,6% para 5,3%. A piora foi puxada pela pressão maior nos preços de bens e serviços monitorados pelo governo, como combustíveis e energia elétrica. O Ipea reviu sua expectativa de alta média desses itens de 6,4% para 8,4% em 2021.

A previsão de aumento nos preços dos alimentos no domicílio em 2021 foi mantida em 5%. “Contudo, as projeções indicam recuo na inflação de 12 meses no segundo semestre, uma vez que, nos primeiros meses da pandemia, em 2020, houve deflação (tornando a base de comparação baixa) e, no segundo semestre, a significativa aceleração inflacionária aumentou a base de comparação”, lembrou o Ipea na Carta de Conjuntura divulgada ontem.

A expectativa do Ipea se aproximou, assim, da projeção do mercado. De acordo com o Boletim Focus, uma pesquisa semanal em que o Banco Central coleta projeções de um grupo selecionado de instituições financeiras, a previsão dos analistas para o IPCA em 2021 subiu de 5,15% para 5,24%, apenas 0,01 ponto percentual abaixo do teto do teto definido pelo Conselho Monetário Nacional. A meta é de 3,75%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

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