CONJUNTURA

Projeções para o PIB apontam aumento, mas crescimento ainda é fraco

PIB do primeiro trimestre, a ser divulgado amanhã, deve mostrar aumento de 0,2% a 2,12%, na comparação com os três meses anteriores, mas país continua apresentando evolução menor do que o resto do mundo

Rosana Hessel
postado em 31/05/2021 06:00
 (crédito: Sergio Lima / AFP)
(crédito: Sergio Lima / AFP)

As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que será divulgado nesta terça-feira (1°/6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), antes negativas em meio à segunda onda da covid-19, passaram a prever crescimento de 0,2% a 2,12% na margem, ou seja, na comparação com os três meses imediatamente anteriores.

As revisões para cima foram intensificadas após dados melhores do que o esperado, mas analistas reconhecem que os indicadores de confiança, tanto do consumidor quanto do empresário, ainda são baixos, devido, principalmente, ao desemprego recorde e às incertezas sobre o processo de vacinação.

As novas estimativas, apesar de mais otimistas, continuam apontando desaceleração na economia brasileira desde o último trimestre de 2020, se compararmos a evolução das taxas trimestrais (leia na página 7). Além disso, analistas ouvidos pelo Correio lembram que o Brasil continua apresentando crescimento menor do que o resto do mundo.

“O Brasil não consegue crescer devido aos problemas internos estruturais que nunca são resolvidos e, por isso, fica sempre abaixo da média global. Registra crescimento de país desenvolvido, mas ainda tem as necessidades de um país emergente”, resume Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, que preferiu manter em 3,3% a projeção para o avanço do PIB em 2021, mas tem a estimativa mais otimista para o PIB do primeiro trimestre, de 2,12%. A previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o crescimento da economia global neste ano é de 5,8%.

Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais (NCN) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), reforça a necessidade de vacinação para garantir a melhora no mercado de trabalho, que registra taxa de desemprego recorde, de 14,7%. Sem que mais de 70% da população seja vacinada, ressalta, “não será possível assegurar uma retomada mais robusta da economia”.

Para o especialista, inclusive, a economia não está se recuperando em V (que implica crescimento rápido acima do potencial), como o ministro da Economia, Paulo Guedes, insiste em afirmar em suas declarações. Ele explica que, mesmo se crescer 4% neste ano, descontando o carregamento estatístico, o PIB não vai recuperar a queda de 4,1% de 2020.

Potencial limitado


Agostini destaca que o país cresce pouco porque o potencial do PIB é limitado, e, assim, a população fica condenada a ter uma renda média baixa. Esse cenário é decorrente da falta de reformas estruturais amplas capazes de melhorar a realidade do país. “O Brasil tem uma carga tributária de economia desenvolvida, mas o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de país subdesenvolvido, e já vinha piorando antes da pandemia.”, lamenta.

“A parte tributária ainda é muito complexa e afugenta o investidor. E há o problema fiscal, que vem impactando fortemente no câmbio mais valorizado. O governo vem registrando deficit primário desde 2014, mas nunca teve um superavit grande que permitisse investimentos robustos em infraestrutura de forma estratégica, a fim de reduzir a dependência do modal rodoviário”, diz.

Na opinião dos analistas, o cenário das eleições de 2022 aponta para uma disputa das candidaturas do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que a vacinação poderá controlar a pandemia, mas o risco fiscal será maior, com a dívida pública bruta devendo ultrapassar 90% do PIB. “Os partidos de centro estão tentando se unir em torno de um terceiro nome para quebrar essa disputa polarizada, mas as chances de sucesso são mínimas”, destaca Christopher Garman, diretor para a América Latina da consultoria norte-americana Eurasia Group.

Ele reconhece que, com a economia crescendo 4% a 5%, e acima de 3% no ano que vem, Bolsonaro pode sair fortalecido nessa disputa, uma vez que a CPI da Covid, no Senado, não deverá atrapalhar esse processo.

Luis Otavio Souza Leal, que prevê crescimento de 4% no PIB deste ano, destaca que esse cenário econômico mais favorável para Bolsonaro pode ser factível, “mas vai depender muito das condições externas e do grau de estresse com as eleições”. De acordo com ele, considerando o carregamento estatístico de 3,6% do PIB de 2020 no PIB deste ano, é possível dizer que o crescimento de 2022 poderá ser maior do que o deste ano, o que poderá ajudar a reeleição do chefe do Executivo. “A partir da perspectiva atual, podemos chegar a três conclusões básicas. A primeira é que Bolsonaro é, sim, um candidato competitivo para 2022. Se vai chegar como favorito, isso vai depender do desempenho econômico no ano que vem”, ressalta. “A segunda é que não parece haver apetite do eleitorado por uma terceira via. As duas primeiras nos levam à conclusão de que teremos uma eleição polarizada”, resume.

Analistas ainda lembram que, apesar de prejudicar a população mais pobre, a carestia mais forte neste primeiro semestre poderá ajudar Bolsonaro em 2022, porque a correção do teto de gastos ficará acima da inflação oficial do fim do ano que vai ajustar as despesas obrigatórias. O limite atual do teto, de R$ 1,485 trilhão, poderá ser ampliado em R$ 118,8 bilhões se o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrar junho em 8% no acumulado em 12 meses, dado previsto pelo economista André Braz, coordenador do Índice de Preços do FGV Ibre. Ele estima alta de 5,8% no IPCA no fim do ano. Logo, haverá uma folga no teto, em torno de R$ 40 bilhões, que Bolsonaro poderá aproveitar para gastar e pavimentar a reeleição. As apostas são de que ele vai partir para o populismo, criando uma nova espécie de auxílio emergencial.

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